Reconhecimento vai além do “bom trabalho”
Valorizar não é repetir elogios genéricos; é praticar o Reconhecimento de forma genuína e personalizada, focando no que realmente importa para cada pessoa

O mito do reconhecimento
Por muito tempo, acreditamos que reconhecimento era sinônimo de elogios genéricos ou de campanhas padronizadas: prêmios de colaborador do mês, certificados, bônus coletivos.
Essas iniciativas têm valor, claro, marcam conquistas, criam momentos de celebração e integram o time.
Mas, assim como no engajamento, não podem ser confundidas com o coração da valorização estratégica.
Um “bom trabalho” dito no corredor pode até gerar um sorriso, mas não sustenta, por si só, a motivação nem o senso de valorização.
A Valorização precisa ir além do “bom trabalho” dito no corredor para sustentar a motivação e o senso de pertencimento.
O que não é vs. o que é valorização
| ❌Não é… | ✅É… | 💡Como fazer? |
| Apenas elogios genéricos | Reconhecimento específico e genuíno | Diga o que foi feito, qual o impacto e por que foi importante |
| Só campanhas padronizadas | Personalização | Entenda os motivadores individuais (Moving Motivators, por exemplo) e customize a valorização (status, autonomia, aprendizado…) |
| Reconhecer apenas resultados finais | Reconhecer também esforço, aprendizado e comportamentos | Valorize tentativas, evolução e atitudes que sustentam a cultura |
| Focar apenas no o quê | Reconhecer também o como | Celebre posturas, valores e a forma de agir no dia a dia |
A base que sustenta o reconhecimento
Daniel Pink já nos mostrou em Drive que incentivos externos têm limite.
Simon Sinek, com o Golden Circle, reforça: pessoas não se conectam apenas ao o quê ou ao como, mas sim ao porquê.
Reconhecimento que transforma é aquele que não só celebra o feito, mas também conecta o feito ao propósito maior da organização e aos motivadores individuais de cada pessoa.
E os dados confirmam: pesquisas da Gallup apontam que colaboradores que se sentem reconhecidos têm 2,7 vezes mais chances de estarem engajados e menos propensão a buscar outra oportunidade (Gallup, State of the Global Workplace, 2023).
Reconhecer o como e a jornada
Reconhecer apenas o que foi entregue é reduzir valor a resultado.
O verdadeiro reconhecimento também valoriza como as coisas foram feitas: a resiliência diante de obstáculos, a colaboração com colegas, a coragem de assumir riscos, a integridade nas escolhas.
Além disso, reconhecimento não pode se limitar ao destino: precisa valorizar a jornada.
Estudos mostram que aprender com falhas é essencial para o desenvolvimento sustentável dos colaboradores (Zhou et al., 2020).
Reconhecer quem ousa testar, errar, ajustar a rota e aprender fortalece uma cultura de inovação e confiança.
Quando líderes validam o processo, e não apenas o resultado final —, estimulam comportamentos que sustentam o crescimento contínuo da equipe.
Celebrar os acertos como motores
Em algum momento da nossa construção profissional e social, fomos guiados a dar mais importância ao erro, ao que não funcionou, ao que precisa ser corrigido.
Mas esquecemos que os acertos também são motores. Celebrar conquistas, reforçar o que foi feito bem e valorizar avanços é tão educativo quanto corrigir falhas.
Reforço positivo é uma das ferramentas mais poderosas da liderança: semear os acertos aumenta a probabilidade de que eles se repitam (Luthans, 2000).
Estudos recentes mostram que o reconhecimento positivo impacta diretamente o bem-estar e a resiliência das equipes (Coo & Salanova, 2018; Kakkar et al., 2023).
Valorizar os acertos não é complacência, é combustível. Sem celebrar os degraus já conquistados, a equipe perde energia para subir os próximos.
Reconhecimento não é só dar algo pronto: um prêmio, um elogio ou um bônus.
É também criar condições para desenvolvimento e crescimento.
