Grandes safras e juros elevados devem reduzir margens do agro em 2025
Como a combinação de supersafras, juros altos e pressão global está comprimindo a rentabilidade das empresas do agronegócio

O ciclo 2025/26 chega em um cenário desafiador para o agronegócio brasileiro. As grandes safras ao redor do mundo e o ambiente global de incertezas, impulsionado pela guerra tarifária entre grandes economias, têm limitado a valorização das commodities agrícolas. Ao mesmo tempo, os juros elevados no Brasil seguem pressionando o custo financeiro e reduzindo a capacidade de investimento das empresas do setor.
Esse conjunto de fatores está estreitando as margens das companhias de grãos, insumos e produção agroindustrial. Algumas delas já registraram fortes quedas na margem Ebitda ajustada no terceiro trimestre, enquanto outras vêm reavaliando área plantada e estratégias de comercialização para proteger rentabilidade por hectare.
Margens pressionadas entre as principais empresas de grãos
As empresas com ações em bolsa refletiram rapidamente esse ambiente. SLC, BrasilAgro, 3tentos e Camil reportaram queda de margem Ebitda ajustada, resultado direto dos preços mais baixos das commodities e dos custos operacionais mais altos.
A SLC reduziu sua margem para 25,5%, enquanto a BrasilAgro recuou para 22% e a 3tentos para 3,3%. Até mesmo a Camil, mais diversificada, viu o indicador cair para 8,5%. Apesar disso, o BTG Pactual projeta que apenas a SLC deve recuperar parte de sua rentabilidade na próxima safra. Já BrasilAgro e 3tentos tendem a continuar operando com margens comprimidas.
Queda dos preços das commodities afeta diferentes culturas
Mesmo companhias diversificadas estão sentindo a pressão. Na BrasilAgro, a margem bruta da soja caiu para 30%, principalmente devido ao recuo de 9% no preço da oleaginosa. Outras cadeias também enfrentaram retração de margem, como cana, algodão, feijão e pecuária. O milho foi uma das poucas exceções positivas.
Na 3tentos, o principal ponto de pressão veio da indústria de biodiesel. A queda de 27,5% no lucro bruto ajustado do segmento foi influenciada por preços mais baixos do farelo de soja e por momentos de prêmio no mercado doméstico que encareceram o grão.
Efeito câmbio, custos em dólar e estratégia de redução de área
As empresas mais expostas ao mercado internacional também sentiram o impacto da apreciação do real. No caso da Adecoagro, além dos preços pressionados, os custos em dólar pesaram sobre o desempenho. A companhia decidiu reduzir em 25% a área de plantio da próxima safra para maximizar a margem por hectare e compensar o ambiente adverso.
Segundo analistas, esse movimento deve se repetir em outras companhias que buscam preservar rentabilidade em vez de elevar volume a qualquer custo.
Juros altos e alavancagem elevam risco financeiro
O cenário de juros elevados permanece como um dos maiores desafios para as companhias do setor. O analista Gabriel Barra, do Citi, aponta que empresas com maior dependência do crédito estão enfrentando dificuldades adicionais por causa do custo mais alto do capital.
Um exemplo é a SLC, que começou a safra mais alavancada após aquisições estratégicas, incluindo terras da Agrícola Xingu e da Sierentz Agro Brasil. A alavancagem subiu para 2,34 vezes, o que pressionou o caixa e reduziu o resultado no trimestre. Dívidas indexadas ao CDI e contratos de arrendamento também pesaram no desempenho financeiro.
Além disso, o aumento do custo agrícola projetado para a próxima safra pode manter as margens sob pressão, mesmo com produtividade um pouco melhor.
Empresas de insumos também sentem o impacto das margens menores dos produtores
O ambiente desafiador dos produtores impactou também as empresas fornecedoras de insumos. Vittia e Boa Safra registraram queda na margem Ebitda ajustada, embora tenham conseguido ampliar seus lucros.
Segundo especialistas da XP, a combinação de margens menor dos agricultores e alavancagem elevada entre alguns deles reduziu o ritmo de compra de insumos. Ainda assim, esse movimento não atingiu todas as empresas igualmente.
A 3tentos, por exemplo, manteve estabilidade na divisão de insumos graças a uma gestão rigorosa de crédito, evitando riscos de inadimplência mesmo diante da piora do cenário no varejo agrícola.
Caminho para a recuperação envolve eficiência e gestão financeira
Apesar dos desafios, analistas acreditam que o setor pode encontrar oportunidades na eficiência operacional, na diversificação e na gestão mais estratégica dos custos. A demanda global por alimentos permanece sólida, e empresas mais preparadas para operar com margens mais estreitas tendem a atravessar o ciclo com mais resiliência.
A melhora gradual das condições do mercado de carnes após os impactos da gripe aviária e das tarifas americanas também adiciona um sinal positivo ao cenário de 2025.







