Recuperações judiciais no agronegócio brasileiro crescem e elevam a inadimplência do setor
Inadimplência em alta e crédito mais restrito colocam o agro em alerta e exigem gestão financeira mais rigorosa

O agronegócio brasileiro atravessa um momento de atenção máxima no campo financeiro. O avanço das recuperações judiciais no agronegócio brasileiro e o aumento da inadimplência acendem um sinal de alerta para produtores, empresas, bancos e fornecedores. Dados recentes mostram que o setor lidera proporcionalmente o número de companhias em recuperação judicial, refletindo um ambiente de maior pressão sobre margens, fluxo de caixa e capacidade de pagamento.
Esse movimento ganhou força a partir de 2023 e se consolidou ao longo de 2025, evidenciando uma mudança estrutural no ciclo de crédito do agro, que por muitos anos contou com financiamento mais abundante e custos menores.
Recuperações judiciais no agronegócio atingem níveis recordes
Levantamento da consultoria RGF e Associados indica que o agronegócio se tornou o setor com maior concentração proporcional de empresas em recuperação judicial no Brasil. No terceiro trimestre de 2025, foram registradas 443 empresas do agro em recuperação judicial, um crescimento de 60,8% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Na prática, isso representa cerca de 12 empresas em recuperação a cada mil companhias do setor. Para efeito de comparação, na indústria de transformação esse número gira em torno de seis a cada mil. A consultoria classifica o período como um trimestre turbulento, marcado por crescimento forte e contínuo desse indicador ao longo da série histórica.
Embora muitas dessas recuperações envolvam grandes grupos econômicos, o fenômeno reflete dificuldades mais amplas em diferentes etapas da cadeia produtiva do agronegócio.
Custos elevados e margens pressionadas explicam o cenário
Entre os principais fatores que levaram ao aumento das recuperações judiciais no agronegócio brasileiro estão perdas de safra, oscilações acentuadas de preços, custos elevados de insumos e juros em patamares mais altos. Esse conjunto de variáveis reduziu de forma relevante as margens das operações rurais.
Com receitas pressionadas e despesas financeiras crescentes, muitos produtores e empresas passaram a enfrentar dificuldades para manter o fluxo de caixa equilibrado. Em vários casos, a capacidade de honrar compromissos com bancos, fornecedores e parceiros foi comprometida, tornando a recuperação judicial uma alternativa para reorganização das dívidas e preservação das atividades.
Bancos percebem aumento expressivo da inadimplência no agro
A elevação das recuperações judiciais no agronegócio brasileiro também se reflete diretamente nos indicadores de inadimplência das instituições financeiras. A Caixa Econômica Federal, um dos principais operadores de crédito para o agro, registrou aumento relevante nos atrasos.
No total das operações do banco, a inadimplência passou de 2,66% para 3%. Já no segmento do agronegócio, o avanço foi mais expressivo, saltando de 7% para 11,2% no período analisado. Para a direção da instituição, esse cenário revela que houve excesso de crédito em anos anteriores.
Segundo a avaliação do banco, parte desses recursos foi direcionada à acumulação de terras e não necessariamente a investimentos diretamente produtivos, o que aumentou o risco financeiro de algumas operações.
Cobrança mais rígida e renegociação seletiva de dívidas
Diante desse cenário, a tendência é de uma postura mais firme por parte dos bancos na gestão e cobrança do crédito rural. A estratégia anunciada prevê diferenciação entre produtores impactados por fatores externos e aqueles que apresentaram problemas de gestão.
Casos associados a eventos fora do controle do produtor, como clima adverso, quebra de safra ou oscilações severas de mercado, devem ter acesso a renegociações e alongamento de prazos. Por outro lado, situações caracterizadas como quebra de confiança ou má gestão deliberada tendem a ser tratadas com mais rigor.
O objetivo é conter o avanço da inadimplência sem comprometer o apoio a quem foi afetado por circunstâncias excepcionais.
Perspectivas para 2026 exigem mais disciplina financeira
Para 2026, a mensagem para o campo é clara. O ciclo de crédito farto e barato ficou para trás. O novo ambiente exige disciplina financeira, planejamento e decisões mais criteriosas. Organizar contas, revisar custos operacionais, priorizar investimentos realmente produtivos e avaliar com cautela a contratação de novas dívidas serão fatores decisivos para a sustentabilidade dos negócios.
Em um cenário que combina riscos climáticos, volatilidade de preços e maior rigor dos bancos, a gestão financeira se torna um diferencial competitivo. Entender o contexto das recuperações judiciais no agronegócio brasileiro deixa de ser apenas uma análise de mercado e passa a ser uma ferramenta essencial para a tomada de decisão no setor.







