CAPACrédito e Cobrança

O que está errado com o crédito no Brasil? A reflexão de Galípolo, presidente do Banco Central

O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, trouxe à tona uma questão que tem gerado debates entre especialistas em economia e política monetária: por que alguns setores da economia têm acesso a crédito com juros inferiores à taxa livre de risco, enquanto as famílias enfrentam taxas muito mais altas?

A declaração, feita na última terça (29), escancara um dos maiores desafios da política monetária brasileira para 2025: a correção das distorções no sistema de crédito.

Segundo Galípolo, é “estranho” que empresas estejam obtendo linhas de financiamento com juros abaixo da taxa livre de risco – uma referência que deveria ser o piso para qualquer operação de crédito. Para qualquer estudante de economia, essa condição seria considerada uma anomalia de mercado.

Essa discrepância, segundo o presidente do BC, distorce o funcionamento saudável da política monetária e mina os efeitos esperados das decisões relacionadas à taxa Selic.

Juros altos para famílias, crédito barato para empresas

Um dos principais contrastes apontados por Galípolo é o abismo entre o custo do crédito para as famílias e as condições oferecidas a grandes empresas. Enquanto muitos consumidores enfrentam taxas elevadas, especialmente no crédito rotativo e no cartão de crédito, empresas específicas conseguem captar recursos com custos inferiores ao que se entende como “livre de risco”.

Essa diferença não apenas fere a lógica econômica, como também acentua a desigualdade de acesso ao sistema financeiro.

O efeito das “Vacinas” contra juros altos

Galípolo explicou que ao longo do tempo foram criadas “vacinas” — mecanismos e incentivos — para amenizar os efeitos dos juros altos sobre certos setores da economia. No entanto, essas soluções pontuais acabam desorganizando o sistema no longo prazo.

Cada nova “vacina” exige um remédio mais forte no futuro, o que torna a política monetária menos eficaz. Esse ciclo cria um sistema que favorece grandes players, enquanto penaliza consumidores comuns e pequenas empresas.

Crédito rotativo: De emergência a renda falsa

Outro ponto crítico levantado por Galípolo é a forma como o crédito rotativo tem sido utilizado pelas famílias brasileiras. Originalmente criado para situações emergenciais, esse tipo de financiamento passou a ser usado como se fosse uma extensão da renda — o que leva ao endividamento excessivo e ao pagamento de juros muito acima da taxa Selic.

Essa prática revela um problema cultural e estrutural no acesso e uso do crédito no Brasil, exigindo educação financeira e mudanças regulatórias mais incisivas.

Caminhos para a normalização monetária

A agenda do Banco Central para 2025 passa pela “normalização” da política monetária, o que, segundo Galípolo, implica ajustar essas distorções. O objetivo é tornar o crédito mais acessível para as famílias, com taxas mais próximas da Selic, e impedir que o sistema beneficie apenas uma parte restrita da economia.

A tarefa, no entanto, é complexa e depende de reformas estruturais, regulação eficiente e mudanças na lógica de concessão de crédito no país.

Artigos relacionados

Chamar agora
Fale com a Redação!
Tu comunica, a gente publica. Aqui a tua voz vira notícia. Fala com a gente!
×