Crédito e Cobrança

Nome negativado e racismo travam crédito para empreendedoras

Estudo revela como a desigualdade e a negativação limitam o acesso ao crédito entre mulheres empreendedoras no Brasil

O acesso ao crédito continua sendo um dos maiores obstáculos para mulheres empreendedoras brasileiras em 2025. De acordo com a pesquisa “Empreendedoras e Seus Negócios 2025”, conduzida pelo Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME), muitas mulheres ainda enfrentam dificuldades para obter financiamento, principalmente devido à negativação do nome e à discriminação durante o processo de solicitação.

O levantamento também mostra que, mesmo com o aumento do número de mulheres empreendendo, a informalidade e o racismo estrutural continuam a impactar diretamente as oportunidades de crescimento e sustentabilidade financeira desses negócios.

A informalidade reforça as barreiras no acesso ao crédito

Um dos pontos mais reveladores do estudo é que a maioria das empreendedoras busca crédito como pessoa física, e não por meio do CNPJ do negócio. Essa tendência está diretamente ligada à alta taxa de informalidade entre os empreendimentos liderados por mulheres.

Em 2025, 57,3% das entrevistadas afirmaram não possuir dívidas, o que indica um comportamento mais cauteloso diante das incertezas econômicas. No entanto, a negativação pessoal afeta 72,1% delas, evidenciando que muitas recorrem ao crédito pessoal para manter as operações em funcionamento, evitando comprometer o CNPJ.

Bancos privados e fintechs lideram a concessão de crédito

Entre as mulheres que buscaram crédito, 52,4% recorreram a bancos privados, 39,6% a fintechs e 33,2% a bancos públicos. Apesar disso, 65,5% nunca buscaram crédito para o negócio, o que demonstra um receio persistente em relação ao endividamento ou à rejeição por parte das instituições financeiras.

As fintechs aparecem como as principais alternativas para empréstimos de menor valor e com liberação mais rápida, especialmente para pessoas físicas. Já os bancos públicos e cooperativas de crédito tendem a ser procurados por empreendedoras com empresas formalizadas, que buscam valores mais altos e condições diferenciadas.

Racismo e discriminação ainda dificultam o acesso

A desigualdade racial também é um fator determinante no acesso ao crédito. Segundo a fundadora do IRME, Ana Fontes, mulheres negras têm 29% de seus pedidos negados, enquanto entre as mulheres brancas esse número cai para 23%. Além disso, os valores concedidos às empreendedoras negras são significativamente menores: 37% delas receberam até R$ 2 mil, contra 22% das mulheres brancas. Apenas 6% das empreendedoras negras conseguiram empréstimos acima de R$ 20 mil, frente a 20% das brancas.

Entre as mulheres que tiveram crédito negado, 30,5% afirmaram ter sofrido algum tipo de discriminação, número que sobe para 35,5% entre as que ainda aguardavam resposta. As principais causas citadas foram gênero, raça, classe social, território e escolaridade.

Impacto da negativa de crédito nos negócios femininos

A negativa de crédito tem efeitos diretos no planejamento e na sobrevivência dos empreendimentos. De acordo com a pesquisa, 26,3% das mulheres tiveram o pedido recusado, e 8,6% ainda aguardam retorno.

O principal motivo para a recusa é a negativação do nome (58,5%), seguida pela falta de garantias ou comprovação de renda. Entre as consequências, 23,4% relataram impacto direto no planejamento do negócio, e 5,3% disseram que a recusa afetou a renda familiar, evidenciando a importância do crédito para a sustentabilidade econômica das famílias chefiadas por mulheres.

O perfil das empreendedoras brasileiras em 2025

O levantamento mostra que as empreendedoras brasileiras são, em sua maioria, mulheres negras (49%) e brancas (48%), com idades entre 30 e 59 anos — predominando a faixa dos 40 aos 49 anos. A renda média mensal é de R$ 2.400, e 58,3% são chefes de família, sustentando outras pessoas com essa renda.

O setor de alimentação e gastronomia lidera com 19,6% das empreendedoras, seguido por beleza, estética e bem-estar (16,7%). Segmentos como tecnologia (2,4%) e transporte (1,8%) ainda têm baixa representatividade feminina, o que reforça a necessidade de políticas públicas e iniciativas de incentivo à diversidade nos setores de maior potencial de crescimento.

FIRME: fundo de impacto e renda para mulheres empreendedoras

Como resposta a esse cenário, o Instituto RME lançou o FIRME – Fundo de Impacto e Renda para Mulheres Empreendedoras, que disponibiliza R$ 2,5 milhões em crédito orientado para apoiar mulheres em pequenos negócios em todo o país, com foco nas regiões Norte e Nordeste.

O programa combina financiamento, capacitação e mentorias individuais, em parceria com o Banco Pérola, que possui mais de 16 anos de experiência em microcrédito produtivo orientado. O lançamento oficial acontece em 5 de novembro, em uma live no YouTube da Rede Mulher Empreendedora.

Caminhos para um crédito mais inclusivo

A pesquisa reforça que o acesso ao crédito é um instrumento essencial de igualdade econômica e social. No entanto, o cenário atual mostra que mulheres empreendedoras — especialmente as negras e periféricas — ainda enfrentam barreiras estruturais que limitam o crescimento de seus negócios.

Iniciativas como o FIRME e a atuação de fintechs com modelos de crédito mais flexíveis apontam para um futuro mais inclusivo, mas a mudança efetiva depende da transformação das políticas financeiras e do combate à discriminação sistêmica.

Redação Contraponto

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