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IOF mais alto esfria o crédito e pode frear nova alta da Selic

Recentemente, o governo federal anunciou alterações nas alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) que impactam diretamente o custo do crédito para empresas. A alíquota máxima de IOF para empréstimos de pessoas jurídicas passou de 1,88% para 3,95% ao ano, enquanto, no regime do Simples Nacional, subiu de 0,88% para 1,95% ao ano. Essas mudanças refletem a intenção do governo de trazer maior rigor fiscal e ajustar instrumentos tributários para auxiliar no controle da inflação.

Como o aumento do IOF deve “esfriar” o mercado de crédito

Com o acréscimo no imposto incidente sobre empréstimos, o custo do crédito para empresas tende a subir. Segundo Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), essa elevação encarece diretamente o financiamento, o que reduz a demanda por novas operações de crédito e, consequentemente, “esfria” o mercado. Esse efeito, na prática, funciona como um freio adicional à expansão do crédito, já bastante contida diante das taxas de juros elevadas.

Efeito “conta-gotas” na Selic

Os ex-diretores do BC afirmam que o aumento do IOF age de forma análoga a um reajuste na taxa básica de juros (Selic). Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, explica que, encarecendo o crédito via tributação, o governo obtém um resultado parecido com a elevação da Selic, sem passar oficialmente pelo Copom. No entanto, tanto Schwartsman quanto Figueiredo ponderam que ainda é “muito cedo” para dimensionar a intensidade desse impacto sobre a taxa de juros.

Limitações e riscos da medida

Embora o encarecimento do crédito possa contribuir para conter pressões inflacionárias, Schwartsman alerta para um efeito colateral negativo: o entupimento de mais um canal de transmissão da política monetária. Quando a tributação do IOF tem papel quase com equivalente a uma alta de juros, restringe-se a atuação do BC, que perde parte de sua capacidade de ajuste fino na Selic. Além disso, empresas podem enfrentar maior dificuldade de acesso a recursos, afetando investimentos e crescimento econômico.

A voz do Banco Central sobre o uso do IOF

Para Luiz Fernando Figueiredo, medidas que impactam a política monetária deveriam, idealmente, ser discutidas e aprovadas pelo próprio Banco Central. O atual presidente da autarquia, Gabriel Galípolo, já manifestou-se publicamente contra o uso do IOF como ferramenta arrecadatória quando o objetivo principal deveria ser a regulação de operações financeiras. Galípolo teria sinalizado ao governo a necessidade de preservar a independência técnica do BC.

Contexto da Selic e próximas decisões do Copom

Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada em maio de 2025, a Selic foi elevada para 14,75% ao ano, patamar mais alto em quase duas décadas. Apesar de manter um viés de alta por muito tempo, a autoridade monetária deixou em aberto a possibilidade de encerrar o ciclo de aperto em breve, dependendo das próximas leituras de inflação e atividade econômica.

Perspectivas para o crédito empresarial

Com o novo patamar do IOF e a Selic próxima de 15% ao ano, as empresas enfrentam custos de financiamento inéditos. O cenário exige que gestores revisem planejamentos de captação, priorizem projetos de maior retorno e busquem alternativas de crédito mais baratas, como linhas incentivadas de bancos públicos ou financiamentos de longo prazo. A combinação de tributação e juros altos deve permanecer no radar de qualquer planejamento financeiro corporativo.

Redação Contraponto

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