Tarifaço e crédito: como a nova tensão comercial pode afetar seu bolso e o acesso a financiamentos

Com a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos — medida que entra em vigor no dia 1º de agosto —, os efeitos vão muito além do comércio exterior. O impacto direto será sentido também no crédito, na inflação e, principalmente, na vida financeira dos consumidores e das empresas brasileiras.
Neste artigo, vamos entender por que o crédito pode ficar mais caro e restrito após o tarifaço, e como essa nova turbulência econômica pode comprometer desde a inadimplência até os investimentos.
A alta nas tarifas afeta toda a cadeia econômica
A sobretaxa norte-americana afeta principalmente os grandes exportadores brasileiros, mas o efeito dominó é inevitável: menos exportações significam menor faturamento, possível fechamento de postos de trabalho e um aumento da oferta de produtos no mercado interno. Em um primeiro momento, isso até pode gerar um leve alívio nos preços de alguns alimentos, mas será passageiro.
Segundo economistas ouvidos pelo UOL, se o Brasil responder com retaliações comerciais e aumentar tarifas de importação de produtos americanos, haverá um novo ciclo de aumento de preços. Isso pressiona ainda mais a inflação e prejudica o poder de compra da população, o que, por sua vez, afeta diretamente a capacidade de pagamento e o apetite ao crédito.
Crédito mais difícil e caro para consumidores e empresas
O aumento da inflação e o risco de retração econômica provocam um efeito imediato no setor financeiro: maior seletividade na concessão de crédito. Bancos e instituições financeiras tendem a apertar os critérios de aprovação para empréstimos, cartões e financiamentos. Com isso, consumidores com menor pontuação de crédito ou renda instável serão os primeiros a sentir os efeitos.
Além disso, em um cenário de instabilidade, a tendência é que o custo do crédito aumente, refletido em juros mais altos. Esse encarecimento pode gerar um ciclo vicioso: menos acesso ao crédito, menor consumo, queda na atividade econômica e, em última instância, mais desemprego.
Empresas terão mais dificuldade para financiar operações
Não são apenas os consumidores que sentirão o impacto. Pequenas e médias empresas, que já enfrentam dificuldade em manter fluxo de caixa positivo em tempos de juros altos, podem ter mais obstáculos para conseguir capital de giro ou investir em expansão.
A retração no crédito empresarial afeta diretamente a produtividade e a competitividade do país, prejudicando o crescimento econômico e elevando os riscos de falência ou inadimplência no setor privado.
Inadimplência pode voltar a subir
Com juros altos, crédito mais caro e renda comprometida pela inflação, o risco de inadimplência se acentua. Muitas famílias que dependem do parcelamento para manter o consumo básico terão dificuldades em honrar seus compromissos.
Isso também vale para empresas que, ao verem seus custos operacionais aumentarem e a receita cair, podem atrasar pagamentos ou recorrer a modalidades de crédito mais caras, agravando sua situação financeira.
O que esperar do cenário de crédito nos próximos meses
Se nenhuma medida diplomática for tomada para reverter a sobretaxa americana ou mitigar os impactos da retaliação comercial, o segundo semestre de 2025 será marcado por maior instabilidade no crédito.
O governo e o Banco Central poderão ser forçados a adotar políticas para conter a inflação, o que incluiria manter ou até elevar a taxa básica de juros — o que vai contra os anseios de empresários e consumidores por condições mais favoráveis de financiamento.
Em suma, o tarifaço tem potencial de afetar diretamente a vida financeira dos brasileiros, encarecendo o crédito, elevando o risco de inadimplência e reduzindo o consumo e o investimento produtivo no país.