Selic em 15% até 2026: o que isso significa para quem precisa de crédito

Com a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a Selic em 15% ao ano até 2026, o mercado de crédito entra em um período de alto custo e seletividade. Essa taxa, que serve como referência para todas as operações financeiras no Brasil, afeta diretamente empréstimos, financiamentos, limites de cartão, crédito pessoal e capital de giro para empresas.
O cenário exige cautela, planejamento e novas estratégias tanto para pessoas físicas quanto para empresas que precisam de crédito para manter seu consumo ou continuar investindo.
Por que a Selic influencia o crédito
A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira. Ela determina quanto custa o dinheiro para os bancos, que a utilizam como base para definir os juros cobrados dos clientes. Quanto mais alta a Selic, mais caro fica tomar dinheiro emprestado, seja no cartão de crédito, cheque especial, crédito pessoal ou financiamento.
Com os 15% ao ano confirmados pelo Banco Central, a tendência é que o crédito continue restrito e caro até pelo menos meados de 2026. O objetivo dessa política é conter a inflação, mas o efeito colateral é a redução da oferta de crédito e o encarecimento do consumo e do investimento.
Custo do crédito para o consumidor dispara
Em junho de 2025, o crédito livre para pessoas físicas já ultrapassava 58% ao ano em média, de acordo com o Banco Central. Isso inclui modalidades como cartão de crédito rotativo, cheque especial e empréstimo pessoal não consignado, que possuem os juros mais altos do mercado.
Além disso, o spread bancário – diferença entre o que o banco paga e o que cobra – se mantém elevado, acima de 30 pontos percentuais, mesmo com a demanda por crédito em queda. Isso ocorre porque as instituições financeiras estão mais conservadoras, cobrando caro para compensar o risco de inadimplência.
Crédito para empresas também fica mais difícil
Para as empresas, especialmente as de pequeno e médio porte, o cenário não é diferente. O crédito bancário está mais restrito, caro e exigente. As instituições priorizam companhias com histórico sólido, boas garantias reais e faturamento estável.
Muitas empresas estão migrando para o mercado de capitais em busca de alternativas como debêntures, FIDCs e notas comerciais, ou tentando acessar linhas especiais de crédito com juros subsidiados (como BNDES ou bancos regionais).
No entanto, com a Selic elevada, mesmo essas opções ficam mais limitadas, exigindo estruturação financeira e bom planejamento.
A inadimplência e o crédito seletivo
Outro fator que pressiona o mercado de crédito é a inadimplência elevada. Com mais de 35% da população com alguma restrição no CPF, segundo o SPC Brasil, os bancos adotam uma postura mais conservadora e seletiva. Os melhores perfis de crédito ainda conseguem negociar, mas quem tem score baixo ou dívidas em aberto encontra grande dificuldade para conseguir crédito novo.
Por isso, o foco do mercado hoje está em concessão com garantias reais e em prazos mais curtos, para reduzir o risco e preservar a saúde financeira das instituições.
Estratégias para acessar crédito com juros elevados
Mesmo com o crédito caro, há formas de minimizar o impacto dos juros altos e negociar melhores condições:
- Ofereça garantias reais: bens como imóveis e veículos podem reduzir as taxas de juros.
- Prefira modalidades mais baratas: como o crédito consignado ou empréstimos com garantia.
- Negocie prazos curtos: quanto menor o prazo, menor o efeito dos juros compostos.
- Consolide dívidas caras: trocar várias dívidas com juros altos por uma com juros menores pode ser uma solução.
- Melhore seu score: pague as contas em dia, limpe o nome e atualize seus dados nos birôs de crédito.
- Busque crédito consciente: avalie se realmente precisa do recurso, se conseguirá pagar e qual será o impacto no orçamento.
O que esperar até 2026
O cenário não deve mudar no curto prazo. O Banco Central sinalizou que só reduzirá os juros se houver uma queda consistente da inflação e um ambiente externo mais estável. Com os EUA adotando políticas econômicas restritivas e as incertezas globais aumentando, o Brasil precisa manter os juros altos para atrair capital e proteger sua moeda.
Para consumidores e empresários, o melhor caminho é se adaptar à nova realidade, buscar alternativas, controlar o endividamento e usar o crédito com responsabilidade. Um ciclo de juros elevados exige foco no planejamento financeiro e gestão inteligente das dívidas.