Deepfake jurídico: quando até seu advogado pode ser falsificado
Como golpes digitais estão usando inteligência artificial para clonar advogados, manipular documentos e enganar clientes – e o que fazer para se proteger.

O que é o deepfake jurídico
O termo deepfake jurídico descreve golpes digitais que utilizam dados reais de processos, identidade de advogados e até clonagem de voz e vídeo para enganar clientes. Criminosos acessam informações públicas em sites de tribunais, usam nomes e fotos de advogados verdadeiros e enviam mensagens por WhatsApp, SMS ou e-mail com documentos falsificados — como sentenças, ofícios e boletos — exigindo pagamento imediato via PIX.
O problema já é tão grave que tribunais como TJSP, TJDFT e TRF-3, além da OAB, vêm emitindo alertas frequentes: o Judiciário não cobra valores por WhatsApp ou PIX.
Como os golpistas atuam
O golpe segue quase sempre a mesma engenharia social:
- Coleta de dados reais em sites como PJe e e-SAJ (número do processo, nomes, valores).
- Abordagem urgente por WhatsApp ou ligação, muitas vezes com voz/vídeo deepfake.
- Envio de documentos falsos com brasões e timbres oficiais.
- Solicitação de PIX para supostas custas, emolumentos ou liberação de valores.
- Desaparecimento após o pagamento.
Casos já registrados mostram até clonagem de WhatsApp de escritórios e uso de voice cloning para dar mais credibilidade à fraude.
Casos reais pelo Brasil
- São Paulo (TJSP): falsos ofícios, guias e sites clonados prometendo liberação de precatórios.
- Distrito Federal (TJDFT): uso de dados reais de processos em golpes via WhatsApp.
- Rio Grande do Sul (TRT-RS): envio de “sentença trabalhista” com foto do advogado.
- Paraíba: clonagem de voz usada em extorsões.
- Bahia e Rio de Janeiro: centenas de denúncias em 2025, algumas com imagens geradas por IA.
Como orientar clientes contra golpes
Trava de 30 segundos antes de clicar ou pagar:
- Desconfie de mensagens urgentes.
- Verifique o advogado no ConfirmADV (OAB) ou no CNA.
- Confirme contato apenas pelos canais já combinados (número salvo, site oficial, e-mail institucional).
- Consulte o processo diretamente no site do tribunal.
Pagamentos:
- Nunca faça PIX para contas de terceiros por “custas” ou “liberação de valores”.
- Desconfie de links, anexos e domínios falsos.
O que fazer se cair no golpe
- Acione o MED (Mecanismo Especial de Devolução) do Pix no seu banco em até 80 dias.
- Registre boletim de ocorrência (delegacia presencial ou online).
- Guarde provas (prints, áudios, chaves PIX, documentos).
- Informe a OAB e o advogado verdadeiro.
Boas práticas para escritórios
- Definir canais oficiais: deixar claro em contrato e site que nunca solicitam PIX por WhatsApp.
- Avisos automáticos: usar WhatsApp Business verificado com mensagem de alerta.
- Treinamento do cliente: enviar lembretes de segurança a cada etapa do processo.
- Plano de resposta: ter modelo de comunicado público e roteiro para atendimento rápido às vítimas.