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Responsabilidade de liderar: o peso e a coragem das escolhas

Liderar não é poder sobre pessoas, é responsabilidade por pessoas.

O mito da liderança como cargo

Muitos ainda confundem liderança com status ou posição hierárquica.
Mas ocupar um cargo não significa, automaticamente, liderar.

-Liderança acontece sempre que temos o poder de influenciar alguém em uma direção.
Isso pode ser no time de trabalho, mas também em casa, na família, no círculo de amigos, na
comunidade.
Liderar não é privilégio de quem tem um título: é um ato cotidiano de influência e responsabilidade.
Cada escolha, cada palavra e cada silêncio moldam o que os outros entendem como permitido,
valorizado ou ignorado

Líder x Liderança

Ser um líder é sobre a pessoa, alguém que ocupa uma posição ou recebe esse título formal ou informalmente.
Já a liderança é maior do que o indivíduo: é um conjunto de atitudes, comportamentos e responsabilidades que influenciam os outros e conduzem a um propósito comum.

-Por isso, nem todo líder exerce liderança de fato.
E, ao mesmo tempo, muitas pessoas que não têm cargo ou título exercem liderança diariamente, ao inspirar, apoiar, orientar ou abrir caminhos para os outros.

O que é liderança (na prática)

No dicionário, liderança é o ato ou a posição de ser um líder, caracterizado pela capacidade de influenciar, guiar e motivar um grupo para atingir um objetivo comum.

Na prática, liderança envolve:
Visão e Inspiração: criar e comunicar uma visão clara e motivadora.
Influência e Motivação: estimular colaboração e desenvolvimento individual e coletivo.
Engajamento e Direção: mobilizar pessoas para lutar por aspirações compartilhadas.
Exemplo: agir de forma responsável, inspirando confiança e comprometimento.

Liderança x Chefia

É importante diferenciar liderança de chefia:
Liderança: capacidade de inspirar e mobilizar, baseada em motivação e engajamento.
Chefia: poder de mando e controle, sustentado por posição formal, e não pela inspiração.

A Chefia está ligada ao modelo de Comando e Controle, que já provamos ser insustentável no trabalho moderno.
Liderar é muito mais do que ocupar um cargo: é assumir responsabilidade pelo impacto das suas atitudes na vida e no trabalho das pessoas.

O que não é vs. o que é responsabilidade de liderar

❌ Não é…✅É…💡Como fazer?
Só cobrar resultadosDar exemploPraticar coerência: alinhar discurso e ação
Centralizar decisõesEmpoderar e desenvolverComunicar o “porquê” e co, construir o “como”
Ignorar o impacto das escolhasReconhecer influência no clima e culturaRefletir “Que mensagens minhas açoes passam ao time?

– Esse quadro mostra que responsabilidade de liderar não está em “cobrar de fora”, mas em agir
pelo exemplo
, desenvolver e assumir impactos.

A metáfora necessária: não dar o peixe, mas ensinar a pescar

Responsabilidade de liderar não é resolver tudo sozinho, nem entregar respostas prontas.

– O papel do líder não é dar o peixe, mas ensinar a pescar.
Isso significa criar condições para que o time se desenvolva, aprenda e conquiste seus próprios resultados.

Valorizar alguém não é apenas entregar soluções, mas dar ferramentas, abrir espaço, oferecer feedback e estimular que cada pessoa evolua.
Quando o líder assume essa postura, transforma responsabilidade em crescimento sustentável, para as pessoas e para a organização.

Ferramenta prática: Reflexão Escrita do Líder

A Auditoria Semanal das Suas Escolhas: O Espelho da Coerência

Uma forma de tornar essa responsabilidade mais clara é adotar a reflexão escrita de liderança: o hábito de escrever reflexões curtas, semanais, sobre suas próprias decisões. Registrar e analisar suas decisões, criando um espaço de autoconsciência e ajudando a perceber incoerências entre discurso e prática.

Como funciona:

  1. Escolha um momento fixo da semana (sexta-feira, por exemplo).
  2. Registre 3 decisões que tomou naquela semana.
  3. Pergunte-se:
    o Quais impactos positivos essas decisões tiveram no meu time?
    o Houve algum efeito negativo não intencional?
    o Se eu pudesse refazer, o que faria diferente?

Essa prática simples cria um espaço de autoconsciência e ajuda a perceber incoerências entre discurso e prática.
Ajuda a transformar o líder em um auditor das suas próprias escolhas, garantindo que a responsabilidade não seja apenas teórica, mas prática e coerente.

Responsabilidade também é vulnerabilidade

Assumir a responsabilidade de liderar não significa ser perfeito ou ter todas as respostas.
Pelo contrário: exige coragem — o tema central do trabalho da pesquisadora e autora Brené Brown.

Líderes responsáveis são aqueles que se permitem ser vulneráveis, serem questionados e transitarem entre diferentes papéis sem perder a essência. Para Brown, a vulnerabilidade não é fraqueza, mas sim a métrica da coragem de liderar de forma autêntica e presente.

– É a mesma lógica que desenvolvi na série Liderança Educadora na Prática:
• Escuta ativa e presença.
• Permitir-se ser questionado e provocado.
• Demonstrar vulnerabilidade.
• Transitar entre papéis conforme a necessidade.

Responsabilidade, aqui, não é peso solitário, é abrir espaço para coautoria e aprendizado mútuo.

Para refletir

Responsabilidade de liderar não é sobre perfeição, mas sobre consciência e coragem.
É reconhecer que cada decisão molda a cultura, impacta a motivação e define o futuro da equipe.

As perguntas que ficam:

  • Você tem coragem de encarar no papel os efeitos das suas próprias decisões?
  • Você se permite ser vulnerável, ser questionado e mudar de papel sem perder sua essência?
  • O que suas escolhas revelam sobre o líder que você está sendo hoje, e sobre o líder que você deseja ser amanhã?

Saiba mais

• Maxwell, J. C. (2007). O livro de ouro da liderança.
• Heifetz, R. & Linsky, M. (2002). Leadership on the Line.
• Brown, B. (2018). A coragem de ser imperfeito.
• Rabin, A. (2025). Série Liderança Educadora na Prática, artigos sobre escuta ativa, vulnerabilidade, permitir-se ser questionado e transitar entre papéis.

Leia também os outros artigos da série Liderar é…

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Ale Rabin

Ale Rabin é, acima de tudo, humana. Mãe, ceramista e executiva com mais de 30 anos de experiência em empresas como Loggi, Johnson & Johnson, Yahoo, Vivo e UOL. Atuou em tecnologia, operações, experiência e sucesso do cliente, integrando dados, pessoas e estratégia. Fundadora do TATUdoBEM e cofundadora do Nós, também é conselheira TrendsInnovation, mentora e palestrante. Apaixonada por gente, conecta múltiplos papéis com visão nexialista e multicultural, unindo diversidade de ideias e culturas para gerar impacto real.

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