CAPACrédito e Cobrança

Inadimplência atinge 30,5% em setembro e marca o maior nível da série histórica

Endividamento elevado, juros altos e perda do poder de compra colocam as famílias brasileiras em alerta financeiro

O Brasil registrou em setembro de 2025 o maior índice de inadimplência desde o início da série histórica da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em 2010. Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), 30,5% das famílias declararam estar com contas em atraso, o que representa um recorde preocupante. O cenário revela a fragilidade da economia doméstica em meio a juros elevados, inflação persistente e perda de poder aquisitivo. A situação é ainda mais crítica quando se observa que 13% dos lares afirmaram não ter condições de quitar suas dívidas, evidenciando um endividamento crônico e sem perspectiva de alívio imediato.

Endividamento atinge mais de 79% das famílias

Além do aumento da inadimplência, a Peic mostra que 79,2% das famílias brasileiras possuem algum tipo de dívida. Esse índice, que já vinha em trajetória crescente, subiu em relação a agosto, quando estava em 78,8%. Entre as principais modalidades de endividamento estão o cartão de crédito, carnês de loja e empréstimos pessoais. O uso do crédito, que antes funcionava como motor de consumo e garantia de liquidez para os lares, hoje se transformou em fonte de pressão orçamentária. Especialistas apontam que, embora a inflação tenha perdido força em alguns segmentos, o acúmulo de aumentos nos últimos anos ainda pesa fortemente sobre os gastos básicos, como alimentação, transporte e energia.

Famílias sem condições de pagar suas dívidas

O dado mais alarmante do levantamento é que 13% das famílias inadimplentes afirmaram não ter condições de pagar suas contas atrasadas. Essa é a maior taxa já registrada pela CNC e demonstra o quanto o endividamento deixou de ser uma dificuldade momentânea para se transformar em um problema estrutural. Esse cenário é agravado pelo aumento do desemprego em setores específicos e pela estagnação da renda média, que não acompanha o ritmo da alta dos preços. Para muitas famílias, a única saída tem sido recorrer a linhas de crédito caras, como cheque especial e cartão de crédito rotativo, o que alimenta um ciclo de endividamento difícil de quebrar.

comprometimento de renda limita consumo e poupança

Outro ponto de destaque é que 18,8% das famílias brasileiras afirmaram ter mais da metade de sua renda comprometida com dívidas. Essa realidade reduz drasticamente a capacidade de consumo e praticamente elimina qualquer possibilidade de poupança. O efeito em cadeia é inevitável: com menos consumo, o comércio desacelera, o setor de serviços perde fôlego e a economia como um todo sofre retração. O economista-chefe da CNC, Fabio Bentes, reforça que o crédito, antes considerado combustível para as vendas no varejo, hoje é uma das principais causas da desaceleração, já que a inadimplência prolongada trava o fluxo financeiro das famílias.

Impacto dos juros altos e da inadimplência prolongada

O tempo médio de atraso também revela a gravidade da situação: 48,7% das famílias endividadas estão inadimplentes há mais de 90 dias. Nesse período, a renegociação se torna mais difícil e os juros compostos aumentam consideravelmente o saldo devedor. Com a taxa Selic ainda em dois dígitos, o Brasil mantém um dos créditos mais caros do mundo. Modalidades como o rotativo do cartão de crédito e o cheque especial chegam a ultrapassar 400% ao ano, tornando praticamente impossível a recuperação financeira de quem já está em atraso. Esse cenário cria um ciclo de exclusão: quanto maior a inadimplência, mais caro fica o crédito, e quanto mais caro o crédito, maior o risco de inadimplência.

Famílias de baixa renda são as mais afetadas

A pesquisa evidencia que o peso da inadimplência é mais severo entre as famílias com renda de até três salários mínimos. Nesse grupo, o endividamento passou de 81,1% em agosto para 82% em setembro. A dependência maior do crédito rotativo e a menor margem para absorver choques econômicos tornam essas famílias extremamente vulneráveis. Já entre os lares com renda acima de dez salários mínimos, o endividamento também avançou, de 68,7% para 69,5%. Embora o impacto seja proporcionalmente menor, mostra que a crise do crédito caro não poupa nenhuma faixa de renda.

Cartão de crédito segue como principal vilão

Entre todas as modalidades de dívida levantadas pela CNC — como cheque especial, carnês de loja, crédito consignado, cheque pré-datado, financiamento de veículos e imóveis — o cartão de crédito continua sendo o maior responsável pelo endividamento, atingindo cerca de 86% das famílias. Esse dado revela a prática cada vez mais comum de utilizar o cartão como extensão da renda mensal. No entanto, o uso excessivo desse recurso, aliado às taxas exorbitantes de juros, transforma o cartão de crédito em uma das principais armadilhas financeiras para os brasileiros.

Perspectivas para o fim de 2025 e medidas em debate

As projeções da CNC indicam que o endividamento total deve aumentar em 3,3 pontos percentuais até dezembro, enquanto a inadimplência pode subir 1,7 ponto percentual. Apesar das medidas anunciadas pelo governo, como o programa Desenrola Brasil, a expectativa é de que os efeitos práticos sejam sentidos apenas em 2026. Entre as ações em discussão estão a redução gradual da Selic, a ampliação de programas de renegociação com juros subsidiados, maior incentivo à educação financeira em escolas e empresas e uma regulação mais rígida sobre o crédito rotativo.

Conclusão: alerta vermelho para a saúde financeira

O índice recorde de 30,5% de famílias inadimplentes em setembro acende um alerta vermelho sobre a saúde financeira das famílias brasileiras. A conjunção de juros altos, renda estagnada e inflação acumulada transformou o crédito em um fardo insustentável para milhões de consumidores. Sem políticas de renda mais robustas e sem um alívio efetivo nos juros, a tendência é que o consumo siga em queda, impactando diretamente setores fundamentais da economia. Para o consumidor, a recomendação dos especialistas é evitar dívidas com juros elevados, buscar renegociação antes que o atraso ultrapasse 90 dias e adotar práticas de educação financeira que ajudem a reduzir os riscos de cair em um ciclo permanente de inadimplência.

Redação Contraponto

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