CAPACrédito e Cobrança

O Efeito das retiradas na poupança e o impacto no crédito imobiliário

O comportamento financeiro do brasileiro está mudando rapidamente. O aumento do custo de vida, o endividamento elevado e a busca por alternativas mais rentáveis têm levado a caderneta de poupança a registrar mais saques do que depósitos — e isso afeta diretamente o mercado de crédito imobiliário no país.

De janeiro a março de 2025, os saques na poupança superaram os depósitos em R$ 45,7 bilhões, quase o triplo do resultado negativo de todo o ano de 2024. Segundo o Banco Central, somente em março, o volume de retiradas chegou a R$ 351 bilhões contra R$ 340 bilhões em depósitos — um salto de 43% sobre fevereiro.

Apesar do rendimento de R$ 5,8 bilhões creditado aos poupadores no período, o saldo total da caderneta permanece próximo de R$ 1 trilhão desde junho de 2024. Essa estagnação reforça a perda de atratividade da aplicação, historicamente usada como principal fonte de recursos para financiamentos imobiliários no Brasil.

A retração dos recursos disponíveis impacta diretamente o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), responsável por grande parte dos financiamentos habitacionais no país. Como consequência, a Caixa Econômica Federal, que detém quase 70% desse mercado, ajustou suas regras.

Desde o início de 2025, o banco passou a financiar até 70% do valor do imóvel pelo Sistema de Amortização Constante (SAC) e até 50% pela Tabela Price — antes, os percentuais eram de 80% e 70%, respectivamente. Com isso, o valor da entrada em muitos casos se aproxima da metade do valor total do imóvel. Além disso, quem já possui um financiamento ativo na Caixa está impedido de contratar um novo.

Financiamentos caem e Selic alta encarece o crédito

O crédito imobiliário com recursos da poupança recuou 16% nos últimos 12 meses. Só em fevereiro de 2025, foram financiados R$ 10,2 bilhões em imóveis, valor bem inferior ao registrado nos anos anteriores.

A principal causa é a manutenção da taxa Selic em 13,25% ao ano, que encarece os financiamentos e reduz a atratividade de novas operações. Além disso, os bancos enfrentam a dificuldade de captar recursos baratos, já que a caderneta de poupança, que já chegou a representar 70% do crédito imobiliário, hoje responde por apenas 34%, segundo especialistas da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Outro fator relevante para a queda na poupança é a crescente popularidade de aplicações de renda fixa mais atrativas. Com a Selic elevada, opções como CDBs, LCIs e LCAs têm oferecido retornos superiores a 12% ao ano, muitas vezes com isenção de Imposto de Renda, o que os torna mais vantajosos em relação à poupança, que segue rendendo cerca de 0,5% ao mês + TR.

Relatórios do JP Morgan mostram que as saídas da poupança não são novidade: foram R$ 103 bilhões em 2022 e R$ 88 bilhões em 2023. O que impressiona em 2025 é a velocidade e intensidade do movimento, pressionado pelo endividamento recorde e pela inflação em torno de 4% ao ano, reduzindo o poder de compra da população.

Como o brasileiro está lidando com o dinheiro em 2025

O cenário econômico atual revela um retrato preocupante das finanças do brasileiro:

  • Mais retiradas do que depósitos: Nos primeiros três meses de 2025, a diferença negativa já é o triplo de todo 2024.
  • Inflação acima do rendimento: A inflação acumulada de 4% supera o retorno da poupança, que perde valor real.
  • Queda no crédito imobiliário: Financiamentos com recursos da poupança caíram 16% em 12 meses.

Esses fatores mostram que as famílias estão recorrendo à poupança para pagar dívidas, cobrir despesas e buscar investimentos mais rentáveis, o que desidrata uma das principais fontes de crédito habitacional do país.

O movimento de retiradas da poupança afeta mais do que os investidores individuais — ele compromete a oferta de crédito imobiliário e impacta diretamente o acesso à moradia no Brasil. Com as mudanças recentes nas regras da Caixa e o cenário econômico desafiador, é fundamental que quem planeja financiar um imóvel em 2025 acompanhe de perto essas alterações e avalie alternativas de investimento e crédito mais vantajosas.

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