Brasileiros superestimam conhecimento financeiro e caem em erros básicos, revela pesquisa global
Estudo internacional expõe a distância entre a autoconfiança dos brasileiros e sua real compreensão sobre finanças, destacando o impacto do Efeito Dunning Kruger na vida econômica

A Pesquisa Global de Educação Financeira 2025, realizada pelo Santander em parceria com a Ipsos UK, revela um cenário paradoxal entre os brasileiros. Embora 73% afirmem ter boa gestão do próprio dinheiro, a maioria não domina conceitos econômicos elementares. Esse descompasso é um exemplo clássico do Efeito Dunning Kruger, fenômeno psicológico em que pessoas com baixo nível de conhecimento acreditam saber mais do que realmente sabem. O estudo ouviu quase 20 mil pessoas em dez países, incluindo mais de duas mil no Brasil, e mostrou que a autoconfiança não acompanha a capacidade real de compreensão financeira.
Brasileiros erram noções básicas sobre inflação e juros
A pesquisa incluiu duas perguntas simples para medir conhecimento financeiro básico. A primeira tratava de inflação e questionava o que ocorre com os preços quando a taxa anual cai pela metade, mas permanece positiva. Apenas 32% dos entrevistados no mundo responderam corretamente que os preços seguem subindo, apenas de forma mais lenta. No Brasil, o índice de erro chegou a 73%, evidenciando um entendimento limitado sobre como a inflação afeta o custo de vida.
A segunda pergunta abordava juros compostos ao questionar quanto haveria em uma conta após aplicar 100 dólares a uma taxa de 2% ao ano. Mesmo sendo uma resposta intuitiva, que indica um valor acima de 100 dólares, 67% dos brasileiros erraram, acima da média global de 48%. O levantamento reforça que a fragilidade em conceitos básicos está presente em todas as regiões analisadas.
Educação financeira é desejo da maioria, mas acesso ainda é limitado
A pesquisa aponta que 84% das pessoas ao redor do mundo gostariam de ter aprendido educação financeira na escola, número que sobe para 91% entre os brasileiros. Segundo o relatório, esse interesse supera matérias tradicionais como História e Ciências. Para a presidente global do Santander, Ana Botín, a educação financeira é um pilar fundamental para uma sociedade mais próspera, já que influencia diretamente autonomia, planejamento e capacidade de enfrentar crises econômicas.
O que as pessoas querem aprender sobre dinheiro
O interesse pelos temas financeiros é semelhante entre os países analisados. Os assuntos mais desejados são investimentos, poupança, impostos e orçamento doméstico. No Brasil, o desejo por aprender sobre investimentos e poupança é ainda maior do que a média global, reflexo de vulnerabilidades reais como a dificuldade de formar reservas. Dados nacionais mostram que apenas um quinto das famílias consegue poupar, e a taxa média de poupança é de 1,8% da renda disponível.
Em outras regiões, as prioridades variam conforme o contexto. No Reino Unido, por exemplo, previdência é o tema mais buscado, enquanto nos Estados Unidos os investimentos lideram o interesse, já que a cultura de participação no mercado acionário é mais consolidada.
Brasil lidera adoção digital e uso de ferramentas financeiras online
A digitalização financeira é um dos pontos em que o Brasil se destaca positivamente. O país foi o único onde o uso de ferramentas digitais para gerir o dinheiro alcançou o mesmo nível dos métodos tradicionais. Cerca de 59% dos brasileiros utilizam aplicativos ou plataformas digitais semanalmente para acompanhar suas finanças, enquanto apenas 13% nunca recorrem a esses recursos. O estudo mostra que o Brasil está entre os mercados mais avançados em tecnologia financeira, impulsionado principalmente pelo uso massivo do Pix.
Monitoramento financeiro cresce, mas segurança econômica ainda é baixa
Segundo o levantamento, 84% dos brasileiros afirmam acompanhar seus gastos regularmente, percentual acima da média global. No entanto, esse comportamento não significa estabilidade financeira. Apenas 47% conseguem manter uma reserva suficiente para sustentar três meses de despesas, um índice que revela vulnerabilidade significativa em situações de emergência. Além disso, somente 28% dos brasileiros fizeram algum curso de educação financeira, ainda que esse percentual seja maior do que a média internacional.
Quem deve ensinar educação financeira
A pesquisa mostra consenso sobre os responsáveis pela disseminação do conhecimento financeiro.
Entre os brasileiros, a maioria considera que escolas, pais, bancos e governo devem ter participação ativa na formação financeira da população. A avaliação segue tendências globais e reforça a importância de iniciativas públicas e privadas para ampliar o acesso a esse conteúdo.
Os impactos macroeconômicos são relevantes. Cálculos citados no estudo mostram que melhorias na alfabetização financeira poderiam adicionar bilhões de libras esterlinas à economia do Reino Unido todos os anos. A OCDE destaca ainda que populações com maior conhecimento financeiro têm menor propensão ao endividamento e maior resiliência em crises.
Educação financeira como caminho de autonomia e progresso
Os resultados da pesquisa deixam claro que existe no Brasil um desejo crescente por mais conhecimento financeiro, ao mesmo tempo em que persiste uma lacuna significativa entre intenção e prática. A combinação de autoconfiança elevada, baixa compreensão real e pouca educação formal gera vulnerabilidades importantes. O avanço da educação financeira pode reduzir riscos, melhorar decisões individuais e fortalecer a economia como um todo, tornando o tema central para o desenvolvimento do país.







