Você embarcaria em um voo planejado pela sua equipe?

Imagine que sua operação de cobrança é um avião. Um equipamento complexo, com dezenas de sistemas conectados, tripulação em solo e a bordo, passageiros com expectativas altas e um destino bem definido: recuperar valores com eficiência e ainda proporcionar uma boa experiência ao cliente.
Agora reflita com sinceridade:
Você confiaria na sua equipe de planejamento para conduzir esse voo?
Se te chamassem para embarcar numa jornada de 12 horas, você afivelaria o cinto e relaxaria, certo de que o plano de voo está bem traçado, que a tripulação sabe o que está fazendo e que todos os riscos foram considerados? Ou se sentaria inquieto, torcendo para que nada saia do controle?
Essa é a provocação. Porque, em cobrança, o planejamento é o cockpit da operação. E não há voo bem-sucedido sem uma cabine técnica confiável, dados precisos no painel e decisões acertadas a cada evento.
O plano de voo da cobrança: papel do time de planejamento
Se a cobrança é a jornada, o planejamento é quem define a rota, o melhor horário para decolar, o nível ideal de altitude e até a quantidade de combustível. Traduzindo: é quem decide quando cobrar, por onde cobrar, com qual abordagem, intensidade e canal.
Mas diferente do glamour da aviação, na realidade de muitas empresas, esse time é visto apenas como “quem monta as réguas”, “quem cuida do discador”, “quem entende de Excel” ou o termo que mais ouvi: “área de apoio”.
E isso é um problema, que por sinal custa caro. Porque quando o cockpit não tem autonomia nem qualificação, o voo vira um risco.
Quem está no comando da sua cabine?
Uma equipe de planejamento de alta performance se parece com um time de pilotos e copilotos experientes. São pessoas que:
- Sabem ler o painel de dados com precisão (tomada de decisão eficiente);
- Entendem o impacto de cada decisão sobre o resultado e a experiência do passageiro (conhecem do negócio e o perfil das carteiras);
- Conseguem se antecipar a turbulências (inadimplência crescente, canais ineficazes, fluxos sobrecarregados);
- Fazem ajustes em tempo real sem perder o controle da aeronave (ação rápida e não no dia seguinte).
Esses profissionais têm perfil analítico, domínio técnico (BI, SQL, ferramentas de automação, jornada Omnicanal), pensamento estratégico e comunicação clara. Sabem conversar com operação, diretoria, tecnologia, jurídico e, principalmente, com o contratante. E o mais importante: sabem quando é hora de voar mais alto ou descer o trem de pouso.
O peso extra: cargos mal definidos e expectativas desalinhadas
Agora pense num avião que tenta decolar com carga além do limite recomendado. Pode até sair do chão, mas vai gastar mais combustível, ter dificuldades para manobrar e correr risco de queda.
É isso que acontece quando empresas criam vagas de analista com escopos de coordenador ou gerente. Ou ainda promovem profissionais apenas por medo de perdê-los ou porque é “bonzinho”, sem preparo técnico e experiência necessária para assumir o manche.
O que vemos por aí?
Vagas de “Analista Junior” que exigem visão estratégica, domínio de dados, gestão de projetos, visão de dono e influência com os interlocutores. Profissionais promovidos a cargos que demandam maior expertise porque são bons executores, mas que não conseguem guiar a aeronave na neblina (você já soube ou presenciou algo assim?).
Isso gera dois problemas sérios:
1. Profissionais preparados não se candidatam para vaga em questão, pois percebem o desequilíbrio e incoerência entre o cargo de fato e a descrição.
2. Profissionais ainda em formação assumem voos que não estão prontos para pilotar. No começo é desafiador, depois vira crise ansiedade e frustração.
Resultado: “juniorização” dos cargos e “sêniorização” das exigências.
Mesmo quando o avião decola, muitos não conseguem atingir a altitude de cruzeiro. Por quê?
- Porque falta trilha de crescimento clara;
- Porque o não há entendimento as competências técnicas e escopo da área;
- Porque o conhecimento se perde com a alta rotatividade;
- Porque a área de planejamento é vista como suporte, e não como central de comando.
Ou seja: a aeronave está no ar, mas sem plano de contingência, sem copiloto de reserva e com combustível contado. Basta uma frente fria no caminho, uma crise econômica, uma virada de perfil da carteira e o pouso pode ser forçado.
Preparando o voo certo: o que deve mudar?
Se você lidera, coordena ou apoia times de cobrança, precisa se perguntar:
- Quem está guiando a aeronave da sua operação? É o profissional adequado?
- O plano de voo foi construído com dados reais ou com suposições?
Veja alguns caminhos práticos para evitar turbulências:
1. Mapeie os cargos e defina entregas por nível: Analista Júnior, Pleno, Sênior, Especialista, Coordenação, cada função com escopo claro e coerente.
2. Crie uma trilha de desenvolvimento para o cockpit: capacitação técnica, visão de negócio, comunicação e gestão de crise.
3. Alinhe RH e liderança técnica: nada de fazer seleção por descrição genérica.
4. Valorize e empodere o time de planejamento: dê autonomia, ferramenta e voz. Planejamento não é quem “ajuda a operação”, é quem guia a operação. Sem contar a esteira digital.
5. Invista em tecnologia e testes controlados: modelos preditivos, automação, jornadas com IA, segmentação comportamental. Planejar é experimentar.
E então, você embarcaria nesse voo?
Se a resposta te incomoda, talvez esteja na hora de reavaliar o cockpit e investir de verdade e correto, porque no fim do dia, não é sobre decolar. É sobre chegar ao destino com segurança e eficiência.