Crédito em desaceleração e inadimplência em alta: os dados do Banco Central que preocupam os bancos

O mercado financeiro reagiu negativamente aos novos dados divulgados pelo Banco Central na última segunda-feira (28), refletindo uma perspectiva mais cautelosa sobre o crédito no Brasil. As ações dos grandes bancos caíram, puxadas por indicadores que mostram desaceleração nas concessões de crédito e inadimplência no maior nível desde 2018.
A desaceleração do crédito preocupa o setor bancário
Segundo o relatório do Banco Central, o crescimento do crédito total em junho foi de 10,7% em relação ao ano anterior, uma queda de 1,1 ponto percentual em comparação com maio. Esse desempenho mais fraco impactou diretamente os bancos, que estão prestes a divulgar seus balanços trimestrais.
As principais instituições financeiras do país sentiram o baque na bolsa:
- Itaú (ITUB4): -2,1%
- Bradesco (BBDC4): -0,77%
- Banco do Brasil (BBAS3): -1,48%
- Santander Brasil (SANB11): -0,38%
Os empréstimos corporativos também desaceleraram, crescendo apenas 8,8% em relação ao mesmo período de 2024, enquanto os empréstimos para pessoas físicas subiram 11,9%, mas também em ritmo menor que nos meses anteriores.
Inadimplência atinge níveis críticos
O dado que mais chamou atenção foi o da inadimplência acima de 90 dias, que atingiu 3,6% do total da carteira de crédito , o maior nível desde 2018. No caso das pessoas físicas, a taxa chegou a 4,3%, enquanto os empréstimos corporativos se mantiveram em 2,4%.
Segundo o Bradesco BBI, a qualidade dos ativos deteriorou-se ainda mais no segundo trimestre, com destaques negativos em:
- Empréstimos pessoais: +0,80 pp no trimestre
- Cartão de crédito: +0,70 pp
- Crédito rural: +0,70 pp
- Financiamento de veículos: +0,50 pp
- Empréstimos para PMEs: +0,40 pp
Esses aumentos indicam que as famílias e pequenas empresas estão enfrentando dificuldades maiores para honrar seus compromissos financeiros, o que gera pressão nas despesas com provisões para perdas.
Crédito rural: a dor de cabeça do Banco do Brasil
Um dos dados mais alarmantes foi o da inadimplência no crédito rural, que alcançou 2,9% — uma máxima histórica. O índice já sobe há quatro meses consecutivos e preocupa especialmente o Banco do Brasil, cuja carteira tem cerca de R$ 406 bilhões expostos ao agronegócio, representando cerca de um terço de sua operação.
A Genial Investimentos destacou que o cenário rural deve continuar desafiador, e o próprio Bradesco BBI confirmou que os bancos mais expostos a esse tipo de produto tendem a enfrentar maiores pressões no curto prazo.
Expectativas para o segundo semestre
De acordo com o Goldman Sachs, as condições de crédito devem continuar enfrentando obstáculos, como:
- Política monetária ainda restritiva
- Crescimento econômico moderado
- Mercado de trabalho em desaceleração
Por outro lado, há fatores que podem sustentar o ciclo de crédito, como:
- Atuação mais agressiva de bancos públicos
- Novas linhas de crédito com garantia de folha de pagamento
O Itaú BBA também comentou sobre o sentimento do investidor internacional, que parece mais cauteloso em relação às ações do setor financeiro brasileiro, após uma performance já robusta no primeiro semestre. Segundo o BBA, muitos investidores estão consolidando lucros ou aguardando novos desdobramentos antes de aumentar suas posições.
Conclusão: alerta para bancos e investidores
A combinação de queda nas concessões de crédito, alta inadimplência e pressão nas provisões para perdas cria um ambiente mais desafiador para os grandes bancos brasileiros. A temporada de balanços, que começa nos próximos dias, será decisiva para entender como cada instituição está reagindo a esse cenário de deterioração na qualidade do crédito.
Se por um lado a desaceleração pode ser vista como um movimento esperado após um período de forte crescimento, por outro, a persistência da inadimplência levanta preocupações sobre a resiliência financeira das famílias e empresas brasileiras.