Crédito e Cobrança

Recuperação judicial no agronegócio cresce no Brasil e expõe falhas na oferta de crédito rural

Explosão de pedidos em 2024, custos elevados e falta de financiamento mostram a urgência de novas políticas para sustentar o setor produtivo

Uma nova realidade tem chamado a atenção no Brasil: o aumento expressivo de pedidos de recuperação judicial no setor rural. O instrumento jurídico, tradicionalmente utilizado para evitar a falência de empresas endividadas, tornou-se mais frequente no agronegócio, impulsionado por um cenário de choques climáticos, juros elevados e crédito insuficiente.

O número de pedidos disparou em 2024, alcançando 2.273 registros no país, um crescimento de 62 por cento em relação ao ano anterior. No segundo trimestre de 2025, a Serasa Experian registrou 429 novos pedidos, alta de 31,7 por cento na comparação anual. A situação preocupa porque atinge produtores de todos os portes, desde pessoas físicas até grandes propriedades.

Estados mais afetados pelos pedidos de recuperação judicial

Embora Santa Catarina não esteja entre os estados com maiores índices, regiões como Goiás, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraná concentram a maior parte dos casos. De acordo com especialistas, o perfil dos produtores que recorrem à recuperação judicial é variado, mas há predominância de propriedades maiores, que enfrentam maior exposição a riscos climáticos e financeiros.

Apesar do crescimento, alguns analistas acreditam que pode haver exageros nos pedidos, já que o mecanismo, quando adotado sem necessidade real, pode distorcer o uso da ferramenta jurídica e pressionar ainda mais a cadeia produtiva.

O alerta da Faesc sobre a insuficiência de crédito rural

Em artigo recente, José Zeferino Pedrozo, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina, destacou sua preocupação com a escalada de pedidos de recuperação judicial. Para ele, o problema está diretamente ligado ao aumento dos custos de produção e às limitações no crédito rural.

Nos últimos anos, insumos dolarizados, sementes, energia e mão de obra ficaram mais caros. A taxa Selic em torno de 15 por cento ao ano ampliou o custo dos financiamentos e reduziu as margens de lucro do produtor. Segundo Pedrozo, além do encarecimento operacional, o crédito oficial tem chegado tarde, em volume insuficiente ou simplesmente deixado de chegar às propriedades.

Ele reforça que o crédito subsidiado não deve ser visto como benefício, mas como política pública essencial para garantir abastecimento, estabilidade econômica e continuidade produtiva. Sem recursos adequados, a agricultura perde capacidade de planejamento e se torna vulnerável a choques externos.

Desafios climáticos agravam a pressão sobre o agronegócio

As atividades agrícolas exigem previsibilidade e dependem diretamente das condições climáticas, que têm sido cada vez mais instáveis. Eventos extremos, como secas prolongadas, chuvas intensas e variações abruptas de temperatura, afetam a produtividade e elevam ainda mais os riscos financeiros dos produtores.

Com produção reduzida, a oferta diminui, o preço dos alimentos sobe e a inflação impacta toda a população. O ciclo afeta tanto quem está no campo quanto quem vive nos centros urbanos, reforçando a necessidade de políticas de crédito consistentes e alinhadas à realidade do agronegócio.

Por que o crédito rural é decisivo para evitar a crise no campo

O crédito rural tem papel estratégico na manutenção da produção. Ele garante o custeio da safra, a compra de insumos, investimentos em tecnologia, modernização do maquinário e expansão das operações. Quando esse crédito é irregular, insuficiente ou caro, os impactos se acumulam rapidamente.

Para evitar um colapso produtivo, especialistas defendem ações urgentes do governo federal para reorganizar e fortalecer as linhas de financiamento. A previsibilidade é fundamental para que o produtor planeje a safra, reduza riscos e evite recorrer a medidas extremas, como a recuperação judicial.

Caminhos possíveis para reequilibrar o setor

Entre as soluções apontadas por entidades e economistas estão a ampliação das linhas oficiais, redução da burocracia, maior transparência na distribuição de recursos e criação de programas voltados à proteção contra riscos climáticos. Também é fundamental estimular práticas de gestão financeira e utilização de tecnologias que ampliem a eficiência no campo.

O agronegócio continua sendo um dos pilares da economia brasileira. Garantir crédito adequado, acessível e previsível é a chave para proteger o setor, evitar crises e sustentar a segurança alimentar do país.

Redação Contraponto

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