Crédito e Riscos no Agronegócio

No episódio 177 do podcast ContraPonto, Pedro Felipe e Marcos Guerra recebem Sérgio J. Pigozzo, especialista com mais de quatro décadas de atuação no agronegócio. Com uma trajetória que passou por empresas como Serasa e Bunge, Sérgio trouxe uma visão estratégica e técnica sobre os principais desafios do crédito no agronegócio — um setor que representa cerca de 30% do PIB brasileiro.
Logo no início, o clima do episódio é leve, mas repleto de autoridade. Sérgio compartilha suas vivências e mostra como o agro evoluiu de um financiamento quase exclusivo do Banco do Brasil para um ecossistema mais complexo e competitivo, com entrada de bancos privados, cooperativas e até o mercado de capitais.
Do financiamento estatal à concorrência privada
Durante décadas, o crédito rural no Brasil foi concentrado em linhas de financiamento subsidiadas, principalmente do Banco do Brasil. No entanto, a demanda crescente por capital impulsionou a entrada de novos players financeiros, como bancos comerciais, cooperativas de crédito e empresas do agronegócio, incluindo fabricantes de fertilizantes e revendas de insumos.
Essa descentralização tornou o crédito mais acessível, mas também aumentou a complexidade na avaliação de risco.
O papel estratégico das cooperativas agrícolas
Sérgio destacou o papel das cooperativas de crédito, especialmente no interior paulista. Essas instituições se tornaram essenciais para viabilizar o acesso ao financiamento em regiões onde grandes bancos não têm presença forte. Além disso, oferecem taxas mais competitivas e uma relação de confiança com os produtores.
Segundo ele, o sistema cooperativista fortalece o agronegócio porque entende as particularidades locais e contribui para o desenvolvimento regional.
Riscos climáticos, inadimplência e garantias reais
Um dos pontos mais sensíveis do episódio foi a inadimplência no campo. Sérgio ressaltou que, mesmo com instrumentos como a CPR (Cédula do Produtor Rural) e garantias como a alienação de grãos, eventos climáticos — como a seca no Rio Grande do Sul — podem simplesmente inviabilizar a colheita.
Ou seja, não se trata apenas de análise de crédito, mas de entender a volatilidade do clima e do preço das commodities, que impactam diretamente na capacidade de pagamento do produtor.
Crédito caro e as armadilhas do financiamento
Com o aumento da taxa Selic, produtores passaram a buscar créditos subsidiados, mas esses recursos ainda são limitados. A realidade é que muitos agricultores acabam contraindo dívidas com custo financeiro elevado, o que pode gerar uma bola de neve de inadimplência — especialmente em anos de baixa rentabilidade.
Sérgio alerta que nem sempre a inadimplência está ligada à má gestão: muitas vezes é o reflexo de um modelo de crédito desestruturado, que ignora os ciclos produtivos e os riscos externos.
Como cobrar no agro: mais relacionamento, menos pressão
A cobrança no agronegócio é completamente diferente da cobrança tradicional urbana. Sérgio pontua que o produtor rural valoriza relacionamento, confiança e empatia. Estratégias agressivas de call center não funcionam bem nesse contexto.
Em muitos casos, conhecer o histórico do produtor, suas redes sociais, e até seu engajamento com a comunidade, pode ajudar a criar uma abordagem mais humana e eficaz.
Inovação tecnológica e o futuro do crédito no campo
O episódio também trouxe uma luz sobre as tecnologias emergentes no agro, como o uso de satélites para monitorar lavouras e ferramentas como o Open Gateway, que permite a ampliação do sinal de internet nas propriedades rurais, viabilizando transações financeiras digitais mesmo em áreas remotas.
Além disso, birôs de crédito especializados, como uma vertical da Serasa dedicada ao agro, estão surgindo para ajudar o mercado a precificar melhor os riscos.
Educação financeira: uma solução estrutural
Por fim, Sérgio reforça que educação financeira é peça-chave para a sustentabilidade do agronegócio, especialmente entre pequenos e médios produtores. Saber captar, aplicar e gerir recursos é tão importante quanto ter boas safras.
A profissionalização do campo passa, necessariamente, pela qualificação de quem está na ponta.
Assista ao episódio completo no YouTube
Se você trabalha com crédito, risco ou simplesmente quer entender como funciona o coração financeiro do agronegócio brasileiro, este episódio é obrigatório.