Reincidência na inadimplência chega a 83,16% e recuperação de crédito registra forte queda em julho
Entenda os impactos da alta reincidência de devedores e a piora na recuperação de crédito no Brasil, segundo dados da CNDL e SPC Brasil

A inadimplência no Brasil atingiu um novo patamar preocupante em julho de 2025, revelando desafios significativos para consumidores e instituições financeiras. Segundo levantamento da CNDL e do SPC Brasil, 83,16% das negativações registradas no período foram de devedores reincidentes — pessoas que já haviam tido o nome restrito ao crédito nos últimos 12 meses.
Ao mesmo tempo, a recuperação de crédito apresentou uma queda expressiva, indicando que cada vez mais consumidores têm dificuldades para quitar suas dívidas e voltar a ter acesso a crédito.
Cenário atual da inadimplência no Brasil
O Indicador de Reincidência de Pessoas Físicas, divulgado pela CNDL e SPC Brasil, mostrou que a maioria dos consumidores que atrasam suas contas enfrenta dificuldade em sair definitivamente da inadimplência. Dos negativados em julho:
- 61,58% ainda não haviam quitado pendências antigas e foram negativados novamente.
- 21,58% haviam saído do cadastro de inadimplentes, mas retornaram.
- Apenas 16,84% foram negativados pela primeira vez no período.
Outro ponto que chama atenção é o tempo médio entre o vencimento de uma dívida e a reincidência: cerca de 74,4 dias. Ou seja, menos de três meses após atrasar uma conta, muitos consumidores já enfrentam uma nova negativação.
Recuperação de crédito sofre queda acentuada
O Indicador de Recuperação de Crédito de Pessoas Físicas, também do SPC Brasil, revelou que o número de consumidores que conseguiram limpar o nome caiu 12,61% nos 12 meses encerrados em julho de 2025, em relação ao mesmo período do ano anterior.
Essa redução foi ainda mais significativa entre os consumidores com dívidas antigas. A faixa de débitos com prazo de 4 a 5 anos apresentou uma queda de 20,96% na recuperação — um sinal claro de que resolver pendências de longo prazo está cada vez mais difícil.
O tempo médio para quitar dívidas e recuperar o crédito foi de 9,5 meses em julho, mostrando que, mesmo para valores menores, o processo exige planejamento e esforço financeiro.
Perfil dos consumidores reincidentes e recuperados
A pesquisa da CNDL e SPC Brasil também revelou o perfil dos brasileiros que mais enfrentam problemas de endividamento:
- Faixa etária dos reincidentes: 30 a 39 anos (25,36%).
- Gênero dos reincidentes: 52,97% mulheres e 47,03% homens.
- Faixa etária dos recuperados: 50 a 64 anos (23,92%).
- Valor médio quitado por consumidor: R$ 2.295,63, considerando todas as dívidas.
Entre os que conseguiram se recuperar, 60,68% quitaram dívidas de até R$ 500, evidenciando que o maior desafio financeiro do brasileiro está relacionado a pequenas pendências que, somadas a juros altos, tornam-se impagáveis ao longo do tempo.
O ciclo de endividamento e seus desafios
Segundo José César da Costa, presidente da CNDL, o elevado índice de reincidência reflete um ciclo de endividamento crônico no país. A combinação de altas taxas de juros, crédito caro e baixa educação financeira impede que os consumidores consigam se manter fora da inadimplência de forma definitiva.
Já Roque Pellizzaro Júnior, presidente do SPC Brasil, reforça que o problema não está apenas nas grandes dívidas, mas principalmente na incapacidade de lidar com pequenos débitos. Ele alerta que cerca de 31% das dívidas em atraso não ultrapassam R$ 500, mas ainda assim levam, em média, 9,5 meses para serem quitadas.
Perspectivas para o mercado de crédito
O cenário exige uma combinação de estratégias de renegociação, educação financeira e políticas de crédito mais acessíveis. Enquanto o índice de inadimplência permanecer alto e a recuperação de crédito apresentar quedas sucessivas, o risco de exclusão financeira tende a aumentar.
Para os consumidores, o momento exige planejamento financeiro e atenção às condições de renegociação. Para as empresas, é essencial investir em modelos mais inteligentes de cobrança, análise de perfil e uso de tecnologias que favoreçam a personalização no relacionamento com o cliente.