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Deepfake jurídico: quando até seu advogado pode ser falsificado

Como golpes digitais estão usando inteligência artificial para clonar advogados, manipular documentos e enganar clientes – e o que fazer para se proteger.

O que é o deepfake jurídico

O termo deepfake jurídico descreve golpes digitais que utilizam dados reais de processos, identidade de advogados e até clonagem de voz e vídeo para enganar clientes. Criminosos acessam informações públicas em sites de tribunais, usam nomes e fotos de advogados verdadeiros e enviam mensagens por WhatsApp, SMS ou e-mail com documentos falsificados — como sentenças, ofícios e boletos — exigindo pagamento imediato via PIX.

O problema já é tão grave que tribunais como TJSP, TJDFT e TRF-3, além da OAB, vêm emitindo alertas frequentes: o Judiciário não cobra valores por WhatsApp ou PIX.

Como os golpistas atuam

O golpe segue quase sempre a mesma engenharia social:

  1. Coleta de dados reais em sites como PJe e e-SAJ (número do processo, nomes, valores).
  2. Abordagem urgente por WhatsApp ou ligação, muitas vezes com voz/vídeo deepfake.
  3. Envio de documentos falsos com brasões e timbres oficiais.
  4. Solicitação de PIX para supostas custas, emolumentos ou liberação de valores.
  5. Desaparecimento após o pagamento.

Casos já registrados mostram até clonagem de WhatsApp de escritórios e uso de voice cloning para dar mais credibilidade à fraude.

Casos reais pelo Brasil

  • São Paulo (TJSP): falsos ofícios, guias e sites clonados prometendo liberação de precatórios.
  • Distrito Federal (TJDFT): uso de dados reais de processos em golpes via WhatsApp.
  • Rio Grande do Sul (TRT-RS): envio de “sentença trabalhista” com foto do advogado.
  • Paraíba: clonagem de voz usada em extorsões.
  • Bahia e Rio de Janeiro: centenas de denúncias em 2025, algumas com imagens geradas por IA.

Como orientar clientes contra golpes

Trava de 30 segundos antes de clicar ou pagar:

  • Desconfie de mensagens urgentes.
  • Verifique o advogado no ConfirmADV (OAB) ou no CNA.
  • Confirme contato apenas pelos canais já combinados (número salvo, site oficial, e-mail institucional).
  • Consulte o processo diretamente no site do tribunal.

Pagamentos:

  • Nunca faça PIX para contas de terceiros por “custas” ou “liberação de valores”.
  • Desconfie de links, anexos e domínios falsos.

O que fazer se cair no golpe

  1. Acione o MED (Mecanismo Especial de Devolução) do Pix no seu banco em até 80 dias.
  2. Registre boletim de ocorrência (delegacia presencial ou online).
  3. Guarde provas (prints, áudios, chaves PIX, documentos).
  4. Informe a OAB e o advogado verdadeiro.

Boas práticas para escritórios

  • Definir canais oficiais: deixar claro em contrato e site que nunca solicitam PIX por WhatsApp.
  • Avisos automáticos: usar WhatsApp Business verificado com mensagem de alerta.
  • Treinamento do cliente: enviar lembretes de segurança a cada etapa do processo.
  • Plano de resposta: ter modelo de comunicado público e roteiro para atendimento rápido às vítimas.

Afonso Morais

Advogado, fundador e CEO do Grupo Morais Advogados que atua com callcenter na recuperação de créditos, amigável e judicial. Na area jurídica presta assessoria, consultoria e contencioso a mais 40 anos , atuando no direito do consumidor, trabalhista, digital, comercial, contratual e atualizando foca a sua expertise na implantação e proteção da LGPD, Cibersegurança, complance e educação digital. Ontem, Hoje e no futuro sempre ao lado de seus clientes.

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