Carreira

Contratar ou formar? Os desafios de recrutar profissionais de planejamento em cobrança

O dilema entre buscar talentos prontos no mercado ou investir na formação interna

No universo da cobrança, a área de planejamento deixou de ser apenas um apoio operacional para se tornar um dos pilares estratégicos junto às operações. É nesse setor que são analisados dados, modelados cenários e desenhadas estratégias para melhorar a performance de recuperação de crédito. Não à toa, os profissionais de planejamento são cada vez mais disputados e difíceis de encontrar.

Contratar para essa posição envolve uma série de fatores: escassez de talentos qualificados, mudanças no mercado, novas competências exigidas e até mesmo transformações culturais dentro das empresas. Ao mesmo tempo, surge uma questão central: vale mais a pena contratar alguém pronto ou formar profissionais internamente?

O cenário atual: por que está tão difícil contratar?

A área de cobrança vive uma verdadeira revolução. A digitalização, o uso de inteligência artificial e a adoção de canais Omnichannel mudaram completamente o perfil desejado para profissionais de planejamento. Não basta dominar planilhas: é preciso entender de estratégias de segmentação, análise preditiva, integração de dados, do negócio e experiência do cliente.

Entre os principais fatores que dificultam a contratação hoje, pode-se destacar:

  • Escassez de profissionais especializados: poucos candidatos reúnem bagagem técnica em cobrança e, ao mesmo tempo, habilidades analíticas modernas.
  • Alta concorrência entre empresas: bancos, fintechs, BPOs e startups disputam os mesmos talentos.
  • Mudança de perfil das gerações: muitos jovens profissionais buscam flexibilidade, projetos de impacto e crescimento acelerado, o que nem sempre se conecta ao modelo tradicional das operações de cobrança.
  • Expectativa salarial desalinhada: em um mercado aquecido, profissionais experientes pedem salários que muitas empresas não conseguem pagar.
  • Complexidade da função: planejar cobrança exige visão sistêmica, domínio de métricas de performance, noções de estatística e uma postura consultiva para apoiar operações e clientes internos.

Além do cenário macro, há questões muito particulares desse setor que ampliam a dificuldade:

  1. Alta curva de aprendizado: mesmo profissionais vindos de outras áreas de planejamento precisam de tempo para compreender as dinâmicas próprias da cobrança.
  2. Rapidez na entrega de resultados: empresas esperam retorno imediato, mas muitas vezes subestimam a complexidade do processo de adaptação.
  3. Baixa visibilidade da carreira: nem sempre a área de planejamento em cobrança é vista como estratégica fora do setor, o que reduz o interesse de profissionais de outras indústrias.
  4. Exigência de multifuncionalidade: o profissional ideal precisa saber de tecnologia, estatística, operação, negociação e até gestão de pessoas.

Diante dessas dificuldades, surge o dilema: é melhor trazer alguém já pronto do mercado ou investir na formação interna?

Contratar profissionais prontos

Vantagens:

  • Velocidade: o profissional já domina ferramentas e metodologias.
  • Autonomia: tende a entregar resultados mais rápidos.
  • Benchmarking: traz experiências de outras empresas que podem enriquecer a operação.

Desvantagens:

Custo elevado: salários e benefícios acima da média.

  • Risco de adaptação cultural: nem sempre o profissional se ajusta à forma de trabalhar da empresa.
  • Retenção difícil: alta probabilidade de movimentação no mercado.

Formar profissionais internment

Vantagens:

  • Alinhamento cultural: a pessoa já conhece a empresa e seus valores.
  • Custo inicial menor: embora demande tempo, pode ser mais econômico a longo prazo.
  • Retenção: quando bem treinado, o profissional tende a ter maior lealdade.

Desvantagens:

  • Demora na curva de aprendizado: pode levar meses até que o colaborador esteja pronto.
  • Dependência de mentoria: exige líderes preparados para formar.
  • Risco de obsolescência: se o investimento em capacitação não for constante, o profissional fica defasado.

O que fazer e o que não fazer nesse processo?

Para ajudar empresas a navegar nesse desafio, vale destacar alguns pontos de atenção:

O que fazer?

  • Mapear competências essenciais para a função (análise de dados, visão estratégica, entendimento operacional).
  • Criar trilhas de desenvolvimento específicas para a área de planejamento em cobrança.
  • Valorizar a cultura de aprendizado contínuo, promovendo treinamentos, workshops e certificações.
  • Investir em employer branding, mostrando que a área de cobrança é estratégica e inovadora.
  • Adotar processos seletivos claros e objetivos, que testem de fato a capacidade analítica e lógica dos candidatos.

O que não fazer?

  • Não contratar apenas por afinidade ou experiência superficial, é preciso avaliação com profundidade técnica.
  • Não subestimar a curva de aprendizado, esperando resultados imediatos de quem está chegando.
  • Não limitar a busca a perfis tradicionais, diversificar pode ser uma boa alternativa.
  • Não negligenciar a cultura, mesmo o melhor técnico pode fracassar se não se adaptar ao ambiente.

Como as empresas podem superar esses desafios?

A solução passa por uma combinação de estratégia de recrutamento e desenvolvimento interno. Algumas iniciativas que podem fazer a diferença:

  1. Programas de trainees ou academias internas de cobrança: formar profissionais desde o início, com foco em planejamento.
  2. Parcerias com universidades e cursos técnicos: aproximar o mercado acadêmico da prática empresarial.
  3. Uso de tecnologia no processo seletivo: testes gamificados, análises comportamentais e provas de raciocínio lógico.
  4. Cultura de mentoring: líderes de planejamento devem assumir papel ativo na formação de novos talentos.
  5. Reconhecimento e valorização da carreira: mostrar que planejamento em cobrança é estratégico, com perspectivas de crescimento.

O futuro do planejamento em cobrança será definido pela capacidade das empresas de transformar a área em um celeiro de talentos estratégicos. Não adianta apenas reclamar da escassez: é preciso agir, seja atraindo profissionais prontos ou formando novas gerações.

A questão que fica é: sua empresa está preparada para competir pelos poucos talentos disponíveis ou está disposta a construir os seus próprios?

No fim, a escolha não é apenas entre contratar ou formar, é entre ficar refém da falta de profissionais ou assumir o protagonismo na criação de um mercado mais qualificado.

Claudê Sá

Especialista em Cobrança Digital com mais de 27 anos de experiência, tendo atuado em empresas como Banco Itaú, Paschoalotto, Flex Contact Center, Pontaltech e Adimplere. Graduado em Administração, com pós-graduado em Gestão Estratégica de Negócios pela FGV e MBA em Varejo e Mercado de Consumo e Marketing ambos pela ESALQ-USP. More »

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