O recuo das dívidas das famílias em novembro indica respiro financeiro no fim do ano
Dados da CNC mostram melhora discreta na inadimplência, mas cenário ainda é de atenção para 2025

O levantamento da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgada nesta quinta-feira (4), trouxe um dado importante para o fim de ano. Depois de nove meses consecutivos de alta, novembro registrou a primeira queda no percentual de famílias endividadas, indicando um pequeno alívio no orçamento. O recuo foi de 0,3%, passando de 79,5% em outubro para 79,2% em novembro. Ainda que o indicador retorne ao nível de setembro, continua acima do patamar observado no mesmo mês de 2024, quando estava em 77%.
Inadimplência diminui, mas permanece superior ao ano anterior
O índice de famílias com contas em atraso também apresentou melhora, caindo de 30,5% para 30%. Apesar da redução, o dado segue acima dos 29,4% registrados em novembro do ano anterior. O percentual de consumidores que afirmam não ter condições de pagar dívidas atrasadas também recuou, chegando a 12,9%, o menor nível desde agosto. Essa combinação sugere maior organização financeira típica do fim de ano e reforça o impacto do pagamento do décimo terceiro salário no equilíbrio das contas.
A percepção da dívida melhora, mas a profundidade do endividamento preocupa
Apesar do alívio geral, a composição do endividamento exige atenção. A parcela das famílias que se consideram muito endividadas caiu para 16%, enquanto aumentou a fatia que se declara pouco endividada. Em contraste, o número de pessoas com dívidas há mais de um ano subiu pelo terceiro mês consecutivo, alcançando 32,1%. Esse comportamento evidencia que, embora haja redução momentânea, muitos consumidores ainda carregam dívidas antigas e difíceis de quitar.
A inadimplência prolongada perde força
Outro ponto positivo é a redução no grupo com atrasos superiores a 90 dias, que passou de 49% para 48,5%. Essa queda representa menor pressão dos juros acumulados e sinaliza um movimento de regularização. Entre as famílias com maior comprometimento de renda, o percentual das que destinam mais de metade dos ganhos ao pagamento de dívidas caiu para 18,8%. Ainda assim, a maioria permanece comprometendo entre 11% e 50% da renda, com comprometimento médio de 29,5%.
O preço do crédito ainda pesa no orçamento das famílias
Mesmo com indicadores mais favoráveis, o mercado de crédito segue desafiador. A taxa de inadimplência de 90 dias em operações com recursos livres atingiu 6,7% em outubro, totalizando R$ 159 bilhões em atrasos, o maior volume já registrado. Além disso, o ritmo de concessões de crédito desacelerou, reflexo dos juros elevados e da menor demanda por financiamento. Esses fatores mostram que, apesar de um mês mais positivo, o ambiente financeiro continua exigindo cautela.
Diferenças por faixa de renda revelam comportamentos distintos
A queda no endividamento ocorreu na maior parte das faixas de renda, sendo mais significativa entre famílias com ganhos superiores a dez salários mínimos. Já o grupo com renda entre cinco e dez salários mínimos foi o único a registrar aumento no mês. A inadimplência caiu em todas as faixas, com destaque para as famílias que ganham entre três e cinco salários mínimos, que também lideraram a redução no número de pessoas que afirmam não ter condições de pagar dívidas atrasadas. Isso demonstra um esforço maior desse grupo para reorganizar seu orçamento.
O impacto das compras de fim de ano e o comportamento do consumidor
Segundo análise da CNC, o comércio é diretamente influenciado pela dinâmica do crédito. O período de Black Friday e as compras de Natal impulsionam o consumo, mas muitos brasileiros têm utilizado o décimo terceiro salário como estratégia para quitar faturas e evitar juros elevadíssimos, especialmente no cartão de crédito. Esse movimento ajuda a conter a inadimplência, embora o risco continue alto.
Perspectivas para o fechamento de 2025
A projeção da CNC indica que, mesmo com o recuo esperado para dezembro, 2025 deve encerrar com aumento tanto no endividamento quanto na inadimplência em relação a 2024. Isso reforça que o custo do crédito continuará sendo um tema central na economia, exigindo mais planejamento e educação financeira das famílias.