Valorizar alguém não é apenas celebrar o resultado, mas dar ferramentas, abrir espaço, oferecer feedback e estimular que cada pessoa evolua.
Quando o líder reconhece não só a entrega, mas também o aprendizado e a jornada, transforma reconhecimento em desenvolvimento sustentável.
O líder que valoriza realmente não teme o desenvolvimento do liderado, mas o incentiva ativamente.
Isso se traduz em ações concretas que são percebidas como recompensa: investir no desenvolvimento de uma Maestria específica (pagar um curso ou certificação), dar Autonomia para tocar um projeto arriscado, ou oferecer tempo dedicado à inovação.
Aqui, o maior reconhecimento que um líder pode dar é o espaço para o crescimento.
O desafio de reconhecer virtudes
Existe um viés comum: quando perguntamos a alguém se há pontos de melhoria sobre um time, uma pessoa ou um projeto, rapidamente surge uma lista enorme de críticas.
Mas, se a mesma pergunta for feita sobre virtudes e pontos positivos, a resposta não vem tão rápido, muitas vezes, nem vem.
Isso mostra como fomos condicionados a olhar primeiro para o que falta, e não para o que já funciona.
Ferramentas práticas
• Feedback estruturado (EBI – Even Better If): ao invés de apenas dizer “bom trabalho”, destaque o que foi excelente e o que poderia ser ainda melhor.
• Diário de reconhecimento: anotar ao longo do tempo pequenas contribuições e avanços da equipe, para não reconhecer só o mais recente ou mais visível. O Diário de Reconhecimento ajuda a manter a Valorização intencional e constante, em vez de eventual.
• Reconhecimento público + privado: equilibrar momentos coletivos (celebrações, eventos) com conversas individuais e personalizadas.
Reconhecimento eficaz é intencional e constante, não pode depender apenas de grandes conquistas.
Um exercício simples: o potinho das coisas boas
Uma prática poderosa para equilibrar esse olhar é o “potinho das coisas boas”.
Funciona assim: diariamente, registre um ponto positivo observado, pode ser algo que você fez, que alguém do seu time fez, ou mesmo uma conquista pequena de um projeto. Coloque esse registro em um “potinho” físico ou digital.
Esse exercício pode ser feito:
• Individualmente, como prática de autoconsciência.
• Em equipe, para valorizar pares, líderes e liderados.
• Até em família ou círculos pessoais, para cultivar uma perspectiva mais positiva.
Ao longo do tempo, esse hábito treina o olhar para reconhecer e celebrar virtudes, e não apenas identificar falhas.
Mais do que isso: constrói uma cultura em que o reconhecimento deixa de ser eventual e passa a ser cotidiano.
Para refletir
A Valorização vai muito além do “bom trabalho” no corredor ou do brinde coletivo no fim do ano.
É sobre ver, escutar e praticar o reconhecimento da pessoa no que ela tem de único, conectando suas contribuições ao propósito maior e ao próprio crescimento.
As perguntas que ficam:
- O reconhecimento que você pratica hoje é genérico ou personalizado?
- Você valoriza apenas resultados visíveis ou também comportamentos que sustentam a cultura?
- Você reconhece só quando dá certo, ou também quando alguém arriscou, aprendeu e evoluiu?
- Você é capaz de listar virtudes e acertos com a mesma facilidade com que lista críticas?
- E se passássemos a olhar o mundo, e nossas equipes, com uma perspectiva mais positiva?
Saiba mais
• Gallup (2023). State of the Global Workplace Report.
• Zhou, Q. et al. (2020). Learning From Failure: The Role of Recognition and Resilience in Sustainable Employee Development.
• Luthans, F. (2000). Recognition: A Powerful but Often Overlooked Leadership Tool to Improve Employee Performance.
• Coo, C., & Salanova, M. (2018). Mindfulness Can Make Us More Resilient at Work: A Longitudinal Study on the Role of Positive Emotions.
• Kakkar, A. et al. (2023). The Role of Recognition and Positive Feedback in Enhancing Employee Well-being and Performance.
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