CAPA

Transforme conhecimento em processo: garanta sustentação na cobrança mesmo com mudanças na equipe de planejamento

Trocas de profissionais fazem parte da realidade de qualquer empresa. No entanto, em muitos escritórios de cobrança, a saída de quem está à frente do planejamento costuma trazer impactos desproporcionais. Quedas de performance, perda de histórico, necessidade de recomeçar processos, muitas vezes do zero, e um alto tempo de adaptação do novo profissional são situações frequentes.

Na prática, o problema não está apenas na saída de um colaborador, mas na forma como os processos estão (ou não estão) estruturados e documentados. Quando o conhecimento está concentrado em uma única pessoa, ou na cabeça das pessoas, e os métodos utilizados não são formalizados, a empresa se torna vulnerável.

Este cenário, embora comum, é evitável. Com práticas adequadas, é possível garantir uma transição tranquila entre profissionais e preservar os resultados da área mesmo diante de mudanças na equipe.

A dependência de pessoas e o risco operacional

O profissional de planejamento em um escritório de cobrança desempenha um papel estratégico. Ele define segmentações, estrutura réguas de cobrança, escolhe os canais ideais de comunicação, acompanha indicadores e faz ajustes contínuos para atingir as metas da operação. Quando esse trabalho depende exclusivamente da experiência e da memória do profissional, qualquer substituição representa um risco alto.

Essa dependência gera descontinuidade e o novo responsável muitas vezes encontra um cenário sem registros claros, sem acesso ao racional das decisões anteriores e com pouco material de apoio. Sem contar a dificuldade que a equipe tem em explicar as estratégias e as dezenas de relatórios. O resultado é um período de transição demorado, que compromete os resultados e a estabilidade das operações.

Como evitar perdas de continuidade na troca de profissionais?

Algumas práticas são recomendadas e podem ajudar a estruturar o planejamento de forma mais resiliente, permitindo uma transição mais segura e menos traumática em momentos de substituição de equipe.

1. Mapeamento e documentação de processos

Uma das iniciativas mais importantes é mapear e documentar os processos estratégicos das operações de cobrança. Isso não significa criar documentos excessivamente técnicos, extensos ou complexos, mas registrar, de forma clara, como o planejamento é feito.

Alguns pontos que devem ser contemplados:

  • Como são definidas as segmentações de carteira?
  • Quais canais são utilizados em cada etapa da régua de cobrança?
  • Como funciona a régua de negociação?
  • Quais critérios orientam as mudanças de estratégia?
  • Quais testes já foram realizados e quais resultados trouxeram?
  • Quais jornadas estão em funcionamento e quais estão arquivadas?

Ferramentas como fluxogramas, mapas visuais ou documentos descritivos simples já são suficientes para registrar esse conhecimento e torná-lo acessível a outros membros da equipe.

Tenha documentos com controle de acesso e de versão, salvos em rede, para evitar acidentes.

2. Elaboração de um playbook de planejamento

Complementando a documentação, o ideal é que a empresa conte com um playbook — um guia prático com todas as informações relevantes para a função de planejamento.

Esse material deve reunir:

  • Visão geral do funcionamento da operação;
  • Estratégias e segmentações adotadas;
  • Modelos de campanhas e templates de mensagens;
  • Indicadores de performance utilizados;
  • Ferramentas e sistemas envolvidos no processo;
  • Boas práticas, aprendizados e recomendações;

O playbook é especialmente útil para onboarding de novos colaboradores, pois reduz o tempo necessário para adaptação e evita o retrabalho.

3. Automação de processos operacionais

Sempre que possível, automatize os processos operacionais. Isso reduz a dependência de decisões manuais e garante que as estratégias continuem funcionando de forma consistente, independentemente de mudanças na equipe.

Por exemplo:

  • Envio automático de mensagens com base no tempo de inadimplência;
  • Alterações automáticas de régua conforme o comportamento do cliente;
  • Acionamento de canais alternativos em caso de não resposta;

Os CRMs, se preparado para construção de jornadas e com recursos de automação, podem ser grandes aliados nesse processo. Na ausência deste recurso, um profissional de tecnologia será necessário para desenvolver tais automações.

4. Painéis de indicadores com gestão à vista

Outro ponto fundamental é garantir que os indicadores estejam visíveis e acessíveis para todos os envolvidos com o resultado. Um bom painel de controle deve reunir minimamente:

  • O funil de acionamento;
  • Taxas de conversão por estratégia;
  • Desempenho por faixa de atraso;
  • Evolução das metas de produção e recebimento por período;
  • Visão de jornada, entre outras;

Ter uma gestão à vista facilita a leitura do cenário e permite que qualquer profissional, mesmo em início de atividade, possa tomar decisões com base em dados. Para isso, é fundamental que os conceitos sejam de fácil compreensão.

5. Rituais de governança e registro de decisões

Organizar a rotina com rituais claros de governança também contribui significativamente para a continuidade do trabalho. Isso inclui:

  • Reuniões semanais ou quinzenais para análise de resultados com as equipes diretamente relacionadas com os resultados da carteira;
  • Registro formal das decisões tomadas e dos ajustes realizados;
  • Compartilhamento periódico dos aprendizados com outras áreas;

Essa prática não apenas facilita a entrada de novos profissionais como também fortalece a cultura de colaboração e transparência.

6. Cultura de compartilhamento de conhecimento

Além dos processos e ferramentas, é necessário trabalhar o fator cultural.

Empresas que incentivam a troca de conhecimento, o registro de aprendizados e a colaboração entre equipes são naturalmente mais resilientes a mudanças.

Quando o conhecimento é coletivo e não individual, a transição entre profissionais deixa de ser um problema crítico e passa a ser encarada como parte natural da rotina empresarial.

7. Estruturação de passagens e transições

Sempre que possível, é importante estruturar as passagens entre profissionais com clareza.

Algumas boas práticas incluem:

  • Período de transição com convivência entre quem está saindo e quem está entrando;
  • Entregas documentadas com resumo da estratégia vigente;
  • Sessões de alinhamento com áreas correlatas (como BI, atendimento e TI);
  • Levantamento de dúvidas recorrentes e orientações para primeiros passos;

Mesmo uma transição breve, quando bem organizada, pode fazer grande diferença na continuidade dos resultados.

Sabemos que nem sempre este tipo de transição é algo tranquilo. Evitar perdas significativas de desempenho durante a substituição de um profissional de planejamento é uma questão de estrutura. Quanto mais bem definidos estiverem os processos, mais fácil será garantir que o novo colaborador consiga dar continuidade ao trabalho anterior, sem necessidade de reinvenção ou improviso.

E você, já viveu essa experiência?

Claudê Sá

Especialista em Cobrança Digital com mais de 27 anos de experiência, tendo atuado em empresas como Banco Itaú, Paschoalotto, Flex Contact Center, Pontaltech e Adimplere. Graduado em Administração, com pós-graduado em Gestão Estratégica de Negócios pela FGV e MBA em Varejo e Mercado de Consumo e Marketing ambos pela ESALQ-USP. More »

Artigos relacionados

Chamar agora
Fale com a Redação!
Tu comunica, a gente publica. Aqui a tua voz vira notícia. Fala com a gente!
×