Consignado CLT: por que os grandes bancos ainda tem baixa participação?

O Crédito Consignado para Trabalhadores com Carteira Assinada (CLT) tem ganhado destaque no cenário financeiro brasileiro, especialmente após o lançamento do programa Crédito do Trabalhador. No entanto, os grandes bancos privados ainda têm uma participação tímida na modalidade. Neste artigo, analisamos as razões por trás dessa postura conservadora, os destaques no ranking de empréstimos e os impactos das taxas de juros na dinâmica do consignado CLT.
O que é o Consignado CLT e por que ele é relevante?
O consignado CLT é uma modalidade de empréstimo com desconto direto em folha de pagamento, voltado para trabalhadores do setor privado com carteira assinada. O modelo oferece menor risco de inadimplência para as instituições financeiras, pois conta com garantias como FGTS e multa rescisória.
Apesar dessas vantagens, a modalidade ainda enfrenta resistência dos chamados “bancões”, que têm preferido atuar com mais cautela. Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o total de empréstimos nessa modalidade já ultrapassa R$ 10,8 bilhões — mas a maior parte desse volume está concentrada em bancos públicos e fintechs.
Bancos privados ainda engatinhando no Crédito do Trabalhador
Entre os cinco maiores bancos privados do país, o Itaú Unibanco é o que mais concedeu crédito consignado CLT, com aproximadamente R$ 314,8 milhões. Em seguida, vêm Bradesco (R$ 11,3 milhões), BTG Pactual (R$ 10,9 milhões), Nubank (R$ 4,5 milhões) e Santander (R$ 2,5 milhões). Juntos, somam pouco mais de R$ 344 milhões — menos de 4% do total concedido até agora.
Em contraste, o Banco do Brasil lidera com folga, com quase R$ 3 bilhões em empréstimos, seguido pelas fintechs Parati CFI (R$ 1,6 bilhão) e Facta Financeira (R$ 1,2 bilhão).
Por que os grandes bancos estão fora do topo?
Especialistas apontam diversos fatores que explicam essa postura mais tímida dos grandes bancos:
- Alta da Selic: A taxa básica de juros está atualmente em 14,75% ao ano. Para os grandes bancos, investir em títulos públicos pode ser mais rentável e seguro do que conceder crédito ao consumidor final.
- Liquidez elevada: Os bancões têm capital suficiente para optar por aplicações menos arriscadas. Isso reduz o “apetite” por crédito de pequeno valor, como o consignado CLT.
- Baixa atratividade relativa: Embora o consignado CLT ofereça boas garantias, o retorno financeiro pode ser considerado modesto frente a outras opções disponíveis no mercado.
De acordo com Carlos Honorato, da FIA Business School, os grandes bancos já têm posições consolidadas no crédito à pessoa física e não veem necessidade de expandir agressivamente nessa nova frente.
Fintechs e bancos menores aproveitam a oportunidade
Enquanto os bancões seguem cautelosos, instituições menores e fintechs enxergam no consignado CLT uma oportunidade de ganhar market share. Com estruturas mais ágeis e foco em nichos, elas estão liderando os rankings da modalidade.
Para essas empresas, a segurança nas garantias e o potencial de expansão em um público subatendido tornam o produto atrativo. Como ressalta Robson Gonçalves, da FGV, “a atratividade é sempre relativa”.
O que dizem os bancos privados?
Apesar do desempenho modesto, Bradesco, Itaú e Santander negam desinteresse e afirmam que pretendem ampliar sua atuação no consignado CLT. Segundo os bancos, a operação plena só começou no final de abril de 2024, e ainda há ajustes a serem feitos nas plataformas internas.
- O Bradesco declarou que considera o crédito consignado privado uma excelente oportunidade de negócio.
- O Itaú apontou que está crescendo de forma sustentável e com disciplina na nova modalidade.
- O Santander destacou que a expansão será gradual e com foco em eficiência.
Já Nubank e BTG Pactual não se manifestaram diretamente, embora o BTG atue indiretamente por meio da fintech Pan, que está entre os líderes do setor.
Ranking atualizado das instituições no consignado CLT
Veja abaixo as 5 primeiras colocadas no ranking de concessões do consignado CLT:
Posição | Instituição | Valor Concedido |
---|---|---|
1º | Banco do Brasil | R$ 2,99 bilhões |
2º | Parati CFI | R$ 1,61 bilhão |
3º | Facta Financeira | R$ 1,25 bilhão |
4º | PicPay Bank | R$ 1,15 bilhão |
5º | Caixa Econômica Federal | R$ 1,03 bilhão |
A lista reforça a força de bancos públicos e fintechs na liderança da modalidade, contrastando com a performance mais contida dos gigantes privados.
Considerações finais
O consignado CLT representa uma alternativa importante para trabalhadores em busca de crédito com juros mais baixos e maior segurança. No entanto, a participação dos grandes bancos privados ainda é tímida — resultado de fatores como alta da Selic, perfil de risco e foco em operações mais rentáveis.
Enquanto isso, fintechs e instituições menores seguem ganhando terreno, aproveitando o momento para crescer e consolidar novas fatias do mercado.