Leilões de imóveis crescem 25% e refletem aumento da inadimplência no Brasil
Com a taxa Selic em 15%, o crédito imobiliário se tornou mais caro, levando muitas famílias e investidores a enxergar nos leilões uma oportunidade de compra

O mercado de leilões de imóveis no Brasil vive um momento de forte expansão. No primeiro semestre de 2025, foram registrados 116,6 mil negócios, um crescimento de 25,1% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados da Associação Brasileira dos Arrematantes de Imóveis (Abraim). Esse cenário, no entanto, é reflexo direto da alta inadimplência no país, que em junho atingiu 77,8 milhões de brasileiros, de acordo com a Serasa.
Crescimento impulsionado pela inadimplência e juros altos
Dados do Banco Central mostram que a inadimplência no financiamento imobiliário atingiu 1,54% em 2023, com destaque para financiamentos via FGTS, que subiram de 1,99% em 2019 para 2,63% no ano passado. Apenas na Caixa Econômica Federal, que responde por 70% do mercado, o número de imóveis em leilão saltou de 9 mil em 2022 para 47 mil em 2024.
Com a taxa Selic em 15%, o crédito imobiliário se tornou mais caro, levando muitas famílias e investidores a enxergar nos leilões uma oportunidade de compra com preços reduzidos e condições mais acessíveis.
Mudança no perfil do comprador
Se antes os leilões eram dominados por investidores, hoje eles atraem também famílias em busca da casa própria. Segundo o presidente da Abraim, Gustavo Amaral, a principal vantagem está nos deságios que podem chegar a 50% do valor de mercado e nas condições de entrada reduzida. Um imóvel de R$ 1 milhão, por exemplo, pode ser adquirido por R$ 500 mil em um leilão, com entrada de apenas 5% e juros mais baixos que no financiamento tradicional.
O que avaliar antes de participar de um leilão
Um dos pontos de atenção é verificar se o imóvel está ocupado, já que o comprador pode ter de arcar com o processo de desocupação. Amaral orienta a analisar a matrícula do imóvel, que funciona como um histórico completo, incluindo eventuais dívidas, litígios e características da propriedade.
Além disso, é essencial ler o edital do leilão, que define todas as regras da transação, valores de primeira e segunda praça, responsabilidades do arrematante e informações sobre possíveis encargos pendentes.
Custos que vão além da compra
Quem participa de um leilão deve considerar todos os custos envolvidos: comissão do leiloeiro (geralmente 5%), ITBI, taxas cartoriais (cerca de 1% do valor), condomínio e IPTU, além de eventuais reformas. O ciclo completo entre arrematar, regularizar, reformar e vender pode levar cerca de um ano, o que exige planejamento financeiro.
Também é fundamental avaliar o preço de mercado do imóvel e sua liquidez, garantindo que o investimento seja realmente vantajoso.
Profissional de apoio e modalidades de leilão
Para quem não tem experiência, contar com um profissional especializado é altamente recomendado. Existem diferentes tipos de leilões judiciais, extrajudiciais, cíveis, trabalhistas, criminais e de falência — cada um com regras específicas.
No caso dos extrajudiciais, a maioria é promovida por bancos, como a Caixa, que possui cinco modalidades diferentes, variando desde leilões obrigatórios por inadimplência até licitações abertas. Em algumas modalidades, o próprio banco assume dívidas de IPTU e condomínio, enquanto em outras, a responsabilidade é do comprador.
O crescimento dos leilões de imóveis no Brasil reflete não apenas o aumento da inadimplência, mas também uma mudança de comportamento dos compradores, que buscam alternativas mais econômicas para adquirir propriedades. Apesar das oportunidades, é um mercado que exige conhecimento, atenção aos detalhes e planejamento financeiro para garantir que o negócio seja seguro e rentável.