As principais causas da inadimplência no Brasil, segundo pesquisa

O número de famílias brasileiras endividadas atingiu patamares recordes, mesmo em um cenário de queda no desemprego. Um levantamento recente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com a Offerwise Pesquisas, revelou os principais fatores que têm levado o consumidor à inadimplência. Neste artigo, vamos apresentar os dados, entender os motivos e as consequências desse cenário, além de apontar caminhos para quem deseja sair dessa situação.
Quais são os principais motivos para a inadimplência?
De acordo com a pesquisa, os imprevistos financeiros continuam sendo a principal causa da inadimplência no Brasil. Entre os entrevistados, 19% relataram problemas inesperados como questões de saúde, falecimento de familiares e despesas emergenciais com manutenção da casa ou carro.
Em seguida, 17% apontaram a falta de controle financeiro pessoal, enquanto 15% sofreram com queda de renda e 14% relataram aumento excessivo de preços como fatores que os levaram ao atraso nos pagamentos.
Outro destaque é o impacto do consumo por impulso, frequentemente influenciado por promoções e pelas redes sociais, evidenciado pelo comportamento de 43% dos inadimplentes que compraram sem considerar o orçamento disponível.
A pesquisa também revelou quais contas mais frequentemente ficam em aberto. Entre os consumidores inadimplentes:
- Cartão de crédito: 15%
- Contas de água e luz: 10%
- Cheque especial e empréstimos: 9% cada
- Telefone: 8%
Já entre os negativados, a liderança continua com o cartão de crédito (23%), seguido de empréstimos em bancos e financeiras (16%) e crediário (12%).
Esse dado reforça a importância de uma boa gestão do crédito pessoal, já que muitas vezes o descontrole com essas linhas de crédito leva à exclusão financeira e dificuldade de negociação futura.
Como o comportamento emocional influencia o endividamento
O estudo também apontou que as emoções têm papel relevante na inadimplência. 19% dos entrevistados confessaram gastar para aliviar sentimentos negativos, enquanto 39% reconhecem que o ambiente digital contribui para decisões financeiras impulsivas.
Além disso, 45% relatam se sentir pressionados a consumir mais quando estão em companhia de amigos ou familiares. Esse padrão de comportamento pode agravar a situação financeira e dificultar a retomada do equilíbrio no orçamento.
Compromissos prioritários e o impacto das dívidas
Apesar das dificuldades, os brasileiros seguem priorizando algumas despesas básicas e serviços considerados essenciais. Entre os itens que mais recebem atenção no pagamento estão:
- Internet: 73%
- Água e luz: 68%
- Telefone: 65%
- TV por assinatura: 59%
- Plano de saúde: 48%
Por outro lado, os itens mais comprados no crédito, sem planejamento de pagamento, incluem supermercado (52%), roupas e calçados (36%), remédios (34%), e combustível (22%).
A difícil escolha entre pagar dívidas e manter contas básicas
Um dado preocupante é que 77% dos inadimplentes afirmam que pagar as dívidas compromete o pagamento de contas básicas, como água, luz e telefone. E para 51%, a principal consequência imediata é a negativação do nome.
Ainda assim, 84% afirmam ter intenção de regularizar as pendências nos próximos três meses. Para isso, muitos planejam cortar gastos com lazer (50%), delivery (49%) e vestuário (43%).
O peso das dívidas na renda familiar
Outro ponto relevante é o quanto as dívidas consomem da renda mensal:
- 26% afirmam que as dívidas consomem entre 50% e 75% da renda
- 22% comprometem entre 25% e 50%
- 20% até 25% dos rendimentos
O valor médio das dívidas declaradas é de R$ 2.444, com 21% dos inadimplentes devendo entre R$ 2,5 mil e R$ 7,5 mil.
Estratégias para sair da inadimplência
Entre os inadimplentes que pretendem quitar suas dívidas nos próximos meses, as estratégias mais citadas são:
- Cortar gastos (33%)
- Negociar parcelamentos (27%)
- Realizar trabalhos extras (25%)
- Usar dinheiro de bônus, comissões ou férias (23%)
Porém, o principal desafio relatado é abrir mão de itens não essenciais e lidar com a falta de recursos disponíveis.
A inadimplência no Brasil é consequência de uma combinação de fatores econômicos, emocionais e sociais. Além da alta dos preços e dos juros, o comportamento impulsivo e a dificuldade de planejamento financeiro são vilões recorrentes.
Para reverter esse quadro, além de programas de renegociação de dívidas, é essencial investir em educação financeira, controle de gastos e uso consciente do crédito. Assim, será possível evitar que o pagamento de dívidas comprometa itens essenciais e restaurar o equilíbrio financeiro das famílias.