CAPACrédito e Cobrança

Juro alto e inadimplência em alta: o impacto nas pequenas empresas e a corrida por crédito

As micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) estão enfrentando uma verdadeira tempestade financeira. Em meio a uma taxa Selic de 15% ao ano — o maior nível em quase duas décadas —, o acesso ao crédito se tornou mais caro, ao mesmo tempo em que a inadimplência alcançou níveis recordes. Neste cenário, cresce a procura por empréstimos para manter as operações, ao custo de maior endividamento.

Crédito mais caro e capital de giro sob pressão

De acordo com o Banco Central, as MPMEs contrataram R$ 1,179 bilhão em empréstimos em maio, um aumento de 11,6% em relação ao ano anterior. Esse crédito tem sido usado principalmente como capital de giro, uma necessidade cada vez mais urgente para empresas que lidam com vendas comprometidas e margens apertadas devido aos altos juros.

Com a Selic elevada, o custo de todas as linhas de crédito — de capital de giro ao desconto de duplicatas — aumentou. Mesmo assim, para muitos pequenos empresários, o crédito é a única forma de manter a operação viva.

Inadimplência bate recorde entre MPMEs

O aumento do crédito tem como consequência direta a elevação da inadimplência. Em maio, o índice chegou a 5,1%, o maior da série histórica do Banco Central. Em janeiro, a inadimplência estava em 4,5%. Além disso, quase 90% dos pedidos de recuperação judicial em abril foram de MPMEs, o que evidencia o peso da atual crise de crédito.

Segundo dados da Serasa, de 7,3 milhões de CNPJs negativados, 6,9 milhões são de micro, pequenas e médias empresas. A combinação de alta de juros, redução de vendas e dificuldade de acesso ao crédito cria um ciclo vicioso difícil de romper.

IOF: mais um obstáculo no caminho do crédito

A situação poderia ser ainda pior com a entrada em vigor de um decreto que aumenta a cobrança do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) em operações como capital de giro e antecipação de recebíveis. O tema está sendo discutido entre o Executivo e o Legislativo após determinação do STF, mas especialistas alertam: qualquer aumento de imposto encarece o crédito e impacta negativamente a capacidade de pagamento das empresas.

Empreendedores adiam investimentos e buscam alternativas

O impacto dos juros altos é sentido diretamente nos planos de crescimento de empresas de diferentes setores. Nelson Andreatta, da Eats For You, afirma que investimentos previstos para 2024 e 2025 foram adiados para 2026 e 2027. O motivo? O crédito está caro e escasso.

A cervejaria Hocus Pocus também analisa se deve buscar crédito ou recorrer a investidores para expandir a produção. A dificuldade de acessar financiamento pode significar estagnação ou até retração em um momento decisivo para a companhia.

Linhas de crédito com aval: uma solução viável

Uma das alternativas para contornar o cenário adverso é recorrer a linhas de crédito com aval, como as oferecidas pelo Sebrae. Entre 2023 e 2024, a instituição viabilizou R$ 3,5 bilhões em crédito para mais de 50 mil empreendedores. A expectativa para 2025 é liberar R$ 12 bilhões.

O modelo de crédito com garantia tem o benefício de reduzir o risco para os bancos, o que ajuda a baratear os juros e, consequentemente, diminuir a inadimplência.

BNDES amplia crédito e estuda novo fundo para MPMEs

O BNDES também tem reforçado sua atuação junto às MPMEs. Em 2024, o banco aprovou R$ 92,4 bilhões em crédito para essas empresas, o maior valor desde 2013. A divisão foi de R$ 52,2 bilhões para médias empresas, R$ 27,5 bilhões para pequenas e R$ 12,7 bilhões para microempresas.

Com o objetivo de ampliar ainda mais o acesso, o banco estuda a criação de um fundo específico para pequenas e médias empresas. Somando as operações garantidas por fundos, a oferta total de crédito ao segmento já alcança R$ 156,3 bilhões.

Redação Contraponto

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