Banco do Brasil e o impacto da inadimplência no agronegócio: o que esperar dos lucros em 2025

O Banco do Brasil (BBAS3), uma das maiores instituições financeiras do país, enfrenta um cenário de curto prazo desafiador, especialmente em razão da crescente inadimplência no setor agropecuário — uma de suas principais linhas de crédito. Com os investidores atentos ao desempenho da instituição, o mercado já começa a precificar os riscos, refletindo em queda no valor das ações e projeções mais conservadoras dos analistas.
Pressão do Agro: o fator crítico para o lucro do banco
No terceiro trimestre de 2024, o índice de inadimplência do Banco do Brasil subiu para 3,3%, puxado principalmente pela deterioração da carteira agro. Esse aumento acende um sinal de alerta, já que o agronegócio tem forte participação no portfólio da instituição. Analistas do Itaú BBA apontam que o risco de crédito permanece elevado, e a expectativa é de que essa pressão continue no curto prazo.
Além disso, o custo de crédito tende a permanecer alto, refletindo no resultado líquido da instituição. O portfólio renegociado, em crescimento em todos os segmentos, gera um efeito cascata: eleva as taxas de inadimplência e obriga o banco a realizar maiores provisões para perdas.
Outro ponto que contribui para o cenário de alerta é a adoção da norma contábil 4966, relacionada à provisão de perda esperada. Essa mudança deve pressionar ainda mais o custo de crédito do banco, exigindo maior robustez em capital para cobrir eventuais calotes.
Paralelamente, a margem financeira líquida para clientes vem diminuindo. Com a estabilidade nos custos de captação e o rendimento dos ativos em queda, a rentabilidade dessa linha de receita está sob pressão, principalmente em função do crescimento do portfólio renegociado.
Despesas em alta e investimentos em tecnologia
As despesas administrativas (SG&A) também entram na equação. Com os investimentos em tecnologia e digitalização, o Banco do Brasil projeta um aumento dessas despesas acima da inflação. Mesmo com a expectativa de crescimento de lucros de 4% ao ano, chegando a R$ 39,2 bilhões em 2025, a pressão sobre os custos operacionais tende a reduzir o fôlego do banco no curto prazo.
Ações Ainda Baratas, Mas Sem Gatilhos Imediatos De Valorização
Apesar dos múltiplos atrativos — 0,7x o Preço/Valor Patrimonial e 4x o Preço/Lucro projetado para 2025 —, o Itaú BBA mantém recomendação neutra para as ações do BBAS3. O motivo? A ausência de gatilhos claros para reprecificação positiva no curto prazo, diante das tendências negativas que ainda cercam os lucros do banco.
O dividend yield atrativo de 11% é um ponto positivo, mas não exclusivo do Banco do Brasil, já que outros players como BB Seguridade, B3 e Bradesco também apresentam rendimentos entre 8% e 10%.
Crescimento da carteira e projeções positivas para o longo prazo
Nem tudo são más notícias. O Banco do Brasil continua com desempenho sólido na expansão da carteira de crédito, com crescimento previsto de 10% ano contra ano — o mais resiliente entre os grandes bancos, segundo o Itaú BBA.
O BTG Pactual reforça essa perspectiva de recuperação. Apesar do lucro líquido acima das estimativas no 3T24, o mercado reagiu negativamente ao aumento da inadimplência. Contudo, a expectativa é que a situação se normalize apenas no segundo semestre de 2025.
Selic alta pode apoiar resultados em 2025
Um fator que pode ajudar o banco a retomar fôlego é a Selic elevada. A taxa básica de juros deve contribuir para o crescimento da margem financeira, que pode subir até 10% na comparação anual, acompanhando o avanço dos empréstimos. Esse movimento tende a sustentar a expansão do lucro líquido ao longo de 2025, mesmo diante dos desafios de curto prazo.