Crédito e Cobrança

Juros altos empurram empresas para recorde de inadimplência no Brasil

O cenário financeiro das empresas brasileiras atingiu um novo patamar de preocupação. Em maio de 2025, o país registrou um número recorde de 7,7 milhões de empresas inadimplentes, o maior já contabilizado desde o início da série histórica da Serasa Experian, iniciada em 2016. Com juros elevados, crédito escasso e incertezas no cenário econômico, os negócios — principalmente os pequenos — estão sendo sufocados por dívidas.

Micro e pequenas empresas: as mais afetadas

Das 7,7 milhões de empresas com contas em atraso, 7,3 milhões são micro e pequenas, que juntas somam mais de 51 milhões de dívidas negativadas, totalizando R$ 164,1 bilhões. Esses dados mostram como os pequenos negócios, que representam a maior parte da base empresarial do país, estão à beira do colapso.

Sem acesso facilitado ao crédito e enfrentando custos operacionais em alta, essas empresas enfrentam dificuldades até para manter o capital de giro. O risco é que muitas delas saiam definitivamente do mercado, aumentando o desemprego e afetando diretamente o crescimento econômico.

O peso do crédito caro e a escassez de opções

A taxa básica de juros (Selic), atualmente em 15% ao ano, encarece ainda mais os financiamentos, tornando a renegociação de dívidas praticamente inviável para boa parte das empresas. Segundo a economista Camila Abdelmalack, o ambiente é restritivo até mesmo para operações de crédito voltadas à reorganização financeira.

Além disso, o possível aumento do IOF sobre operações de crédito tende a impactar diretamente o custo do financiamento produtivo — especialmente entre os negócios de menor porte. Isso amplia o risco de manutenção da inadimplência ou até de agravamento da crise empresarial.

Pressão internacional pode agravar o quadro

O cenário externo também traz incertezas. A possibilidade de tarifas adicionais de 50% sobre produtos brasileiros, sinalizadas pelo governo dos Estados Unidos, pode provocar um efeito cascata nos custos de insumos, especialmente para empresas que dependem de cadeias internacionais.

Esse impacto, somado à inflação interna e à rigidez da política monetária, pode empurrar ainda mais empresas para o vermelho, gerando um ciclo de endividamento, restrição de crédito e retração econômica.

Setores mais impactados pela inadimplência

O setor de Serviços lidera tanto em número de empresas negativadas (53,7%) quanto no volume de dívidas (31,5%). Em seguida aparecem o Comércio (34,1%) e a Indústria (8%). Já o setor de Bancos e Cartões representa 20,9% das dívidas inadimplidas, mostrando o peso do sistema financeiro sobre os negócios.

Essa concentração da inadimplência nos serviços é reflexo direto do consumo enfraquecido, já que o setor depende do giro constante da economia para sobreviver.

Inadimplência por estado: Distrito Federal lidera em proporção

Em termos proporcionais, o Distrito Federal lidera o ranking de inadimplência, com 42,4% das empresas ativas negativadas. Logo atrás vêm o Pará (40,4%) e Alagoas (39,9%). Em volume absoluto, São Paulo é o estado com maior número de empresas inadimplentes, com mais de 2,6 milhões de registros, seguido por Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Um alerta para a sustentabilidade dos negócios

Os dados revelam um alerta claro: o custo do dinheiro no Brasil está travando a retomada da economia. Juros altos, inflação resistente e crédito limitado compõem um cenário adverso, que exige uma reavaliação urgente das políticas econômicas e tributárias voltadas às empresas.

Sem medidas concretas de apoio, como acesso facilitado ao crédito, incentivos à renegociação e alívio tributário, milhares de negócios correm o risco de não resistir aos próximos meses.

Redação Contraponto

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