CAPACrédito e Cobrança

Consignado CLT quase triplica em 7 meses e juros chegam a 60% ao ano

Facilidade no acesso ao crédito aumenta contratações, mas especialistas alertam para endividamento silencioso e risco ao salário do trabalhador

O programa Crédito ao Trabalhador, lançado em março de 2025, transformou o cenário do consignado para o setor privado. Em apenas sete meses, as concessões passaram de 2.250 operações em março para 6.399 em setembro, quase triplicando o volume de empréstimos. A principal mudança foi a simplificação do processo. Agora é possível contratar o consignado diretamente pelo aplicativo Carteira de Trabalho Digital, sem depender de convênios entre empresas e bancos, como acontecia antes.

Juros disparam e se aproximam de 60% ao ano

A facilidade de contratação veio acompanhada de uma forte alta nos juros. Em março, a taxa média anual era de 44%. Em setembro, já havia subido para 58,4%. O cenário é ainda mais preocupante quando se observam diferenças entre instituições. Dados do Banco Central mostram que as taxas podem variar de 19,10% ao ano até 185,19%, a depender do banco. Entre as grandes instituições, os juros ficam entre 36,6% e 48% ao ano.

Comparação com outras modalidades de crédito

Mesmo com a alta, o consignado CLT ainda é mais barato do que outras linhas comuns do mercado. O crédito pessoal não consignado, por exemplo, atingiu 101,2% ao ano em setembro. Já o cheque especial se mantém como uma das modalidades mais caras, com 141% ao ano. Apesar disso, o consignado CLT cobra mais do que os empréstimos oferecidos a servidores públicos e beneficiários do INSS, cujas taxas ficam entre 24% e 24,4% ao ano.

FGTS como garantia aumenta riscos para o trabalhador

Uma parte importante da modalidade é o uso do saldo do FGTS como garantia automática. Em caso de demissão, o valor disponível no fundo é utilizado para quitar parte ou totalidade da dívida. Caso o FGTS não seja suficiente, o trabalhador continua pagando as parcelas no próximo emprego, com juros e correção referentes ao período sem vínculo formal. Especialistas alertam que essa regra compromete a função do FGTS como reserva para situações de fragilidade financeira, como desemprego.

Crescimento das concessões reduz inadimplência artificialmente

Segundo analistas consultados, o crescimento acelerado nas concessões diminui a taxa de inadimplência porque a entrada de novos tomadores aumenta a base total de contratos. A economista Katherine Hennings destaca que o sistema ainda está buscando estabilização e que o movimento não significa melhora real na capacidade de pagamento das famílias.

Trabalhadores contratam sem entender o impacto no salário

Uma pesquisa da Abefin com tomadores de crédito apontou que 69% das pessoas não calcularam o impacto da parcela no orçamento mensal, 83% não sabiam quanto pagavam de juros e quase metade desconhecia o uso do FGTS como garantia. Especialistas alertam que, ao comprometer até 35% da renda com consignado, o trabalhador pode ter queda significativa no salário líquido e enfrentar dificuldades para arcar com despesas essenciais.

Riscos se ampliam entre trabalhadores de aplicativo e MEIs

O programa também permite a contratação por domésticos, rurais, MEIs e trabalhadores de aplicativo. Nos casos em que a renda já é instável ou complementar, assumir parcelas fixas e obrigatórias aumenta a vulnerabilidade financeira, podendo comprometer a sustentabilidade do orçamento.

Como avaliar se o consignado CLT vale a pena

Para utilizar a modalidade com segurança, especialistas recomendam mapear todas as despesas fixas, calcular o impacto da parcela e considerar o prazo médio de pagamento, que hoje é de 34,4 meses, quase três anos. É importante lembrar que o consignado não está coberto pela Lei do Superendividamento, o que significa que não pode ser renegociado formalmente como outras dívidas. Em muitos casos, pode ser mais vantajoso negociar dívidas caras, como cartão de crédito ou cheque especial, antes de assumir um compromisso de longo prazo.

Para que o crédito tem sido usado

  • Segundo a Abefin, os principais motivos de contratação foram:
  • 36% para quitar dívidas caras
  • 29% para despesas de saúde
  • 26% para reformas
  • 19% para compra de eletrodomésticos ou veículos

Embora trocar dívidas mais caras por um empréstimo mais barato pareça vantajoso, especialistas defendem que o trabalhador avalie alternativas e busque negociação antes de recorrer ao consignado CLT.

Redação Contraponto

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