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A Nova Corrida do Ouro: Quem Vencerá a Guerra do Processamento na Era da IA?

Por Diego Dalledone Criador do curso IA NO POPULAR e Diretor da TRABBE 27 de Outubro de 2025

Vivemos o início de uma nova revolução industrial, impulsionada pela inteligência artificial (IA). De assistentes virtuais em nossos celulares a diagnósticos médicos que salvam vidas, a IA já está remodelando nosso mundo. Contudo, por trás dessa transformação silenciosa, uma batalha feroz está sendo travada. Não é uma guerra por território ou recursos naturais, mas por algo muito mais fundamental no século XXI: o poder de processamento. A grande verdade da nossa era é que quem conseguir processar mais dados, de forma mais rápida e eficiente, será o rei do amanhã.

O Dilema da Energia: O Combustível da Inteligência

Toda vez que você faz uma pergunta a um chatbot como o ChatGPT ou usa um aplicativo de mapas para encontrar o melhor caminho, está acionando uma cadeia de eventos que consome uma quantidade surpreendente de energia. Pense na IA como um cérebro digital insaciável. Para que ele aprenda, raciocine e crie, precisa realizar trilhões de cálculos por segundo. E cada um desses cálculos consome eletricidade.

Os números são impressionantes e revelam o tamanho do desafio. Uma única busca na internet pode consumir energia suficiente para manter uma lâmpada acesa por vários segundos. O treinamento de um grande modelo de IA, que pode levar meses, consome o equivalente à energia de uma cidade pequena durante um ano inteiro. Os gigantescos centros de dados (data centers), que são os verdadeiros lares da IA, já consomem mais eletricidade do que países inteiros. A Agência Internacional de Energia (IEA) estima que o consumo de energia dos data centers, que já era de 1% a 1,3% do total mundial em 2022, deve dobrar até 2026 [1].

Esse consumo desenfreado não apenas pressiona nossas redes elétricas, mas também tem um custo ambiental. Manter esses supercomputadores resfriados para que não derretam exige sistemas de ar-condicionado massivos, que por sua vez consomem ainda mais energia e, em muitos casos, enormes volumes de água. Para cada 50 perguntas que você faz a uma IA, cerca de meio litro de água é usado para manter os servidores na temperatura ideal [2].

AspectoConsumo de Energia
Treinamento de um Modelo de IAEnergia de uma cidade pequena por um ano
Data Centers nos EUA (2024)Mais de 4% de toda a eletricidade do país (equivalente ao Paquistão) [3]
Projeção para 2030 (EUA)Consumo deve crescer 133%, chegando a 426 TWh [3]
RefrigeraçãoCerca de 25% da energia total de um data center

A Guerra do Processamento: EUA vs. China

Com a demanda por IA crescendo exponencialmente, a capacidade de processamento tornou-se o recurso mais estratégico do planeta. Empresas e nações estão em uma verdadeira “corrida do ouro” para desenvolver e adquirir os chips mais poderosos, como as GPUs (Unidades de Processamento Gráfico), que são essenciais para treinar e operar modelos de IA. Quem controla a produção e o acesso a esses chips, controla o futuro da tecnologia.

Essa disputa tem um forte componente geopolítico, com os Estados Unidos e a China como protagonistas. Os EUA, lar de gigantes da tecnologia como NVIDIA, Google e Microsoft, anunciaram investimentos maciços, na casa dos 500 bilhões de dólares (liderados pelo setor privado), para manter a liderança [5]. A China, por sua vez, corre para desenvolver sua própria indústria de semicondutores e reduzir sua dependência tecnológica. A competição não é apenas sobre quem tem a IA mais inteligente, mas sobre quem tem a infraestrutura para sustentá-la.

O Salto Quântico: A Próxima Fronteira do Processamento

Os chips de silício que alimentam nossos computadores há décadas estão se aproximando de seus limites físicos. Eles estão ficando cada vez mais quentes e famintos por energia. A solução para a crise energética da IA pode não estar em construir mais do mesmo, mas em dar um salto para uma tecnologia completamente nova: a computação quântica.

Se um computador clássico é como tentar abrir uma fechadura testando cada chave de um chaveiro, uma por uma, um computador quântico é como ser capaz de testar todas as chaves ao mesmo tempo. Ele faz isso usando os princípios da mecânica quântica, como a “superposição”, que permite que suas unidades básicas, os “qubits”, representem múltiplos valores simultaneamente. Isso lhe confere um poder de cálculo exponencial para certos tipos de problemas.

