Pandemia de Golpes: 28 Milhões de Vítimas do Pix e o Brasil Virando Paraíso dos Estelionatários

O Brasil conseguiu um título que ninguém queria: o de campeão mundial da fraude digital.
Um levantamento exclusivo divulgado pelo Jornal da Record revelou que 28 milhões de pessoas foram vítimas de golpes com Pix só este ano.
Isso não é mais “caso isolado”. É pandemia de golpes.
E não é só esse estudo: dados da Associação de Defesa de Dados Pessoais e do Consumidor (ADDP) mostram que 28 milhões de fraudes relacionadas ao Pix foram registradas entre janeiro e setembro de 2025, confirmando que o sistema de pagamentos instantâneos virou o alvo preferencial das quadrilhas digitais.
Pra completar o cenário, pesquisas do Datafolha e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam que cerca de 24 milhões de brasileiros foram vítimas de golpes com Pix ou boletos em apenas 12 meses, com prejuízos próximos de R$ 29 bilhões.
Se a gente amplia a lente, a FEBRABAN mostra que 39% dos brasileiros já caíram em algum golpe financeiro virtual.
Tradução: quase 4 em cada 10 pessoas que você conhece já perderam dinheiro para criminosos digitais.
Brasil, paraíso dos golpes?
O problema não é “só o Pix”. Ele virou o meio de pagamento oficial do crime organizado.
Por quê?
- É instantâneo
- É 24/7
- Tá na mão de todo mundo
- E o criminoso consegue esvaziar a conta da vítima em segundos
Levantamentos recentes indicam que fraudes financeiras já representam 47% de todos os crimes digitais no país, seguidas de roubo de identidade, vazamentos de dados e invasões.
Outro dado que dói: pessoas acima de 50 anos concentram 53% das vítimas.
Ou seja, a galera que menos domina tecnologia é justamente a que mais paga a conta da falta de proteção sistêmica.
E não é por falta de tentativas de golpe.
Estimativas indicam que mais de 4,5 mil pessoas são alvo de tentativas de golpes financeiros por hora no Brasil, algo em torno de 75 brasileiros por minuto.
É literalmente uma esteira de ataque.
Principais golpes envolvendo Pix hoje
Os números são grandes, mas os roteiros se repetem. Entre os principais golpes com Pix, estão:
- Golpe do “filho” ou “falsa filha” no WhatsApp
Criminosos se passam por filho/filha com número novo, criam vínculo conversando por dias e depois pedem dinheiro “urgente”. Muitas vezes, idosos são o alvo principal. - Golpe da falsa central de atendimento
O bandido se passa por banco, manda SMS ou liga, fala de uma suposta fraude, pede confirmação de códigos e, dali pra frente, sequestra a conta da vítima. - Phishing e links falsos
Mensagens com promoções, supostos cancelamentos de compra, falsas promoções de varejo ou “ofertas imperdíveis” levam a páginas clonadas que capturam senhas, tokens e dados sensíveis. - Roubo ou furto de celular + tomada de conta
O criminoso furta o celular, reseta senhas, acessa e-mail, redes sociais e aplicativos bancários, troca credenciais e faz uma sequência de Pix até “limpar” o limite diário. - Golpes de investimento e “dinheiro fácil”
Falsas corretoras, pirâmides, influencers fajutos prometendo retorno alto e rápido, sempre com pagamento inicial via Pix. Quando a vítima percebe, o dinheiro já rodou por dezenas de contas laranjas. - Sequestro-relâmpago versão 2.0
Quadrilhas obrigam a vítima, sob ameaça, a fazer várias transferências via Pix. Esse tipo de crime ressurgiu com força depois da popularização do sistema. - Golpes com deepfake de voz e vídeo
Inteligência artificial é usada para imitar a voz de familiares, chefes ou parceiros comerciais, aumentando drasticamente a chance da vítima confiar e transferir.
O que o governo está fazendo – e o que ainda falta
Não dá pra dizer que o Estado está parado. Algumas medidas importantes foram adotadas ou reforçadas:
- Mecanismo Especial de Devolução (MED) do Pix
Criado pelo Banco Central em 2021, o MED permite que bancos bloqueiem e devolvam valores em casos de suspeita de fraude, desde que o pedido seja feito em até 80 dias.
