Bancos públicos lideram nova modalidade de crédito consignado privado

Os bancos públicos assumiram protagonismo no mercado de crédito consignado privado, lançado há apenas quatro meses pelo governo federal. Com destaque absoluto para o Banco do Brasil (BB), essa modalidade já movimentou quase R$ 15 bilhões e mostra como as instituições estatais estão sendo utilizadas estrategicamente para impulsionar a economia e estimular a concorrência no setor financeiro.
Banco do Brasil lidera com 25% do volume total emprestado
O BB concedeu R$ 3,8 bilhões em empréstimos por meio do Crédito do Trabalhador — nova modalidade de crédito consignado voltada ao setor privado. Esse volume representa 25% de tudo o que foi emprestado pelas 52 instituições participantes, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
O número impressiona ainda mais quando comparado aos quatro maiores bancos do país — Itaú, Bradesco, Santander e Caixa Econômica Federal — que, juntos, somam R$ 2,9 bilhões, ou 19% do total emprestado até 18 de junho.
Essa movimentação reforça o protagonismo do BB sob a liderança de Tarciana Medeiros e evidencia o papel ativo do governo em utilizar bancos públicos como ferramenta de estímulo ao crédito e à competição bancária.
Caixa avança com taxas competitivas e papel estratégico
A Caixa Econômica Federal segue uma trajetória mais cautelosa, mas estratégica. Responsável historicamente por grande parte do crédito habitacional no país, a instituição presidida por Carlos Vieira já responde por mais de 8% do volume total do consignado privado.
Apesar de não liderar em volume, a Caixa se destaca pela agressividade nas taxas de juros: cobra, em média, 2,48% ao mês — valor inferior à média do mercado (3,47%) e atrás apenas do Bradesco, que possui participação ainda tímida, com menos de 1% das operações.
A expectativa é que a Caixa amplie sua atuação nesse novo mercado, fortalecendo ainda mais a presença dos bancos públicos no segmento.
Juros elevados seguem como preocupação do governo
Apesar da leve queda desde o início do programa, a taxa média de juros cobrada ainda é considerada alta pelo Ministério do Trabalho. O ministro Luiz Marinho e sua equipe classificam parte dessas cobranças como “juros abusivos” e estudam medidas regulatórias mais firmes, como suspensão ou expulsão de instituições financeiras que não seguirem diretrizes consideradas justas.
Os números mostram um cenário diversificado: enquanto o BB e o Itaú operam com taxas de 2,81% ao mês, o Bradesco oferece a menor (2,07%) e o Santander opera a 3,06%. A média geral permanece elevada por conta das financeiras e fintechs, cujas taxas tendem a ser mais agressivas.
Estratégia política e econômica por trás do crédito
A expansão do crédito consignado privado com forte atuação dos bancos públicos se encaixa na estratégia do governo de manter a economia aquecida, mesmo diante da expectativa de desaceleração nos próximos trimestres. A iniciativa visa preservar o nível de emprego e fomentar o consumo das famílias.
Além disso, outras linhas de financiamento estão sendo preparadas para públicos específicos — como trabalhadores de aplicativos — com foco em aquisição de motocicletas, por exemplo. Com o Banco Central mantendo a taxa básica de juros em patamar elevado e o governo enfrentando restrições fiscais, o uso das instituições estatais como braços financeiros tende a se intensificar, especialmente com a aproximação do calendário eleitoral.