Alta da inadimplência pressiona crédito e consumo
O crescimento do endividamento das famílias afeta a concessão de crédito e desacelera o consumo em 2025

A inadimplência das famílias brasileiras tem registrado aumentos consecutivos ao longo de 2025, refletindo a deterioração das condições financeiras e trazendo novos desafios para o mercado de crédito e para o consumo. De acordo com dados do Serasa, em julho o país alcançou 77,8 milhões de consumidores inadimplentes, o maior número dos últimos nove anos.
O avanço da inadimplência no Brasil
Segundo o Banco Central, a inadimplência bancária de pessoas físicas com recursos livres e atrasos acima de 90 dias chegou a 6,6% em julho de 2025, o maior patamar desde 2013. Esse movimento tem dificultado o consumo das famílias e impactado diretamente a economia, já que os bancos passaram a adotar critérios mais rígidos na concessão de crédito.
Inflação persistente, juros elevados e a perda do poder de compra formam a combinação que explica o aumento do endividamento e o atraso nos pagamentos. Isso se reflete principalmente em setores que dependem de financiamento, como eletrodomésticos, veículos e equipamentos de informática.
Para entender como o consumo vem sendo afetado também em outros segmentos, veja nosso artigo sobre quedas nas vendas do comércio brasileiro
Renegociação de dívidas como alternativa
Apesar do cenário desafiador, algumas medidas podem aliviar o impacto do endividamento no fim de 2025 e início de 2026. A ampliação das renegociações de dívidas, aliada à migração de empréstimos mais caros para o novo modelo de consignado do trabalhador, tende a oferecer um alívio gradual às famílias.
Além disso, os tradicionais feirões de renegociação do Serasa, realizados nos últimos meses do ano, devem contribuir para reduzir a pressão da inadimplência sobre o orçamento das famílias.
Impactos regionais e setoriais
O aumento da inadimplência ocorre de forma generalizada em todas as regiões do país e em diferentes faixas de renda. Segundo o Serasa, os 77,8 milhões de inadimplentes em julho representam 48% da população adulta do Brasil, frente a 41% em 2019.
As regiões Centro-Oeste e Norte superam a média nacional, com 53% e 51,8% de adultos inadimplentes, respectivamente. No Centro-Oeste, a alta do crédito rural foi determinante, com recorde histórico de 4,4% de inadimplência em 2025, enquanto no Sul a taxa alcançou 3,5%.
Modalidades mais afetadas
Entre as modalidades de crédito, o crédito não consignado apresentou taxa de inadimplência de 7,9%, enquanto o cheque especial chegou a 15% e o cartão de crédito rotativo atingiu alarmantes 60%. Esse cenário evidencia maior vulnerabilidade entre famílias de baixa renda, cujo orçamento já está pressionado pela inflação.
Entretanto, mesmo as famílias de maior renda não ficaram imunes. Entre aquelas com rendimento acima de 20 salários mínimos, a taxa de inadimplência subiu 1,2 ponto percentual em um ano, com piora em linhas mais seguras como veículos e crédito rural.
Efeitos para consumo e economia
Com o aumento do comprometimento da renda, os bancos ampliam o provisionamento de crédito e reduzem a oferta de financiamentos. Isso limita o acesso tanto a bens essenciais, como alimentos e medicamentos, quanto a bens duráveis e serviços, reduzindo o dinamismo do consumo.
O desafio do Brasil nos próximos meses será equilibrar renegociações, novas modalidades de crédito e políticas econômicas para impedir que a inadimplência siga em trajetória ascendente e comprometa ainda mais a economia.
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