Em agosto de 2025, o BC anunciou ajustes para aprimorar o MED, tentando deixar o mecanismo mais ágil e efetivo para recuperar dinheiro de vítimas. - Novas regras e limites de segurança
Depois do aumento dos sequestros-relâmpago com uso de Pix, o Banco Central criou limites de valores para operações noturnas e mecanismos extras de análise de risco e alertas de transações atípicas. Wikipédia - Serviço para bloquear abertura de contas e chaves Pix fraudulentas
Em dezembro de 2025, o BC lançou um serviço que permite bloquear preventivamente a abertura de contas e o registro de chaves Pix em nome de pessoas que foram alvo de golpes ou tentativas de fraude, além de facilitar o rastreamento e bloqueio de dinheiro suspeito. - Projetos de lei no Congresso
No Senado, tramitam propostas pra reforçar a responsabilidade de bancos e plataformas em casos de fraudes com Pix, melhorar ressarcimento às vítimas e endurecer penas para organizações criminosas que vivem de golpes digitais.
Tudo isso é positivo, mas ainda está longe de ser suficiente.
O crime já opera como indústria: usa call centers clandestinos, inteligência artificial, bases de dados vazadas e contas laranja em escala nacional. Enquanto isso, a vítima continua tendo que brigar sozinha com banco, boletim de ocorrência, PROCON, advogado e, muitas vezes, sem conseguir ver o dinheiro de volta.
Por que esse cenário virou “normal” no Brasil?
Alguns fatores que ajudam a explicar:
- Baixo risco x alto retorno para o criminoso:
Prisão é rara, condenação efetiva é mais rara ainda, cumprimento integral de pena então… quase lenda urbana. - Excesso de burocracia para a vítima e pouca dificuldade para o golpista
O criminoso resolve tudo pelo celular, em minutos.
A vítima resolve tudo em meses, com sorte. - Educação digital quase inexistente
A gente alfabetiza pra ler texto, mas não alfabetiza pra reconhecer golpe.
Escola, empresa, governo e bancos ainda tratam isso como “campanha de marketing”, não como política pública de segurança. - Uso massivo de dados vazados
Vazamentos de grandes plataformas e empresas abastecem as quadrilhas com CPF, telefone, endereço, e-mail, hábitos de consumo e até histórico de compras – o script perfeito pra um golpe com cara de verdade.
O que PRECISA mudar:
Se a gente quiser sair do status de “paraíso dos golpes”, alguns pontos são urgentes:
- Responsabilidade solidária mais dura para instituições financeiras e grandes plataformas
Se o sistema que eles oferecem é o canal do crime, eles têm que dividir a conta do prejuízo com muito mais frequência. Isso força investimento pesado em prevenção. - MED turbinado e automático em mais cenários
O Mecanismo Especial de Devolução precisa ser mais rápido, menos burocrático e com prazos ampliados em situações de crime organizado estruturado. - Política criminal específica para crime digital em massa
Não dá mais pra tratar fraude digital igual furto simples.
Estamos falando de organizações que movimentam milhões, usam tecnologia sofisticada e exploram idosos, pessoas vulneráveis e pequenas empresas. - Educação digital como política de Estado
Escola, SUS, CRAS, empresas, bancos, todos falando a mesma língua:
“Desconfie sempre, confira duas vezes, só transfira depois de validar a fonte por outro canal.”
Como o cidadão pode se proteger na prática
Algumas atitudes ajudam a sair da mira ou, pelo menos, reduzir o impacto:
- Desconfiar de qualquer pedido de dinheiro “urgente” vindo por WhatsApp, SMS ou ligação – mesmo que tenha foto, nome ou voz parecidos com os de alguém próximo.
- Confirmar em outro canal: ligar para o número antigo da pessoa, mandar áudio, fazer videochamada. Golpista odeia quando você muda o canal.
- Ativar dupla autenticação em e-mail, redes sociais e apps bancários.
- Utilizar senha forte e diferente para banco, e-mail e redes.
- Em caso de golpe com Pix:
- comunicar o banco imediatamente e solicitar o MED;
- registrar boletim de ocorrência;
- guardar prints, protocolos e comprovantes;
- se necessário, buscar apoio jurídico para responsabilizar instituições quando falharem na segurança.






