CAPACrédito e Cobrança

Pix, novo alvo de Trump, reacende atrito com a Meta

O Pix, sistema de pagamentos instantâneos desenvolvido pelo Banco Central do Brasil, foi colocado no centro de uma disputa geopolítica envolvendo os Estados Unidos e grandes empresas de tecnologia. Mais do que uma ferramenta nacional de transferência de valores, o Pix se tornou agora um símbolo da autonomia digital brasileira — e, ao que tudo indica, um obstáculo para os planos de expansão do WhatsApp Pay, sistema de pagamentos criado pela Meta (antigo Facebook).

Essa tensão antiga voltou à tona após o governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump, abrir uma investigação comercial que inclui críticas ao que chama de “práticas desleais” do Brasil no setor de pagamentos eletrônicos. No cerne do conflito está a decisão do Banco Central de suspender, em 2020, o lançamento do WhatsApp Pay no Brasil, o que abriu espaço para o crescimento acelerado do Pix.

O bloqueio do WhatsApp Pay e o nascimento do Pix

Em 2020, a Meta anunciou o lançamento do WhatsApp Pay, um serviço que prometia transformar o aplicativo de mensagens mais usado no Brasil em uma plataforma completa de transferências e pagamentos. No entanto, dias após o anúncio, o Banco Central determinou a suspensão do serviço alegando risco à concorrência e à estabilidade do sistema financeiro.

Naquele momento, o Pix ainda estava em desenvolvimento, e a decisão da autoridade monetária foi interpretada como uma forma de garantir espaço para o crescimento do sistema nacional. O bloqueio do WhatsApp Pay durou vários meses. Quando finalmente foi liberado, em 2021, o Pix já havia se popularizado de maneira irreversível — ocupando a maior parte do mercado de transferências no país.

Por que Trump e as big techs estão incomodados

A nova ofensiva dos EUA, formalizada por meio do Escritório da Representação Comercial (USTR), traz uma crítica clara: o Brasil “parece favorecer seus próprios serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo”. Essa afirmação é lida como uma referência direta ao Pix.

A pressão ganhou força porque, atualmente, a Meta é uma das empresas que se alinharam ao governo Trump. Em sua posse, o ex-presidente americano reuniu os CEOs das maiores empresas de tecnologia do mundo: Mark Zuckerberg (Meta), Jeff Bezos (Amazon), Sundar Pichai (Google), Elon Musk (X/Tesla) e Tim Cook (Apple). Essa reaproximação reacendeu antigas queixas, como o suposto prejuízo sofrido pelo WhatsApp Pay frente à ascensão do Pix.

Muito mais do que pagamentos: a guerra pela soberania digital

A disputa entre o WhatsApp Pay e o Pix é apenas uma peça de um tabuleiro maior. O Brasil tem adotado uma postura cada vez mais firme em relação à regulação do ambiente digital, o que tem causado desconforto em empresas americanas. Entre os pontos de atrito estão:

  • A decisão do STF de ampliar a responsabilidade das plataformas digitais sobre conteúdos ilegais, mesmo sem decisão judicial;
  • Propostas de regulação da inteligência artificial em debate no Congresso;
  • As novas diretrizes do Brics sobre soberania digital.

Para o governo brasileiro, a investigação americana pode ter sido motivada não apenas pela Meta, mas também por lobby de gigantes financeiras como Mastercard e Visa, que perderam relevância com a popularização do Pix. Apesar disso, a avaliação interna é que o processo dificilmente avançará para medidas concretas.

O futuro dos pagamentos digitais está em disputa

O episódio envolvendo o Pix e o WhatsApp Pay ilustra um conflito global: de um lado, países que criam soluções próprias para proteger seus interesses digitais e financeiros; do outro, empresas e governos que buscam preservar sua influência sobre o mercado global.

No Brasil, a adoção do Pix representou um salto em inclusão financeira e inovação. Já o WhatsApp Pay, mesmo com o peso de uma gigante como a Meta, ainda não conseguiu ganhar o espaço que pretendia. No fim das contas, o embate entre os dois modelos mostra que tecnologia, economia e política estão cada vez mais entrelaçadas — e que cada decisão regulatória pode ter repercussões internacionais.

Redação Contraponto

Nossa redação, a central de informações do mercado que tem a função de buscar as notícias mais quentes direto da fonte. Em mais de 3 anos, foram mais de 1500 notícias publicadas com credibilidade, rapidez e apuração, sempre entregando os melhores insights para a nossa audiência.

Artigos relacionados