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Robocalls, golpes e fraudes: a verdade sobre as 10 bilhões de chamadas por mês feitas por robôs

Você já recebeu ligações que caem logo após atender? Cuidado: você pode ter sido vítima de uma robocall. Essas chamadas automáticas estão se tornando um problema grave no Brasil, com impactos que vão muito além do incômodo.

As robocalls, também conhecidas como “metralhadoras de chamadas”, vêm se tornando um grande problema no Brasil. Todos os meses, milhões de brasileiros são alvos dessas ligações automáticas, que podem ir de simples ofertas de telemarketing a tentativas de golpe. Neste artigo, vamos entender como essas chamadas funcionam, quais são os riscos envolvidos e o que está sendo feito para combater essa prática.

Robocalls são ligações realizadas por sistemas computadorizados que disparam chamadas em massa para números de telefone. Elas geralmente duram poucos segundos e, muitas vezes, o número que aparece na tela nem sequer existe. Se a pessoa atende, o sistema registra que aquele número está “ativo” — ou seja, é de uma pessoa real — e pode ser usado em estratégias de marketing ou até ações criminosas.

Segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o Brasil registra cerca de 20 bilhões de ligações automáticas por mês, sendo que metade delas é feita por robôs.

Fantástico expõe o mercado ilegal de robocalls

Em uma reportagem especial no últio domingo (27), o Fantástico mergulhou no submundo das robocalls. Para a investigação, jornalistas criaram uma empresa fictícia e procuraram fornecedores de serviços de ligações automáticas.

O que descobriram é alarmante:

  • Venda ilegal de bases de dados pessoais: Ofertas de listas contendo nomes, telefones, endereços e até e-mails de brasileiros, sem autorização.
  • Disfarce de DDD: A possibilidade de alterar o código de área (DDD) das chamadas, para dar a impressão de que a ligação é local e aumentar a taxa de resposta — prática ilegal.
  • Uso de Inteligência Artificial (IA): A criação de mensagens automáticas realistas, utilizando IA para simular vozes humanas, tornando as chamadas ainda mais convincentes.

Durante os testes, a equipe montou um falso call center oferecendo empréstimos, demonstrando como é simples capturar informações de vítimas desprevenidas.

As robocalls funcionam como uma ferramenta de apoio para fraudes financeiras e roubo de identidade. Com a confirmação de que a linha telefônica é ativa e de que o usuário está disposto a atender, os golpistas direcionam esforços para abordagens mais sofisticadas.

Entre as estratégias mais comuns estão:

  • Simulação de atendentes de bancos oferecendo renegociação de dívidas ou promoções de crédito,
  • Solicitação de dados bancários,
  • Gravação de respostas para uso em fraudes, como a contratação de serviços em nome da vítima.

O perigo aumenta com a capacidade de captar a voz do usuário, permitindo a criação de contratos falsos e assinaturas por reconhecimento de voz.

Impactos reais

O excesso de chamadas automáticas altera a rotina dos brasileiros:

  • Empregabilidade afetada: Muitos recrutadores relatam dificuldade em conseguir contato com candidatos.
  • Problemas na saúde: Pacientes perderam vagas de transplante porque não atenderam ligações hospitalares.
  • Perdas financeiras: Em muitos casos, vítimas de golpes relatam perdas superiores a R$ 20 mil após interações originadas por robocalls.

Mesmo consumidores que registraram seus números em sistemas de bloqueio como o “Não Me Perturbe” continuam recebendo essas ligações.

A Anatel tem adotado algumas medidas:

  • Bloqueio de chamadas automáticas massivas,
  • Criação do sistema “Origem Verificada”, que permitirá visualizar quem está ligando e o motivo da chamada,
  • Monitoramento e multa para operadoras e empresas que fazem disparos irregulares.

Entretanto, o avanço da tecnologia, aliado à atuação de quadrilhas especializadas, torna o combate um desafio constante.

O Procon de diversas cidades, como Porto Alegre, também iniciou investigações para responsabilizar empresas que fazem uso indevido de robocalls.

O fenômeno das robocalls e sua ligação direta com o aumento de fraudes telefônicas expõe uma ferida profunda da nossa sociedade: a vulnerabilidade do cidadão diante da tecnologia mal utilizada.

Vivemos a era da informação, mas também da insegurança digital. O que deveria ser um avanço — automação, inteligência artificial, facilidade de comunicação — se transformou, em muitos casos, em uma ameaça silenciosa, explorada por quem busca vantagens ilícitas.

A investigação do Fantástico nos mostra que o problema não está apenas no incômodo de atender chamadas inúteis, mas em algo muito maior: a fragilidade na proteção dos nossos dados pessoais e a facilidade com que se pode transformar essa informação em arma.

O brasileiro, já pressionado por crises econômicas, violências e desigualdades, agora precisa também se defender no campo invisível das chamadas automáticas e golpes virtuais.

Essa situação nos convida a uma reflexão urgente: Como sociedade, estamos preparados para proteger nossos dados e nossa identidade no mundo digital?
Mais do que nunca, precisamos de educação digital, legislação eficaz e fiscalização rigorosa para garantir que a tecnologia sirva ao cidadão — e não ao contrário.

Cada ligação automática que recebemos sem consentimento é um lembrete: a luta pela privacidade é uma luta diária. E ela precisa ser de todos nós.

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