Vendas no comércio caem pelo quarto mês seguido com redução no crédito à pessoa física
Entenda como juros altos, inadimplência e queda no crédito estão impactando o varejo brasileiro em 2025

O comércio varejista brasileiro apresentou retração pelo quarto mês consecutivo em julho de 2025, de acordo com a Pesquisa Mensal de Comércio divulgada pelo IBGE. O recuo foi de 0,3% em relação a junho, consolidando uma tendência de perda de fôlego do setor. Apesar de as quedas recentes estarem próximas da estabilidade, no acumulado, o varejo já opera 1,1% abaixo do recorde de vendas registrado em março de 2025.
Queda nas vendas mostra enfraquecimento do setor
Segundo Daniel Xavier, economista-chefe do Banco ABC Brasil, a desaceleração é resultado direto das condições monetárias restritivas, do alto nível de endividamento das famílias e da inadimplência crescente. Esses fatores têm sido apenas parcialmente compensados pela melhora no mercado de trabalho e pelas transferências governamentais.
As projeções indicam que a economia brasileira deve crescer cerca de 2,3% em 2025, desacelerando para 1,7% em 2026, o que reforça a expectativa de acomodação no ritmo de consumo e investimentos.
Setores mais impactados pela retração no varejo
Entre as oito atividades pesquisadas pelo IBGE, quatro apresentaram queda em julho:
- equipamentos de informática e comunicação (-3,1%)
- vestuário e calçados (-2,9%)
- outros artigos de uso pessoal e doméstico, como lojas de departamento (-0,6%)
- supermercados (-0,3%)
Na contramão, alguns segmentos registraram alta, como móveis e eletrodomésticos (1,5%), livros e papelaria (1,0%), combustíveis (0,7%) e farmacêuticos e perfumaria (0,6%).
Comércio ampliado mostra leve recuperação
No varejo ampliado, que inclui veículos e material de construção, houve crescimento de 1,3% em julho. O destaque foi para a venda de veículos, que avançou 1,8%, e para o setor de construção, que cresceu 0,4%. Apesar disso, especialistas alertam que a fragilidade persiste, principalmente entre setores mais dependentes de crédito.
Crédito restrito limita consumo das famílias
De acordo com Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE, a sequência de quedas, mesmo próximas da estabilidade, já revela uma tendência negativa no setor. O aumento da taxa básica de juros reduziu a oferta de crédito à pessoa física, impactando diretamente categorias que dependem de financiamentos, como bens duráveis.
Supermercados, segmento de maior peso no comércio varejista e menos dependente do crédito, cresceram em apenas dois dos últimos nove meses. Além disso, o alto nível de endividamento das famílias continua limitando a capacidade de consumo, mesmo diante da melhora na renda real e do crescimento da massa salarial.
Perspectivas para o varejo nos próximos meses
O cenário para o restante de 2025 ainda é de cautela. O setor varejista deverá enfrentar desafios relacionados ao crédito mais restrito, endividamento das famílias e impacto dos juros elevados. Por outro lado, a resiliência do mercado de trabalho e a estabilidade da inflação podem oferecer algum suporte ao consumo.
O desempenho futuro do comércio dependerá, principalmente, da trajetória da taxa de juros e da capacidade das famílias em reorganizar seus orçamentos diante de um cenário econômico desafiador.