O avanço da inadimplência no Brasil e os reflexos no crédito em 2025

O Brasil atingiu um novo recorde de inadimplência em maio de 2025, com 77,1 milhões de consumidores com dívidas em atraso. Esse número representa um aumento de 400 mil pessoas em relação ao mês anterior e um acréscimo expressivo de 4,5 milhões de inadimplentes em comparação a maio de 2024. O cenário se agrava em um ambiente de crédito restrito e juros elevados, que dificultam a renegociação de dívidas e o acesso a novas linhas de crédito.
Os setores mais impactados pela inadimplência continuam sendo os bancos e cartões de crédito (27,8%), seguidos por utilities (contas de luz, água e gás, com 20,2%) e financeiras (19,4%). Esses segmentos concentram a maior parte dos registros de inadimplência, afetando diretamente o equilíbrio financeiro das instituições e o comportamento de risco dos credores.
Impactos diretos sobre as empresas, especialmente as de menor porte
O aumento da inadimplência não afeta apenas os consumidores. Em maio de 2025, o número de CNPJs negativados chegou a 7,7 milhões, representando um aumento de 200 mil em relação a abril e 800 mil a mais na comparação anual. As micro e pequenas empresas (MPEs) são as mais prejudicadas: somam 7,2 milhões de registros negativos, com destaque para os setores de serviços (54,4%), comércio (35,5%) e indústria (8,2%).
As MPEs enfrentam maiores dificuldades para acessar crédito em um cenário de taxas elevadas e menor apetite ao risco por parte dos bancos. Muitas recorrem a linhas padronizadas de curto prazo, com juros mais altos e menor flexibilidade, o que compromete ainda mais sua saúde financeira. Além disso, a média de restrições por empresa negativada é de sete ocorrências por CNPJ, indicando um acúmulo de dívidas que compromete a sustentabilidade dos negócios.
Demanda por crédito cresce, mesmo com juros altos
Mesmo diante das dificuldades, tanto consumidores quanto empresas continuam buscando crédito como estratégia de sobrevivência financeira. Em abril de 2025, a demanda por crédito cresceu 6,5% entre pessoas físicas e 16,4% entre empresas, revertendo a tendência de moderação observada em meses anteriores.
Esse movimento indica que o crédito ainda é uma ferramenta relevante para manutenção do consumo e renegociação de dívidas. No entanto, o aumento da demanda não tem sido acompanhado pela mesma velocidade na concessão. Em maio, o volume total de crédito concedido caiu 1,5% em relação ao mês anterior. Para empresas, a queda foi de 2,5%; para pessoas físicas, 3,9%. A desaceleração das concessões mostra a cautela dos credores frente ao avanço da inadimplência.
Perspectivas para o crédito no segundo semestre de 2025
Embora o crédito continue sendo peça-chave na dinâmica econômica, a expectativa para o segundo semestre de 2025 é de desaceleração. As projeções da Serasa Experian apontam que o crescimento nominal das operações de crédito cairá de 11,5% em 2024 para 8,5% em 2025. Ainda é um crescimento robusto, considerando o cenário desafiador, mas representa uma queda relevante no ritmo.
Entre os destaques está o avanço de novas modalidades de crédito mais seguras, como o consignado privado, que oferece menor risco para os credores. A tendência é que o mercado se torne mais seletivo, exigindo maior uso de dados, análise de risco e responsabilidade na concessão de crédito.
O cenário de 2025 é marcado por um paradoxo: inadimplência em alta, demanda por crédito crescente e concessões em desaceleração. Consumidores e empresas enfrentam desafios para manter suas obrigações em dia, enquanto instituições financeiras precisam equilibrar risco e oportunidade. Neste ambiente, a inteligência na gestão de crédito será decisiva para a sustentabilidade da economia.