Brasil registra a segunda maior taxa de juros real do mundo com Selic em 15%

Mesmo com a inflação em desaceleração, o Brasil permanece entre os países com maior juro real do planeta. Após a decisão do Copom de manter a Selic em 15% ao ano, o país alcançou a segunda maior taxa de juro real do mundo, atrás apenas da Turquia, segundo levantamento da consultoria MoneYou.
Essa posição reflete o desafio de equilibrar inflação, credibilidade fiscal e crescimento econômico em meio a um cenário global ainda volátil.
O que é o juro real e por que ele importa
O juro real é calculado ao descontar a inflação esperada da taxa de juros nominal (Selic). Ele representa o verdadeiro custo do crédito ou o retorno de investimentos de renda fixa. Enquanto a Selic mostra o valor bruto dos juros, o juro real indica o ganho (ou perda) acima da inflação, sendo um termômetro mais preciso do impacto da política monetária.
Como é feito o cálculo da taxa de juros real
A MoneYou baseou seu cálculo na Selic projetada para julho de 2026 (15%) e na inflação esperada para os próximos 12 meses (4,53%), segundo o Boletim Focus. Com isso, o juro real bruto é de 10,47%. Ajustado pelo modelo composto, o número final chega a 9,76%.
Esse índice coloca o Brasil em segundo lugar no ranking global de juros reais, atrás apenas da Turquia, que registrou 10,88%.
Ranking dos países com maiores juros reais (agosto de 2025)
- Turquia: 10,88%
- Brasil: 9,76%
- México: 6,02%
- Colômbia: 5,90%
- Indonésia: 5,15%
A maioria dos países desenvolvidos aparece no outro extremo da lista, com juros reais próximos de zero ou até negativos.
Copom mantém Selic em 15% ao ano
Na reunião de 30 de julho, o Comitê de Política Monetária decidiu, por unanimidade, manter a Selic em 15% ao ano, encerrando o ciclo de alta iniciado no pós-pandemia. O Banco Central justificou a decisão com base em três fatores:
- Inflação ainda acima da meta, especialmente nos núcleos inflacionários.
- Incertezas fiscais e expansão dos gastos públicos.
- Ambiente externo instável, com pressão sobre moedas emergentes.
A autoridade monetária reforçou que a prioridade é ancorar as expectativas de inflação e garantir a convergência à meta até 2026.
Impactos da Selic alta na economia brasileira
Crédito mais caro e consumo retraído
Com a Selic em 15%, o custo do crédito aumenta, dificultando o acesso ao financiamento por consumidores e empresas. Isso reduz a demanda por bens de consumo duráveis, como carros, imóveis e eletrodomésticos, e contribui para o arrefecimento da economia o que, por sua vez, ajuda no controle da inflação.
Renda fixa mais atrativa
Em contrapartida, os investimentos em renda fixa ganham destaque. CDBs, Tesouro Direto e fundos atrelados à Selic oferecem retornos mais atrativos, favorecendo quem tem perfil conservador e busca segurança.
Pressão sobre a dívida pública
Juros altos elevam o custo de rolagem da dívida pública. Isso compromete o orçamento do governo e dificulta o cumprimento de metas fiscais, aumentando o risco percebido pelos investidores.
Por que o Brasil mantém juros tão altos?
Inflação persistente
Apesar da queda recente, a inflação brasileira ainda está acima do centro da meta. A inflação de serviços e os núcleos inflacionários mostram resistência, exigindo uma política monetária mais rígida.
Riscos fiscais elevados
O aumento dos gastos públicos e a dificuldade de gerar superávit fiscal sustentável elevam a percepção de risco, forçando o Banco Central a manter juros elevados para conter expectativas inflacionárias.
Ambiente externo incerto
Fatores como a guerra na Ucrânia, tensão no Mar Vermelho, oscilação no preço das commodities e mudanças na política monetária de países desenvolvidos afetam o câmbio e podem repassar pressões inflacionárias ao Brasil.
Comparação com países desenvolvidos
Nos Estados Unidos, a taxa de juro real está próxima de zero. A zona do euro opera com juro real negativo, e o Japão segue com política monetária expansionista, com taxa nominal perto de zero. Esses países têm maior controle fiscal, credibilidade institucional e menor risco inflacionário — o que permite taxas menores mesmo com crescimento econômico.
O que esperar nos próximos meses?
Queda lenta e gradual da Selic
De acordo com o Boletim Focus, o mercado espera cortes graduais na Selic a partir de 2026. No entanto, o ritmo dependerá da inflação e da evolução das contas públicas. Cortes bruscos são improváveis sem garantias de estabilidade fiscal e institucional.
O papel do governo na redução dos juros
Para que a Selic comece a cair com mais consistência, será necessário que o governo:
- Controle os gastos públicos
- Estabeleça metas fiscais claras e críveis
- Avance em reformas estruturantes
Com essas medidas, o Banco Central poderá reduzir a taxa básica sem comprometer a estabilidade da moeda e o controle da inflação.