CAPACrédito e Cobrança

FIDCs ganham força como alternativa de crédito em meio à crise do varejo

Com o varejo brasileiro sob intensa pressão por causa das altas taxas de juros e das mudanças no comportamento do consumidor, empresas buscam alternativas viáveis para manter as operações em dia. Nesse cenário, os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) têm se consolidado como uma das principais formas de acesso a crédito, especialmente para negócios que enfrentam dificuldades com os bancos tradicionais.

O cenário desafiador do varejo e o aumento das recuperações judiciais

A taxa básica de juros (Selic) permanece em 15% ao ano, sem sinal de queda no curto prazo, o que dificulta ainda mais o acesso ao crédito bancário. O impacto é visível: em 2024, o número de pedidos de recuperação judicial bateu recorde, com 2.273 solicitações — sendo 575 apenas do setor varejista, um aumento de 51,7% em relação ao ano anterior, segundo a Serasa Experian.

Empresas como Americanas, Marisa, Tok&Stok e Casas Bahia recorreram à recuperação judicial nos últimos anos, reforçando a gravidade da situação. O principal problema é a dificuldade de crédito: muitas estão endividadas com bancos e encontram portas fechadas para novas negociações.

O que são FIDCs e por que estão em alta?

Os FIDCs são fundos que adquirem direitos creditórios — como recebíveis de vendas a prazo, duplicatas, cheques ou faturas de cartão de crédito — e, com base nesses ativos, emprestam dinheiro para empresas. Nos últimos anos, essa modalidade de crédito ganhou força por oferecer alternativas mais flexíveis às empresas em dificuldades financeiras.

Há cinco anos, os FIDCs representavam apenas 3% do mercado de capitais. Hoje, esse número dobrou para 6%, com mais de 3.300 fundos ativos e um patrimônio líquido de R$ 690,5 bilhões — crescimento de 155% desde 2020.

Como os FIDCs ajudam empresas em dificuldades

Um dos maiores atrativos dos FIDCs é a possibilidade de consolidar dívidas e flexibilizar garantias. Enquanto os bancos analisam todo o histórico de crédito da empresa e exigem garantias rígidas, os FIDCs são mais flexíveis e menos burocráticos.

Ricardo Siqueira, da Dynavolt Advisors, explica que os FIDCs não levam em conta as dívidas bancárias existentes, o que permite que empresas endividadas organizem sua estrutura financeira com mais tranquilidade. Por exemplo, em uma operação recente, a taxa foi IPCA + 1,19% ao mês — competitiva diante das atuais condições de mercado.

Além disso, os FIDCs permitem renegociações mais personalizadas. Uma empresa com dívidas em três bancos diferentes pode unificá-las e renegociar tudo com um único fundo, o que simplifica a gestão financeira e evita múltiplas pressões simultâneas.

Casos reais de uso dos FIDCs no varejo

O FIDC Yaaleh, criado em 2021, já possui R$ 160 milhões em patrimônio e deve chegar a R$ 200 milhões até o final de 2025. Segundo o sócio Flávio Meilman, 90% dos recursos já estão emprestados em operações curtas, de 30 a 90 dias, voltadas especialmente para destravar limites de crédito entre fornecedores e lojistas.

Um exemplo prático: um lojista deseja comprar R$ 100 mil em mercadorias, mas só possui R$ 50 mil de crédito com o fornecedor. O FIDC entra na operação, paga o fornecedor e recebe diretamente as vendas no cartão do varejista, tornando o negócio viável para todas as partes.

Os desafios e o futuro dos FIDCs no Brasil

Apesar do crescimento acelerado, os FIDCs ainda enfrentam desafios, especialmente na seleção de boas operações de crédito. Para crescer com segurança, os fundos precisam garantir que os ativos adquiridos sejam sólidos e que as empresas financiadas tenham capacidade de pagamento, mesmo em cenários adversos.

A captação dos FIDCs em 2024 já soma R$ 81,4 bilhões — crescimento de 86,1% em relação a 2023 — com 918 operações realizadas, impulsionadas especialmente por pequenas e médias empresas.

FIDCs como estratégia de sobrevivência e recuperação

Para Fábio Silveira, da MacroSector, os FIDCs representam uma verdadeira “tábua de salvação” para muitas empresas. Com a taxa de juros devendo continuar elevada até pelo menos 2026 (projeções apontam para uma taxa real de 10%), o acesso a capital via FIDCs pode reduzir pela metade o tempo necessário para que uma empresa atravesse seu “deserto financeiro”.

Ao oferecer consolidação de dívidas, mais flexibilidade nas garantias e maior velocidade de aprovação, os FIDCs estão ajudando empresas a se manterem de pé em um dos períodos mais críticos para o setor empresarial brasileiro.

Redação Contraponto

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