Crise no sistema financeiro: PF investiga emissão de créditos falsos e Banco Master entra em liquidação
Operação policial e intervenção do Banco Central expõem um dos maiores escândalos recentes envolvendo títulos de crédito e gestão bancária no Brasil

Uma das maiores operações recentes contra fraudes no mercado financeiro ganhou destaque nacional nesta terça feira 18. A Polícia Federal deflagrou a Operação Compliance Zero, que apura a criação e a negociação de títulos de crédito falsos por instituições que integram o Sistema Financeiro Nacional. Entre os principais alvos está o banqueiro Daniel Vorcaro, proprietário do Banco Master, preso na noite anterior ao tentar embarcar em um jato particular no Aeroporto de Guarulhos.
Banco Central decreta liquidação extrajudicial do grupo Master
Enquanto a PF cumpria mandados, o Banco Central anunciou a liquidação extrajudicial do Banco Master, medida aplicada quando a instituição demonstra insolvência ou comete infrações graves às normas financeiras. Na prática, o banco tem suas operações interrompidas para que seja retirado do sistema de maneira organizada e controlada.
O processo também se estendeu à Master Corretora de Câmbio, Títulos e Valores Mobiliários e empresas relacionadas ao conglomerado.
Por que parte do grupo continua ativa
Além da liquidação, o Banco Central instaurou um regime de administração especial temporária para o Banco Master Múltiplo, válido por até 120 dias. Esse regime mantém as atividades funcionando, mas remove a diretoria, que passa a ser substituída por administradores especializados nomeados pela autoridade monetária.
A justificativa é que o Will Bank, uma das marcas mais conhecidas do grupo, está vinculado ao Master Múltiplo, exigindo preservação operacional para evitar maiores impactos ao consumidor.
A dimensão inédita da intervenção
De acordo com dados oficiais, o conglomerado Master administrava mais de R$ 86 bilhões em ativos, configurando a maior liquidação extrajudicial já registrada no sistema financeiro brasileiro. A escala do caso aumenta não apenas sua relevância econômica, mas também a preocupação com o efeito cascata sobre outras instituições.
Mandados, prisões e apreensões
A PF executa mandados de prisão preventiva, temporária e busca e apreensão em cinco estados. Entre os investigados estão executivos ligados ao Banco Master, incluindo Augusto Lima, sócio de Daniel Vorcaro.
Durante as ações, foram recolhidos carros de luxo, obras de arte, relógios e R$ 1,6 milhão em espécie. A Justiça Federal também determinou o bloqueio de R$ 12,2 bilhões em bens e contas dos envolvidos.
O que a PF quer esclarecer
As investigações começaram em 2024 após o Ministério Público Federal solicitar apuração sobre a possível fabricação de carteiras de crédito sem lastro. Segundo as suspeitas, os títulos produzidos teriam sido repassados a outra instituição e, após fiscalização do Banco Central, substituídos por ativos sem avaliação técnica adequada.
Entre os crimes investigados estão gestão fraudulenta, gestão temerária, organização criminosa e infrações previstas na legislação do sistema financeiro.
Bens bloqueados e nomeação do liquidante
O Banco Central determinou a indisponibilidade de bens de controladores e ex-administradores do Master. A EFB Regimes Especiais de Empresas foi nomeada para conduzir o processo de liquidação sob a responsabilidade técnica de Eduardo Felix Bianchini.
O liquidante assume todas as funções de administração do banco durante o processo, organiza a venda de ativos, classifica credores e representa a instituição judicialmente. A liquidação poderá ser encerrada por decisão do Banco Central ou resultar na decretação de falência.
Tentativa de compra e novos capítulos da crise
A operação policial ocorreu logo após o anúncio da Fictor Holding Financeira, que afirmou ter firmado acordo com investidores dos Emirados Árabes Unidos para adquirir o Banco Master e injetar R$ 3 bilhões na instituição. Mesmo diante das investigações, executivos ligados à Fictor afirmam manter interesse na aquisição dos ativos.
Esse episódio se soma a outra investigação aberta em setembro, quando a PF passou a apurar irregularidades envolvendo a tentativa de compra do Master pelo Banco de Brasília. Na época, o Banco Central rejeitou o negócio por causa de inconsistências documentais.
O que investidores e clientes devem esperar
Com a liquidação decretada, o pagamento aos credores e investidores seguirá sob responsabilidade do liquidante, que conduzirá o processo conforme as normas do Banco Central. Dependendo dos produtos contratados, clientes poderão ter cobertura do Fundo Garantidor de Créditos, cuja atuação é fundamental em cenários de intervenção ou falência.






