Carreira

Liderar sob pressão: entre metas urgentes e equipes exaustas

A corrida por resultados pode corroer a saúde das equipes. Dados recentes mostram como o engajamento despenca no Brasil e por que líderes precisam equilibrar performance com bem, estar.

Série Liderar é …

Liderar nunca foi tarefa simples. E hoje, entre metas urgentes, equipes exaustas e mudanças
aceleradas, a liderança exige muito mais.
Exige consciência, coragem e novas práticas. Esta série questiona modelos ultrapassados,
desconstrói mitos e aponta caminhos para quem acredita que liderar é inspirar e transformar, não
apenas gerenciar. Sempre com foco em provocações e práticas reais que ajudam líderes a inspirar,
desenvolver e sustentar equipes em um mundo em transformação. Cada artigo aborda um aspecto
fundamental da prática de liderar, como engajamento, reconhecimento, cultura e ferramentas,
trazendo referências, dados e experiências para apoiar líderes em sua jornada de desenvolvimento.

Fôlego para novas escaladas

No Brasil, e no mundo, líderes vivem sob a mesma pressão: entregar resultados cada vez mais
rápidos, consistentes e escaláveis. Só que há um efeito colateral perigoso: equipes sobrecarregadas,
clima desgastado e talentos que simplesmente não aguentam a escalada.

Em outras palavras: de que adianta chegar ao topo hoje se, amanhã, não há mais time para
sustentar a conquista, e muito menos para iniciar novas escaladas?

Esse dilema da liderança também ecoa em um provérbio africano que diz:
“Se você quer ir rápido, vá sozinho. Se você quer ir longe, vá acompanhado.”

Na prática, não adianta o líder acelerar sozinho, alcançando resultados momentâneos, se o time não
tiver energia, preparo e confiança para continuar a jornada. A liderança inspiradora não mede apenas
a velocidade da primeira subida, mas a capacidade de manter todos juntos em várias escaladas.

Os números não mentem
Os números não mentem

  • Segundo a pesquisa State of the Global Workplace da Gallup (2024), 69% dos trabalhadores
    no Brasil não estão engajados com seu trabalho (apenas 31% se declararam engajados).
  • A taxa de turnover no país cresceu 56% em relação ao período pré-pandemia, de acordo com
    levantamento da Robert Half (2024) com base em dados do CAGED.
  • Um estudo da Dialog (2024), focado nos setores de Agronegócio e Varejo, mostrou que um
    aumento de 10% no engajamento pode reduzir em até 5,72% os desligamentos mensais em
    determinados setores.
    Além disso, substituir um colaborador pode custar entre 50% e 200% do salário anual, segundo
    estimativas de mercado, como as do Center for American Progress (CAP) e Society for Human
    Resource Management (SHRM)
    . Não é só sobre cultura: é sobre estratégia, sustentabilidade e
    dinheiro.

O paradoxo do líder moderno.

Líderes se veem diante de uma balança: de um lado, a urgência de entregar resultados; do outro, a
necessidade de manter pessoas saudáveis e engajadas.
É nesse equilíbrio, ou na falta dele, que muitas empresas estão definindo seu futuro.

O papel do líder

A pergunta não é mais “como bater a meta”, mas sim:

  • Como alinhar cultura, resultados e pessoas para que um não canibalize o outro?
  • Como criar um ambiente em que as pessoas queiram permanecer e crescer?
  • Como equilibrar disciplina e cuidado, performance e propósito?

Ferramenta prática: Check, in rápido de time

Uma maneira simples de começar a equilibrar pressão e cuidado é implementar check, ins
semanais.
Pergunte à sua equipe:

  1. “De 1 a 5, como você está se sentindo esta semana?”
  2. “Qual é o principal obstáculo que pode atrapalhar seus resultados?

Essas duas perguntas revelam tanto o clima emocional quanto os gargalos operacionais. E o mais importante: mostram que você está presente, atento e disposto a agir.

    Mas atenção: essa ferramenta só funciona quando há espaço real para vulnerabilidade, quando a
    equipe confia que pode falar sem medo de represálias. Ela exige escuta ativa e, acima de tudo, ação.
    Se nada muda depois da resposta, o check, in perde credibilidade e pode até aumentar o cinismo.
    E aqui cabe uma provocação simples: quando você pergunta “Tudo bem com você?” no início do dia,
    é só um cumprimento automático esperando o “sim, tudo bem” de volta? E se a resposta for
    diferente, como você reage? Esse pequeno detalhe já revela o quanto existe, ou não, espaço real para
    vulnerabilidade na sua liderança.
    A provocação é: suas pessoas confiam em você o suficiente para responder com honestidade?

    Para refletir

    No fim das contas, liderar sob pressão não é apenas entregar metas. É criar as condições para que,
    mesmo em meio à corrida, as pessoas continuem com energia, clareza e vontade de caminhar ao seu
    lado.

    A pergunta que fica:

    Você está liderando uma equipe que chega ao topo exausta, ou uma que tem fôlego para sustentar
    conquistas e iniciar novas escaladas?

    Ale Rabin

    Ale Rabin é, acima de tudo, humana. Mãe, ceramista e executiva com mais de 30 anos de experiência em empresas como Loggi, Johnson & Johnson, Yahoo, Vivo e UOL. Atuou em tecnologia, operações, experiência e sucesso do cliente, integrando dados, pessoas e estratégia. Fundadora do TATUdoBEM e cofundadora do Nós, também é conselheira TrendsInnovation, mentora e palestrante. Apaixonada por gente, conecta múltiplos papéis com visão nexialista e multicultural, unindo diversidade de ideias e culturas para gerar impacto real.

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