CAPACrédito e Cobrança

Fim da tabela regressiva do IR pode encarecer crédito no Brasil

A proposta do governo federal de unificar a alíquota do Imposto de Renda (IR) sobre investimentos financeiros em 17,5% a partir de 2026 tem gerado discussões intensas no mercado. Muito além da simplificação tributária, o fim da tabela regressiva pode provocar impactos profundos na economia real, afetando o comportamento dos investidores, o custo do crédito e a forma como empresas e famílias acessam financiamentos.

O que muda com o fim da tabela regressiva do IR

Atualmente, o sistema de tributação do IR para investimentos favorece quem mantém aplicações por mais tempo. Quanto maior o prazo, menor a alíquota. Hoje, o imposto vai de 22,5% (para resgates em até 180 dias) até 15% (para aplicações mantidas por mais de dois anos). Com a nova regra, essa lógica desaparece: todos os prazos passarão a ser tributados em 17,5%.

A mudança na alíquota deve reduzir o apetite dos investidores por ativos de longo prazo. Segundo José Daronco, Head de RI da Suno Asset, a tendência é que os investidores passem a preferir aplicações mais curtas, diminuindo a disponibilidade de crédito de longo prazo.

Esse efeito cascata chega ao tomador de crédito. Com menos recursos de longo prazo disponíveis, o crédito para projetos mais robustos e com retorno mais demorado — como obras de infraestrutura ou expansão empresarial — tende a ficar mais escasso e caro.

Fundos podem mudar suas estratégias

Sem o incentivo tributário para manter recursos aplicados por mais tempo, os fundos de investimento devem reavaliar suas carteiras. A preferência por ativos de maior liquidez e menor duração pode ganhar força. Isso impacta diretamente o mercado de crédito, já que esses fundos são importantes financiadores de setores como habitação, agronegócio e infraestrutura.

Por outro lado, gestores como Braian Largura, da VNT Investimentos, veem a mudança como uma forma de racionalizar as decisões. Sem a “contaminação fiscal”, a gestão pode se tornar mais técnica, focando exclusivamente no risco e retorno dos ativos.

Papéis isentos geram corrida por emissões até 2026

A proposta também afeta ativos que hoje são isentos de IR, como LCIs, LCAs, CRIs, CRAs e debêntures incentivadas. Eles passarão a ter uma alíquota de 5%, mas apenas para emissões realizadas a partir de 1º de janeiro de 2026. Isso deve gerar uma forte corrida por papéis emitidos antes dessa data, enquanto ainda mantêm o benefício da isenção total.

Instituições financeiras e securitizadoras devem acelerar a emissão desses títulos nos próximos meses, aproveitando o momento favorável de tributação para atrair investidores.

Previdência privada pode ganhar protagonismo

No novo cenário, os fundos de previdência do tipo PGBL e VGBL ganham competitividade. Eles mantêm a tabela regressiva de IR própria — que pode chegar a 10% após 10 anos — e seguem isentos do mecanismo de come-cotas. Isso os torna uma das poucas opções com incentivos fiscais reais para quem pensa no longo prazo.

Mesmo com o IOF mantido para esses produtos, haverá uma suavização a partir de 2026, quando o imposto só incidirá sobre aportes anuais superiores a R$ 600 mil por titular, o que beneficia a maioria dos investidores pessoa física.

O que esperar daqui para frente?

A medida provisória ainda precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional, o que abre espaço para mudanças no texto original. No entanto, o mercado já começa a se movimentar com base nas novas diretrizes, antecipando efeitos no crédito, na gestão de fundos e na preferência dos investidores.

Embora o objetivo seja simplificar a tributação e corrigir distorções, os efeitos práticos podem ser complexos. O crédito tende a se encarecer, os investidores devem se afastar dos prazos longos e a previdência privada pode finalmente ganhar mais espaço nas estratégias de longo prazo dos brasileiros.

Redação Contraponto

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