Crédito e Cobrança

Inadimplência das famílias sobe a 6,5% em julho, maior patamar em 12 anos

Aumento da inadimplência preocupa especialistas e rotativo do cartão se mantém como principal vilão do crédito

A inadimplência das famílias no crédito com recursos livres atingiu 6,5% em julho, segundo dados do Banco Central (BC), marcando o maior patamar desde maio de 2013, quando alcançou 6,6%. O cenário acende um alerta para o endividamento das famílias brasileiras, com destaque para o impacto do uso do cartão de crédito rotativo, que segue como o maior responsável pela escalada das dívidas.

Inadimplência bate recorde histórico e afeta a saúde financeira das famílias

De junho para julho, o índice de inadimplência subiu de 6,3% para 6,5%, representando um crescimento significativo em um cenário de juros elevados e crédito restrito. O BC aponta que parte desse aumento está relacionado à resolução 4.966 do Conselho Monetário Nacional (CMN), que alterou a forma como os bancos reportam os números, mas também revela uma tendência de maior dificuldade financeira das famílias.

Segundo Fernando Rocha, chefe do Departamento de Estatísticas do BC, a alta resulta de uma combinação de fatores, incluindo o aperto no crédito, os juros elevados e a dependência crescente de linhas emergenciais, como o rotativo do cartão.

Rotativo do cartão dispara e chega a 60,5%

O maior impacto na inadimplência está relacionado ao rotativo do cartão de crédito, que registrou alta de 3 pontos percentuais, saltando de 57,5% para 60,5%, o maior nível desde o início da série histórica do BC, em 2011. Essa modalidade, considerada emergencial, vem sendo apontada por especialistas como o principal vilão das finanças pessoais.

Em julho, os juros médios do rotativo chegaram a impressionantes 446,6% ao ano, permanecendo em um patamar insustentável para a maior parte dos consumidores. Para o BC, o uso do rotativo deve ser evitado sempre que possível, priorizando alternativas como parcelamentos com juros reduzidos ou negociação direta com as instituições financeiras.

Bancos ultrapassam limite legal de cobrança de juros

Apesar da determinação legal que estabelece um teto de 100% para os encargos sobre o valor original da dívida, quatro instituições financeiras foram identificadas pelo BC cobrando taxas acima do permitido. Entre elas estão:

  • Via Certa Financiadora: 115,59%
  • Banco XP: 208,33%
  • Sicoob: 363,33%
  • Banco Rendimento: 971,43%

O BC informou que acompanha de perto os casos e que as instituições podem sofrer ações de supervisão e medidas legais por descumprimento da regra.

Inadimplência também cresce entre empresas

O aumento da inadimplência não se restringe às famílias. Em julho, considerando operações de crédito com recursos livres para pessoas físicas e jurídicas, o índice subiu de 5,0% para 5,2%, alcançando o maior patamar desde novembro de 2017. No crédito total, que inclui linhas livres e direcionadas, o percentual chegou a 3,8%, o nível mais elevado desde maio de 2017.

O saldo da carteira de crédito também apresentou crescimento, subindo 0,4% em julho, com avanço de 0,2% no crédito livre e 0,7% no direcionado. Apesar disso, o BC destaca que há um movimento de desaceleração na expansão do crédito, resultado de juros elevados e maior seletividade das instituições financeiras.

Consignado privado cresce e bate recorde histórico

Diferente do cenário geral, o consignado privado vem apresentando comportamento positivo. Em julho, essa modalidade alcançou R$ 49,7 bilhões, o maior saldo da série histórica do BC, impulsionada pela ampliação do público-alvo após mudanças do governo federal que facilitaram o acesso ao crédito com desconto em folha.

Embora o volume cresça, os juros seguem altos. A taxa média anual passou de 40,9% em fevereiro para 55,5% em julho, o que exige atenção para evitar que o consignado se torne também um fator de endividamento futuro.

Perspectivas e cuidados com a saúde financeira

O aumento da inadimplência exige atenção redobrada de consumidores e empresas. Especialistas recomendam evitar o uso do rotativo do cartão, buscar renegociações de dívidas e priorizar linhas de crédito com taxas mais baixas, como o consignado. Além disso, acompanhar o orçamento familiar e planejar gastos são medidas essenciais para reduzir riscos e manter a saúde financeira.

Redação Contraponto

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