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Pix Automático completa um mês: entenda por que a nova modalidade ainda engatinha

O Pix Automático, lançado pelo Banco Central como a mais recente inovação do sistema de pagamentos instantâneos, completou seu primeiro mês em operação com uma movimentação ainda tímida. Apesar do potencial para transformar a forma como consumidores e empresas lidam com cobranças recorrentes, os dados iniciais apontam que o mercado ainda está se adaptando ao novo modelo.

O que é o Pix Automático e como ele funciona?

O Pix Automático foi criado para substituir o antigo Débito Direto Autorizado (DDA), oferecendo uma alternativa moderna e mais segura para pagamentos recorrentes, como contas de água, luz, internet, mensalidades de academias e plataformas de streaming. A proposta é simples: o usuário autoriza uma única vez a cobrança de um valor recorrente — com limite e periodicidade definidos — e, a partir disso, o débito ocorre automaticamente na conta escolhida.

Diferente do Pix Agendado Recorrente, o Pix Automático traz mais autonomia para o usuário, que pode ajustar o limite e cancelar a autorização a qualquer momento. O pagamento é feito apenas para Pessoas Jurídicas (PJs), tornando-o ideal para empresas que prestam serviços mensais.

Adoção lenta e desafios operacionais

Mesmo com a promessa de ser mais eficiente que o débito automático tradicional, o Pix Automático ainda patina na adesão. De acordo com dados preliminares do Banco Central, divulgados na segunda quinzena de junho, o volume de transações realizadas com a nova modalidade somou apenas R$ 3 mil — valor ínfimo quando comparado aos R$ 6,1 trilhões movimentados pelo Pix de forma geral no mesmo mês.

O principal motivo para essa lentidão está na estrutura de implementação. Atualmente, 54 instituições estão cadastradas como iniciadoras no ecossistema do Open Finance, mas apenas 12 oferecem de fato o serviço de Pix Automático a seus clientes. E entre elas, nenhuma é um dos cinco grandes bancos do país — Itaú, Bradesco, Santander, Caixa Econômica ou Banco do Brasil.

Por que os grandes bancos ainda não aderiram?

A implementação do Pix Automático exige mais do que simples atualização de interface. Para que uma instituição financeira atue como “pagadora”, ela precisa desenvolver uma infraestrutura mais complexa e realizar testes de ponta a ponta com empresas que vão emitir as cobranças.

Segundo Marcelo Rosa, diretor de negócios da Dimensa, a maior parte das instituições, por ora, optou por atuar apenas como “recebedora” — ou seja, estão preparadas para receber pagamentos via Pix Automático, mas não para iniciá-los. A função de pagadora exige mais tempo, recursos e, principalmente, parcerias estratégicas para garantir segurança e estabilidade nas transações.

O papel das empresas e o desafio cultural

De outro lado, as empresas também precisam se adaptar. Plataformas como academias, cursos online e streamings precisam integrar seus sistemas aos iniciadores de pagamento — fintechs ou bancos com autorização do BC —, o que nem sempre é simples ou barato.

Há também uma “curva de conhecimento” e uma mudança cultural envolvida. Como o Pix Automático é um produto novo, a adesão depende não apenas da tecnologia, mas da estratégia comercial das empresas e da aceitação dos consumidores, como explica Elcio Calefi, diretor da Open Finance Brasil.

Experiência positiva de quem já usa

Apesar do uso ainda restrito, as experiências iniciais são promissoras. A analista de fraudes Monique De Cól, por exemplo, já utiliza o Pix Automático para pagar sua operadora de celular e afirma que o sistema tem funcionado melhor do que o antigo débito automático, que já lhe causou problemas de inadimplência.

Além disso, fintechs como Asaas e Cora estão liberando gradualmente a funcionalidade para suas contas PJ, priorizando pequenos e médios empreendedores que buscam automatizar cobranças e ter mais controle do fluxo de caixa.

O futuro do Pix Automático

Especialistas acreditam que a popularização do Pix Automático depende de uma combinação de fatores: mais bancos atuando como iniciadores, parcerias com grandes empresas, campanhas de educação financeira e avanços na agenda tecnológica do setor.

O sistema tem tudo para competir diretamente com o cartão de crédito, principalmente em cobranças recorrentes. No entanto, sua consolidação será gradual, conforme mais instituições passem a oferecer a funcionalidade de forma ativa e não apenas receptiva, e as empresas consigam integrar seus sistemas de cobrança à infraestrutura do Open Finance.

Redação Contraponto

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