Inadimplência nos cartões cresce e indica dificuldades na recuperação do crédito
A queda da pontualidade nos pagamentos e os juros elevados aumentam o risco para consumidores, empresas e o sistema financeiro

O primeiro trimestre de 2025 trouxe sinais de alerta para o mercado de crédito no Brasil. Segundo levantamento da Serasa Experian, a pontualidade no pagamento das faturas de cartão caiu de 80,9% em 2024 para 78,1% neste ano. Essa redução de 2,8 pontos percentuais indica que mais consumidores estão atrasando ou deixando de quitar suas obrigações, o que pode antecipar um cenário de inadimplência ainda mais preocupante.
Queda na pontualidade reflete dificuldades financeiras das famílias
De acordo com a economista da Serasa Experian, Camila Abdelmalack, o recuo da pontualidade revela a restrição financeira que atinge milhões de brasileiros. A manutenção da taxa Selic em patamar elevado pressiona o custo do crédito e compromete a capacidade de pagamento. Entre homens, a pontualidade caiu para 78,4%, enquanto entre mulheres o índice recuou para 77,9%, mostrando que o desafio é generalizado.
Valor das faturas encolhe, mas dívidas continuam altas
Outro dado relevante é a queda no valor médio das faturas de cartão de crédito, que passou de R$ 1.419,88 em 2024 para R$ 1.306,84 em 2025. Apesar da redução nos gastos, os consumidores ainda encontram dificuldades em manter os pagamentos em dia. O Brasil já conta com cerca de 78,2 milhões de CPFs negativados, sendo que 28% das dívidas estão ligadas a bancos e cartões de crédito. A dívida média do inadimplente é de R$ 6.177, valor equivalente a quase quatro salários mínimos.
Juros altos e renegociação mais difícil
O cenário atual é agravado pelo custo elevado das linhas de crédito. O rotativo do cartão, por exemplo, é uma das modalidades mais caras do mercado, o que multiplica rapidamente o valor da dívida. Além disso, com a percepção de maior risco, os bancos adotam medidas mais restritivas, como corte de limites e encurtamento de prazos, o que torna a renegociação cada vez mais difícil.
Impacto também nas empresas
A inadimplência não se restringe às famílias. Hoje, cerca de 8 milhões de CNPJs estão negativados, número recorde no país. Apesar de o mercado de trabalho ainda mostrar aquecimento, o setor produtivo enfrenta sérias dificuldades para honrar compromissos. Caso haja aumento nas demissões e queda nas contratações, o quadro pode se agravar ainda mais.
Risco para a recuperação do crédito no brasil
O Cadastro Positivo, que serve como um indicador antecedente da inadimplência, mostra que a piora na pontualidade dos pagamentos sinaliza um risco concreto para a recuperação do crédito no país. Se os juros elevados se mantiverem e o crédito continuar restrito, a retomada do consumo e da atividade econômica pode ser mais lenta do que o esperado, prolongando os efeitos da política monetária sobre a economia real.