Para a IA, isso é revolucionário. Pesquisas iniciais mostram que a computação quântica tem o potencial de ser muito mais eficiente em termos de energia. Um estudo demonstrou que um computador quântico resolveu um problema complexo em minutos, usando apenas 12 quilowatts de energia. A mesma tarefa levaria um dos supercomputadores mais potentes do mundo quase um milhão de anos para ser concluída, consumindo mais eletricidade do que o mundo inteiro usa em um ano [4].

Empresas como Google, Microsoft e D-Wave já estão desenvolvendo algoritmos e chips quânticos que podem, no futuro, otimizar redes elétricas, acelerar a descoberta de novos medicamentos e, crucialmente, treinar modelos de IA com uma fração da energia necessária hoje. A Organização das Nações Unidas (ONU), reconhecendo o potencial transformador desta área, proclamou 2025 como o Ano Internacional da Ciência e Tecnologia Quântica [6].

Exemplos Práticos: A IA no Nosso Dia a Dia

Para entender melhor o que está em jogo nessa guerra do processamento, vale a pena olhar para onde a IA já está presente em nossas vidas. Quando você pede ao Google Maps para encontrar a rota mais rápida, algoritmos complexos processam dados de trânsito em tempo real de milhões de veículos. Quando um médico usa IA para analisar uma tomografia e detectar sinais precoces de câncer, modelos treinados com milhões de imagens estão trabalhando nos bastidores. Quando assistentes virtuais como Alexa ou Siri entendem sua voz e respondem às suas perguntas, redes neurais estão processando padrões de linguagem.

Na medicina, a IA está revolucionando o desenvolvimento de medicamentos. Empresas farmacêuticas como a Japan Tobacco usam workflows híbridos que combinam computação quântica e IA para gerar novas moléculas candidatas a remédios de forma muito mais rápida e precisa do que métodos tradicionais [4]. Carros autônomos, que prometem tornar o trânsito mais seguro e eficiente, dependem de processamento massivo de dados de sensores, câmeras e mapas em tempo real.

Todos esses avanços dependem de uma infraestrutura de processamento robusta e, principalmente, de muita energia. Quanto mais sofisticada a aplicação, maior a demanda por poder computacional. É por isso que a “guerra do processamento” não é apenas uma disputa tecnológica abstrata, mas algo que afeta diretamente a velocidade com que essas inovações chegarão até você.

O Futuro Já Começou

Enquanto a computação quântica amadurece e promete resolver o dilema energético, a IA continua avançando em ritmo acelerado. O desafio é garantir que essa revolução seja sustentável e acessível.

A “guerra do processamento” não é apenas uma questão de poder computacional, mas de responsabilidade energética. A nação ou empresa que não apenas construir a IA mais inteligente, mas também descobrir como alimentá-la de forma eficiente e sustentável, não apenas liderará a próxima era da tecnologia, mas também definirá o futuro da nossa relação com a energia e com o próprio planeta.

Referências

[1] Engie. (2025). IA versus demanda de energia: o desafio da sustentabilidade. Além da Energia. https://www.alemdaenergia.engie.com.br/ia-versus-demanda-de-energia-o-desafio-da-sustentabilidade/

[2] G1. (2025). Inteligência artificial: tecnologia demanda geração colossal de energia elétrica; entenda. Jornal Nacional. https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2025/01/24/inteligencia-artificial-tecnologia-demanda-geracao-colossal-de-energia-eletrica-entenda.ghtml

[3] Pew Research Center. (2025). What we know about energy use at U.S. data centers amid the AI boom. https://www.pewresearch.org/short-reads/2025/10/24/what-we-know-about-energy-use-at-us-data-centers-amid-the-ai-boom/

[4] Fast Company. (2025). Quantum computing is a path to energy-efficient AI. https://www.fastcompany.com/91416282/quantum-computing-is-a-path-to-energy-efficient-ai

[5] Reuters. (2025). Trump announces private-sector $500 billion investment in AI infrastructure. https://www.reuters.com/technology/artificial-intelligence/trump-announce-private-sector-ai-infrastructure-investment-cbs-reports-2025-01-21/

[6] Organização das Nações Unidas (ONU). (2024). UN declares 2025 International Year of Quantum Science and Technology. https://www.un.org/en/observances/international-years

Diego Dalledone

Diego é Diretor Geral na Trabbe, com mais de 20 anos de experiência em atendimento ao cliente e paixão por tecnologia. Ele passou por empresas como Carsystem e Callflex, aprimorando suas habilidades em soluções digitais. Com formação em Administração e pós-graduação, destaca-se por sua visão estratégica, expertise em IA, e liderança de equipe. Diego possui vasta experiência na implementação de soluções digitais e estratégias para melhorar a satisfação e fidelização de clientes. Seu objetivo é usar a tecnologia para otimizar a experiência do cliente e impulsionar o sucesso das empresas no ambiente digital.

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