Ecossistema de Crédito e Cobrança no Digital

O episódio 217 do ContraPonto Podcast, comandado por Pedro Felipe e Marcos Guerra, foi um mergulho profundo no futuro do crédito e da cobrança no ambiente digital brasileiro. O convidado, Aldo Cardamone, trouxe uma visão madura e realista sobre um mercado que vive uma transformação acelerada e que exige competências que vão muito além do tradicional “ligar cobrando”.

Com experiência acumulada em bancos, securitizadoras, call centers e fintechs como Mercado Livre / Mercado Pago, Aldo hoje está à frente da Ktei, plataforma que pretende consolidar um ecossistema completo de crédito e cobrança. A conversa com Pedro e Guerra foi direta, técnica e, ao mesmo tempo, recheada de insights práticos sobre o que realmente está movendo o setor.

A trajetória de Aldo e o amadurecimento da cobrança digital

Aldo relembra sua entrada no mercado ainda jovem, passando por ambientes formais de cobrança, época de terno e gravata, até chegar em estruturas mais modernas, orientadas por dados e tecnologia. Segundo ele, a cobrança deixou de ser o “fim da linha” e passou a ser um ponto estratégico da jornada financeira, capaz de reter, educar e até reativar clientes para ofertas futuras de crédito.

Pedro e Guerra reforçam que Aldo é uma das vozes mais atentas às mudanças que o setor vive, desde a digitalização acelerada até a necessidade de transformar a cobrança em experiência, e não apenas em processo.

Dados como o novo motor da operação de crédito e cobrança

Um dos pontos mais fortes da entrevista é a visão de Aldo sobre o papel dos dados. Ele afirma, sem rodeios, que dados são o verdadeiro ativo do ecossistema, superando ferramentas, canais e até custos operacionais. Não se trata mais de acumular informações, mas de interpretá-las, conectar padrões e prever comportamentos.

Ele explica que segmentações simples, como “dias de atraso”, ficaram obsoletas. Hoje, entender a probabilidade de pagamento requer modelos preditivos robustos, clusterização inteligente e uma capacidade constante de recalibrar estratégias. O digital não barateou a cobrança; ao contrário, ela ficou mais cara e por isso, mais dependente de precisão.

Branding como ferramenta operacional na cobrança

Em um setor onde a maioria das empresas ainda se comunica como se estivessem nos anos 2000, o ContraPonto trouxe um alerta decisivo: branding é essencial na cobrança digital. Aldo explica que a forma como o nome da empresa aparece no celular do cliente determina se a pessoa atende ou ignora uma ligação.

Chamadas verificadas, contas oficiais no WhatsApp, uso de STIR/SHAKEN e RCS não são perfumaria. São ferramentas que aumentam credibilidade, reduzem rejeição e diminuem o desgaste emocional. Para Pedro e Guerra, essa visão rompe com a ideia de que marca é algo “decorativo”. Na cobrança moderna, ela é parte da estrutura tática da operação.

Pix como catalisador de conversão e redução de atrito

Um dos trechos mais práticos do episódio gira em torno do papel do Pix na cobrança. Aldo relata casos em que o cliente simplesmente responde “manda o Pix”, sem diálogo, sem justificativa, sem negociação. Isso revela um consumidor que quer resolver rápido, sem atrito, e que só precisa de um caminho confiável e imediato para regularizar sua situação.

O Pix tornou a cobrança mais direta, mais fluida e mais eficiente. Para Aldo, operações que ainda dificultam esse acesso estão deixando dinheiro parado, por falta de adaptação a uma ferramenta que já é dominante.

Open finance, crédito invisível e a construção dos novos ecossistemas

A conversa também abre espaço para discutir como o open finance está reconfigurando o mercado. Com acesso mais profundo a dados financeiros, credores conseguem avaliar melhor riscos e evitar ciclos de superendividamento. Aldo reforça que isso permite uma análise mais justa, tanto para quem merece crédito e não conseguia obtê-lo quanto para quem já está saturado de dívidas.

Outro conceito-chave é o crédito invisível, onde o cliente não precisa mais pedir crédito: ele aparece automaticamente. Pedro e Guerra destacam que essa é a lógica dos grandes marketplaces, como Mercado Livre, e que está começando a se espalhar para outras empresas que querem construir super apps financeiros.

Aldo deixa claro que esse é o caminho da Ktei: criar um ambiente onde o cliente possa consultar score, negociar dívidas, pagar via Pix e até acessar crédito pré-aprovado, tudo no mesmo lugar. Isso gera recorrência, confiança e principalidade, objetivo final de qualquer ecossistema sólido.

Por que empresas de cobrança ainda não alcançam o nível de marca do Serasa

Quando os hosts trazem essa questão, Aldo dá uma resposta franca: trata-se de uma união de fatores. O Serasa acumulou décadas de brand equity, construiu feirões massivos, tem capacidade de investimento muito acima da média e consegue entrar rapidamente em carteiras de credores sem a burocracia tradicional. Isso cria um ciclo onde marca, volume e resultado se retroalimentam.

Mesmo assim, ele reforça que o mercado está amadurecendo e que empresas mais modernas que unem dados, branding e tecnologia, poderão ocupar novos espaços. Não será uma corrida fácil, mas existe terreno fértil para inovação e expansão.

Uma nova visão para a cobrança: relacionamento, jornada e sustentabilidade

No final do episódio, Pedro e Guerra destacam que Aldo representa uma nova forma de pensar o setor. Ele não enxerga a cobrança como algo isolado, e sim como parte de um ecossistema maior, onde educação financeira, dados, confiança e tecnologia se entrelaçam para criar uma experiência diferente , mais humana, mais eficiente e mais estratégica.

Aldo reforça que quem não compreender essa mudança ficará preso em modelos caros, improdutivos e cada vez menos aceitos pelo consumidor. O futuro da cobrança passa por inteligência, não por insistência.

Assista ao episódio completo

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