Liderança, Gestão e a Verdade Por Trás das Empresas

No episódio 214 do Podcast ContraPonto Marcos Guerra e Pedro Felipe receberam Thaís Nakamura, que trouxe uma conversa franca sobre liderança, cultura e comportamento humano dentro das empresas. Com histórias reais, provocações inteligentes e reflexões profundas, o episódio revela o que acontece nos bastidores da gestão – longe dos discursos prontos e das frases motivacionais de LinkedIn.
Quando a promoção vira armadilha e não conquista
Um dos momentos mais marcantes do episódio surge quando Thaís conta o episódio que viralizou nas redes: o dia em que foi promovida contra a própria vontade. Ela saiu da coordenação para a gerência, cargo que teoricamente representava crescimento, reconhecimento e autoridade. Mas a realidade foi outra.
A rotina se tornou insustentável, o deslocamento era exaustivo, e a pressão emocional atingiu níveis críticos. Em 2018, ela viveu um burnout. E a reflexão que fica é poderosa:
promoção sem preparo, sem alinhamento e sem desejo é receita para o desastre.
Thaís destrói a romantização da liderança e lembra que assumir um cargo maior exige mais que técnica, exige maturidade emocional, clareza e suporte. E, sobretudo, envolve querer estar ali.
As falhas silenciosas das empresas: o tático que não sustenta o estratégico
Durante o papo, um dos pontos mais fortes trazidos por Thaís é sobre o “meio da pirâmide” — os coordenadores, supervisores e gerentes que fazem a ponte entre a alta gestão e a operação. Ela afirma que muitos desses profissionais não têm preparação, autonomia ou comunicação suficiente para sustentar a estratégia que vem de cima.
É aí que muitas empresas empacam: a liderança define metas e cultura, mas o tático não consegue traduzir isso para o time. O resultado? Cultura que não sai do papel, processos que não viram rotina e colaboradores perdidos.
Thaís reforça que é urgente investir nesse nível de liderança, pois é ele quem realmente faz a empresa se mover.
Cultura forte pode ser solução ou destruição
Outro destaque da conversa é a discussão sobre cultura organizacional. Thaís traz um lado pouco falado:
cultura forte demais pode ser tão perigosa quanto cultura fraca.
Quando a cultura vem “de cima para baixo”, sem diálogo, sem adaptação e sem compreender a realidade de cada área, ela oprime. Empresas passam a confundir cultura com imposição, o que gera desgaste, turnover e resultados medíocres, mesmo que bem-intencionados.
Para ela, cultura só existe quando é vivida na prática, quando líderes dão exemplo e quando existe espaço para escuta real — não para discursos ou slogans internos.
Reter talentos não é segurar pessoas — é fazer sentir sentido
Thaís também faz uma crítica importante ao termo “reter talentos”. Para ela, reter dá a sensação de aprisionamento, como se manter alguém significasse impedir que a pessoa saísse. Em vez disso, ela defende que empresas precisam aprender a criar vínculos baseados em diálogo, clareza e consistência.
Ela conta que muitas vezes o colaborador avisa, dá sinais, demonstra desgaste… e o gestor não enxerga. Ou pior: não olha. A retenção deveria ser consequência natural de boas conversas, e não de estratégias de controle.
Ela lembra que ações simples, como uma avaliação de desempenho honesta, mesmo feita com Google Forms em empresas pequenas, podem mudar completamente a percepção do time. A questão não é a ferramenta, mas a intenção.
Feedback não é técnica é humanidade
Um dos trechos mais emocionantes do episódio é quando Thaís relata que, anos após deixar uma empresa, ex-colaboradores ainda a procuram dizendo que o último feedback verdadeiro que receberam foi dela.
Não porque ela seguia um manual, mas porque:
- era coerente
- falava olhando nos olhos
- dizia a verdade sem destruir
- não escondia informações
- tinha coragem de conversar
Para ela, o problema não está na falta de métodos, está na falta de humanidade. Feedback não é sobre corrigir comportamento; é sobre desenvolver pessoas.
A saúde mental no centro das empresas e os riscos do modismo
O episódio também aborda um tema urgente: as novas exigências de saúde mental e psicossocial nas empresas. Thaís alerta para dois riscos:
- empresas fazendo pesquisas profundas sem intenção de agir
- consultorias oferecendo soluções superficiais em um tema delicado
Ela reforça que saúde mental não pode ser tratada como tendência ou oportunidade de marketing.
Sem ações concretas, pesquisas só geram frustração e enfraquecem a confiança dos colaboradores.
O recado é direto: não faça pesquisa se você não está disposto a agir sobre ela.
Processos seletivos: a verdade que poucos têm coragem de admitir
Quando o assunto vira recrutamento, o episódio ganha uma camada de sinceridade rara. Thaís explica que processos seletivos, principalmente os de liderança, não podem ser feitos para agradar.
Perguntas finais do candidato importam mais do que ele imagina.
Respostas prontas não impressionam.
E coerência vale mais que currículo.
Um insight marcante dela é que contratar bem é saber ouvir o que realmente importa e nem sempre é o que está no script da entrevista.
No fim, tudo se resume a ser uma pessoa decente
A frase que sintetiza o episódio é simples, mas poderosa:
“Seja uma pessoa decente e coerente em todas as suas atitudes.”
Segundo Thaís, isso resolve mais problemas do que qualquer metodologia complexa.
E os hosts complementam: empresas são feitas de pessoas.
Crescimento é feito de gente.
Cultura é vivida por gente.
E liderança é um ato diário de coragem, não de poder.
Assista ao episódio completo
O episódio 214 do ContraPonto é uma aula de liderança real sem romantização, sem fórmulas mágicas e sem filtros. Se você é líder, gestor, empreendedor ou aspira crescer profissionalmente, essa conversa é obrigatória.
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