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E-mail na cobrança: estratégico e (ainda) subestimado

Há tempos, empresas de cobrança buscam o canal ideal para falar com o cliente. E, quase sempre, o e-mail fica fora do topo da lista de preferências. Mas em um cenário cada vez mais saturado por mensagens instantâneas e ligações que ninguém quer atender, o e-mail ainda guarda um superpoder: ele permite conversar. Simples assim. Sem invadir, sem pressionar, com clareza e respeito.

Ao contrário do que muita gente pensa, o e-mail segue vivo e muito eficiente, desde que usado com inteligência. O segredo está em unir empatia, boa escrita, estrutura técnica e uma estratégia que respeite o momento do cliente.

Mas é claro: ele não funciona no piloto automático. Para gerar resultado de verdade, precisa chegar na caixa de entrada certa, despertar interesse e oferecer soluções reais. Neste artigo, te mostro como isso é possível, algumas práticas e técnicas que funcionam, por fim alguns números para ilustrar o potencial.

Por que o e-mail funciona tão bem?

Porque ele respeita. Dá espaço para o cliente respirar, refletir e agir no tempo dele. E esse detalhe faz toda a diferença quando estamos falando de dívidas, um tema sensível, que envolve culpa, ansiedade e, muitas vezes, vergonha.

O e-mail ainda tem outras vantagens: é barato, escalável, fácil de personalizar e permite criar uma jornada completa de negociação. Ele funciona especialmente bem com clientes que evitam interações mais invasivas.

E mais importante: funciona de verdade!

Veja alguns dados médios alcançados por uma operação digital de cobrança com carteiras com mais de um ano de atraso, sem atendimento humano, utilizando o canal de e-mail com inteligência:

  • Educação: 18,9% de abertura | 7,5% de cliques | 0,23% de cancelamentos
  • Cartão de Crédito: 19,4% de abertura | 7,8% de cliques | 0,26% de cancelamentos
  • Securitizada: 17,4% de abertura | 8,2% de cliques | 0,32% de cancelamentos

Para um canal considerado “frio” por muitos, são números extremamente relevantes e mostram que o segredo está em como se fala, e não só no que se fala.

O desafio: sair do spam e da caixa de promoções

Não adianta criar o melhor conteúdo se ele não chega ao destino certo. Por isso, antes de pensar no texto, é preciso cuidar da entregabilidade.

Aqui entram três siglas técnicas, mas essenciais: SPF, DKIM e DMARC.

Explicando de forma prática:

  • SPF (Sender Policy Framework): autoriza os servidores certos a enviarem e-mails em nome da sua empresa. Ele protege contra fraudes.
  • DKIM (DomainKeys Identified Mail): é uma assinatura digital que prova que o e-mail veio mesmo da sua empresa e não foi adulterado.
  • DMARC (Domain-based Message Authentication, Reporting and Conformance): define o que os servidores devem fazer com e-mails que não passaram nos testes de SPF e DKIM. Ele dá o comando final.

Essas autenticações aumentam a reputação do seu domínio e fazem com que os e-mails sejam entregues com mais segurança. São detalhes técnicos, mas que têm impacto direto na taxa de abertura e nos resultados.

Estratégia: mais que cobrar, é preciso conversar

E aqui está um dos pontos mais importantes: não transforme seu canal de e-mail em uma esteira de cobrança repetitiva. A cobrança, para ser eficiente, precisa se conectar com o momento e o interesse do cliente.

Uma boa prática é intercalar conteúdos de cobrança com mensagens de valor, informações úteis, dicas financeiras, conteúdos educativos ou até mensagens de incentivo.

Esse equilíbrio torna a comunicação mais leve, evita que o cliente se sinta pressionado e ajuda a criar um vínculo mais positivo. Exemplo de sequência:

  1. E-mail 1 – “Vamos conversar?”
    Mensagem amigável com proposta de negociação.
  2. E-mail 2 – “Como organizar as finanças em tempos difíceis”
    Conteúdo educativo, com link para renegociação ao final.
  3. E-mail 3 – “Últimos dias para aproveitar as condições exclusivas”
    Reforço da negociação, mas com tom respeitoso e objetivo.

Essa alternância gera engajamento e reduz rejeições. E mais: o cliente passa a ver sua empresa como parceira, não apenas como cobradora.

A estrutura do e-mail ideal

Um bom e-mail de cobrança segue uma lógica simples:

  • Assunto leve e direto: fuja de “AVISO URGENTE”. Prefira “Temos uma proposta pra você”, ou “Vamos resolver isso juntos?”
  • Abertura empática: “Esperamos que esteja bem. Sabemos que imprevistos acontecem e queremos te ajudar.”
  • Corpo objetivo: explique a pendência com clareza e sem ameaças. Use frases curtas e linguagem acessível.
  • Chamada para ação amigável: “Clique aqui para conhecer suas opções”, “Converse com a gente e encontre a melhor solução”.
  • Fechamento humano: “Estamos à disposição para o que precisar”, “Conte com a gente para resolver isso com tranquilidade”.

Dica extra: evite remetentes genéricos como “cobranca@empresa.com” ou “nadacomnada@vaiquedacerto.com.br” e use nomes reais ou humanizados como “Paula – Especialista em Soluções Financeiras”.

Jornada automatizada: e-mail não é peça única

Para ter resultado, o e-mail precisa fazer parte de uma estratégia automatizada de múltiplos toques, adaptada ao comportamento do cliente.

Algumas possibilidades:

  • Se o cliente abre o e-mail e não clica: enviar novo conteúdo com outra abordagem
  • Se clica e não paga: oferecer a opção de contato humano ou renegociação diferenciada
  • Se ignora tudo: escalar para outro canal (WhatsApp, Telefone, SMS ou RCS)

Contudo, se o cliente responder, aproveite a oportunidade para interagir.

A ideia é transformar o e-mail em umalinha de comunicação viva, que conversa com cada perfil e evolui junto com ele.

O e-mail pode, e deve, fazer parte de uma estratégia moderna e eficaz de cobrança. Ele permite conversar com o cliente de forma respeitosa, oferece personalização, gera dados valiosos e, quando bem-feito, entrega resultado. Será que a sua operação está aproveitando todo potencial desse canal?

Claudê Sá

Especialista em Cobrança Digital com mais de 27 anos de experiência, tendo atuado em empresas como Banco Itaú, Paschoalotto, Flex Contact Center, Pontaltech e Adimplere. Graduado em Administração, com pós-graduado em Gestão Estratégica de Negócios pela FGV e MBA em Varejo e Mercado de Consumo e Marketing ambos pela ESALQ-USP. More »

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